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#169 'The Last of Us' exibe episódio visceral

publicado: 08/03/2023 00h00, última modificação: 28/03/2023 10h38
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Cena do penúltimo capítulo da temporada, ‘Quando Mais Precisamos’. Foto: HBO/Divulgação.

tags: Gi Ismael , The Last of us

por Gi Ismael*

O inverno chegou. E ele veio num episódio intenso, denso e tenso do começo ao fim.

The Last of Us chegou no domingo passado, ao penúltimo capítulo da temporada, intitulado Quando Mais Precisamos, e é sobre ele que comento hoje (ou seja, muitos spoilers a seguir). Joel está com uma infecção grave, Ellie faz o que pode para manter os dois vivos. Ela não o deixaria para trás. Não depois de Riley.

A série televisiva acompanha os diferentes microuniversos e tribos que aparecem no game (em alguns momentos, a adaptação até apresenta umas a mais) e isso vem para reforçar a mensagem de que até no apocalipse zumbi, é dos humanos vivinhos da silva que deveríamos nos preocupar. Neste capítulo somos apresentados àqueles que se agarraram na fé. Assim como a lunática personagem Senhora Carmody do conto O Nevoeiro (1980), de Stephen King, aqui temos David, um homem cujas ideias se assimilam a de supremacistas brancos, um líder religioso tirano, pedófilo, eugenista e, para a cereja no bolo, canibal. Que combo, hein?

Os acontecimentos do capítulo são mais uma página na história de amadurecimento forçado de Ellie. Ela precisa se virar apesar da fome, apesar do frio e da falta de experiência na vida selvagem. O episódio inteiro, entretanto, mostra muito além das habilidades de sobrevivência da garota. Ele aponta as trevas que habitam naquela adolescente, cheia de traumas e que cresceu cercada de violência. Progressivamente mais indócil, Ellie chega a assustar com tamanha raiva e vingança que transbordam. “Você tem um coração violento”, verbalizou David para Ellie. Mas como sobreviver num mundo como aquele sendo uma pessoa isenta de violência?

Quem esperava que a protagonista fosse uma jovem cheia de humor piadas, carinho e inocência, têm as expectativas quebradas nesse capítulo. Essa saída do desfecho óbvio é, inclusive, um dos pontos mais fortes do roteiro a cada episódio (e vem na medida). No penúltimo episódio, além de conhecer a Ellie “carniceira”, temos Joel recuperado e claramente acostumado a torturar e matar. E logo vem outra quebra de expectativa: ao longo da recuperação do contrabandista, esperamos o tempo todo que ele chegue para salvar Ellie como o salvador resgata a donzela em perigo nos livros de romance e fantasia. E isso nunca chega a acontecer. Na verdade, ela o salva o tempo todo no rigoroso inverno.

Ellie é uma sobrevivente — e seria bastante difícil continuar viva num mundo desses sem a violência. Tanto que o que a salva no momento onde sua vida mais ficou por um fio, foi justamente a violência extrema para combater uma situação de violência. Ela estava encurralada por um fanático religioso com síndrome de Messias, um canibal pedófilo. De uma forma ou de outra, ela estaria perdida. Um golpe para matar. Outros 20 para extravasar.

A cena da perseguição de David a Ellie no restaurante em chamas é uma das mais tensas do primeiro jogo. A série capta bem isso, além da figura grotesca que é o canibal. Mudando apenas o momento em que Joel e Ellie se reencontram, quando eles se abraçam, Joel volta a chamar alguém de “garotinha” após 20 anos da morte de sua filha.

E vamos de easter egg para os gamers? Troy Edward Baker, o ator que interpreta Joel no jogo, aparece no episódio como um personagem bem relevante na trama. Ele é o seguidor que começa a se tornar cético e no final do episódio é quase decapitado por Ellie. E fica mais um outro brinde para nós no último episódio,  exibido no próximo domingo na HBO: Ashley Johnson, a atriz que dubla Ellie no game, terá uma participação no episódio final da temporada: Ela será Anna Williams, mãe de Ellie.

Ah, e fica a dica: o episódio final da temporada vai ao ar mais cedo no domingo (dia 12), às 22h.

*Coluna publicada originalmente no edição impressa de 8 de março de 2023.