Com ampla foto no alto da 1ª página, A União da última quarta-feira não demorou mais que um fechar de olhos para me situar diante de outra foto, esta em preto e branco, publicada no mesmo jornal, há exatos 70 anos, como um sonho que a fotografia de agora recolhe em jubilosa realidade. A foto de hoje: uma plêiade de professores chamados ao palco para a aclamação de professor emérito dos que concorrem com eles, seus pares do magistério.
A 12 de dezembro de 1955, a Paraíba rompia o conformismo-ambiente e fundava a Universidade de que se sentia capacitada desde a primeira Constituinte, quando um Carneiro da Cunha, nosso representante no parlamento, entre as propostas de outras províncias que defendiam a sede da instituição fora do alvoroço do Império, propõe a capital da Paraíba, a terceira mais antiga do país, como ambiente ideal para o cultivo acadêmico. Século e meio depois, entre os argumentos do fundador da UFPB, vamos encontrar quase as mesmas palavras: “Oferece a cidade o seu ar acolhedor, mais vegetal do que urbano, para a vida do espírito. E um ambiente discreto em que o estudante se sente melhor na escola do que na rua” — é do discurso da instalação, numa manhã ensolarada de dezembro, o sobrado do Conselheiro na Duque de Caxias como o palco histórico, embora ainda sem a inscrição valiosa.
Como sou grato aos céus por esta velhice de tantos testemunhos!
Não me lembro bem quem foi, se Ulisses Barbosa, na mais generosa das entrevista para a “Memória da cidade”, iniciativa editorial da Prefeitura coordenada por Fernando Moura; se Ana Cláudia Córdula ou Elisa Damante Ângelo para as suas teses de mestrado... Não sei quem, de supetão, me indagou: “Qual, a seu ver, o momento mais importante da Paraíba?”. Muita coisa continuava rodando no meu filme, nalgumas delas atuando como repórter: o Hospital Laureano, a BR-230 e o Anel do Brejo numa empreitada governamental inédita de infraestrutura básica; a mudança radical imposta pela Sudene na cabeça dos gestores públicos, inovando ou revolucionando a formulação dos nossos projetos de repercussão econômica e, recorrendo a um sopro de Ângela Bezerra de Castro, a transformação dos quadros e da paisagem cultural do meio a partir do ato criador da nossa Universidade, no 12 de dezembro de 1955.
Não é um testemunho de ouvir dizer ou de simples leitura: vi a banda passar, o legendário José Américo à frente, e, sem saber a que ia, filiei-me a ela. Larguei a porta da delegacia, onde passava uma chuva, e me enfiei entre José Rafael e Nominando Diniz sem atinar jamais que entrava naqueles raros ajuntamentos que terminam como quadro de Pedro Américo ou estampa histórica. O repórter-fotográfico Rafael Mororó, da intimidade com o poder, falou-me como coisa do dia a dia: “Vai ser a instalação da Universidade, criada na semana passada, tendo o sobrado velho como reitoria”. Era tanta novidade naquele fim de governo que uma a mais não fazia muita diferença.
E como faz, hoje! Com a Universidade, passamos a pensar e a viver dos nossos saberes. Por mais que me sinta estranho ao crescimento exacerbado de hoje, por mais que me anule no novo agrupamento, a mudança vem de meus filhos, dos de sua idade ou geração, frutos da Universidade que o saber preconceituoso da metrópole (leia-se Austregésilo de Ataíde, presidente da ABL) classificou, naquela hora para muitos incerta , de “caixa prego”.
Houve tempo em que se dispunha de uma linguagem para assinalar esses eventos, a linguagem épica das armas e barões.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 14 de dezembro de 2025.