Temos uma boa notícia a mais dentro do esforço de preservação dos postais simbólicos e históricos da cidade, nesta fase alvissareira de governo do estado e de sua capital: o Pavilhão do Chá vai ser restaurado. Aos que passam por lá e querem bem à cidade (e param para admirá-la), não deixa de ser um bom auspício.
Não é a primeira vez que tal acontece. Não faz tempo, na gestão de Luciano Cartaxo, além do grande feito, ansiosamente acompanhado, que foi a restituição do Parque Solon de Lucena ao lazer e à recomendação do visitante, recordo que tanto a Praça Venâncio Neiva como o Pavilhão voltaram a retomar seu lugar no postal que sempre compôs as nossas peculiaridades de beleza urbana, paisagística e ambiental.
Da torre da TV Cabo Branco ou do “Dezoito andar” de uma esplanada da nossa General Osório, as vistas pedem asas à imaginação. Num dos álbuns com que Tarcísio Burity coroou seu amor à cidade, editado pela Bloch em 1991, Alvimar Rodrigues, o poeta editor, a tudo avista, na abertura do livro, num “Voo de pássaro: E ainda hoje, suaves, azuis, aladas figuras roçam por azo das asas”. Suba a qualquer torre, olhe de cima, e desça refeito, venha respirar calor humano cá embaixo.
Jorge Rezende diz que tenho boa memória. Para essas coisas, sim, sou atento a elas. Se são dosadas de sentimento, vão além das nossas vidas.
O Pavilhão, estou bem lembrado, passou por reparos e limpeza, salvo engano, com a participação do mesmo simpático secretário Thiago Lucena de hoje, e ficou dependendo de condições de segurança para ser ocupado, além de impasse entre o projeto de Luciano e a orientação ou as normas do Iphaep ou do Iphan. Fui lá, sentei entre duas prostitutas, falei do passado, e dias depois cheguei a ser homenageado, numa manhã de sábado, já na gestão de Cícero.
O problema é a segurança a exigir paredes de aço entre as colunas quando nem de vidro consentiam. Ponha-se vidro e contorne-se a calçada com um gradil alto em estilo contemporâneo ao pavilhão. Se querem uma sugestão, vejam a beleza de gradil do palacete de João Úrsulo ou de Odilon Ribeiro Coutinho, na João Machado. Um gradil artístico certamente de mais altura.
Sorveteria? Choperia? Café? Seja o que for, depende da qualidade. Há quem pense num espaço bem aberto a exposições, seja lá de que for, situado na biqueira dos Três Poderes do Estado e mais a Câmara de Vereadores.
A cidade antiga — reconheça-se — não tem sido descurada nestes últimos anos. Passada a fase de Burity, quando se formou uma equipe especializada de restauradores monitorada por uma secretaria específica, os cuidados foram retomados a partir de José Maranhão, quando meio mundo se empenhou no restauro e na pesquisa da igreja de São Pedro Gonçalves. Veio Cícero agora e retomou esse projeto, reabrindo e dando novo uso ao convento. Em gestão anterior, reativou um núcleo inteiro da Silva Jardim a se salvar com a B. Rohan. Tambiá, morada da antiga elite, ganha um shopping popular a revascularizar todo o antigo bairro. O Terceirão é hoje o único fervedouro comercial das duas ruas mais centrais.
Vem João Azevedo numa disposição inédita até agora em converter a memória histórica em museu. Aprontou e abriu o Museu da Cidade, com a casa do presidente João Pessoa, está fazendo do velho Palácio o mais belo e imponente de todos, o do Estado, e conclui a restauração do antigo prédio do Tesouro, além de outras iniciativas do gênero que já mereciam uma publicação autônoma destinada ao visitante. Não é de graça que a iniciativa particular, assim estimulada, associou-se ao velho projeto de preservação de São Francisco.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 31 de agosto de 2025.