Notícias

Augusto no tamanho do Brasil

publicado: 11/08/2025 08h25, última modificação: 11/08/2025 08h25

por Gonzaga Rodrigues*

No exercício da presidência da APL, substituindo Juarez Farias, dispus-me a reordenar o memorial que Luiz Augusto Crispim dedicara a Augusto dos Anjos. Falei aos confrades e, com duas ou três exceções, foi o mesmo que falar às paredes. Todos ouviram, assentiram em silenciosa boa vontade e, de costas para o que se pudesse fazer, foram cuidar de sua literatura pessoal. Nada mal.

Os sócios pagavam, naquele tempo, R$ 20 de mensalidade (não estávamos no tempo dos réis, anterior ao cruzeiro de Getúlio, é bom que se diga.) Subi, então, para R$ 50 e ouvi protestos de que estava raiando o absurdo inédito ao decretar um aumento de 150%. Esse absurdo, se todos pagassem em dia, daria uma receita próxima dos R$ 2 mil mensais, insuficiente para pagar o mínimo à bibliotecária, à diretora do expediente e a gratificação do zelador.

O Estado, que colabora com a Academia desde a fundação, escondeu o leite nesses meus dias. Tendo de apelar ao governo, dele todo eu só conhecia o governador Ricardo Coutinho. Não era fácil chegar até ele, a não ser pela via do orçamento solidário, no qual, seguramente, a Academia não se enquadraria.

Fazer o quê? Com quem contar, além da força de ânimo de Ângela Bezerra de Castro e de Maria das Graças Santiago, que me chegavam com ideias, sugestões, solidárias?!

Ah, sim! Com os amigos, pelados como eu, construtores sem dinheiro das obras mais duráveis desta vida: as da paixão, da construção espiritual, muitas delas sutis como o ar que transpira a flor. Estavam lá, dando-me força, Milton Nóbrega, Juca Pontes, Chico Pereira, Flávio Tavares (ainda não acadêmico), Diógenes Chaves, sem esquecer os três excelentes e mal pagos funcionários.

 Sem saber de onde vinha o dinheiro (ou mesmo se vinha), amarramos as camisas na restauração do acervo de fotos, uma por uma, na ambientação a mais singela, nos suportes de livros e documentos, tudo na esperança de sensibilizar o Estado, que, pelo secretário de Educação, não via como aplicar dinheiro da Educação em Cultura. Nisso, vem o Sinduscon de Irenaldo Quintans valendo-nos com R$ 5 mil. Daí, deslocamos a presidência para um compartimento lá atrás, cedendo o espaço de parede inteira ao painel de abertura alegórica vertida genialmente do “Eu” de Augusto para a grande tela de Flávio.

Grato, ainda, pelos que me ajudaram, repasso esse momento ao saber agora, e ver com pura e indisfarçável alegria o quadro — não apenas que se pinta, mas o que se anuncia para esses próximos 20 dias — com o governador João Azevêdo na Academia a autorizar a construção do memorial da Paraíba a Augusto dos Anjos. Será menos uma ambição paraibana do que a manifestada pelo brasileiros que, por duas ou três gerações, iguais a Gilberto Freyre, continuam perguntando, como ele perguntou a Zé Lins 100 anos atrás, tentando abarcar com os olhos um colosso em granito erguido a um dos nossos generais: “E, para Augusto dos Anjos, o que vocês fizeram?”.

Bom, a API e a APL ergueram um busto que está na Lagoa, a gente vendo a hora fazerem com ele o que foi feito com o de Camilo de Holanda, na Balaustrada das Trincheiras; Damião Ramos, sob as graças da Energisa, empresa leopoldinense, plantou-o de corpo inteiro na entrada da Academia. E, graças a João Azevêdo Lins, vai ser anunciada, afinal, a ordem de serviço desta vez com a mão da literatura brasileira e o coro universal dos pioneiros da consagração do poeta, provindos do povo. 

*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 10 de agosto de 2025.