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João Batista Simões

publicado: 22/09/2025 08h32, última modificação: 22/09/2025 08h32

por Gonzaga Rodrigues*

Não, o corredor não é o mesmo nem a porta que dava para a diretoria de João Batista Simões. Corredor por onde transparecia a esperança angustiada dos que se valiam e se valem como a última crença, a que vem do Hospital Laureano. Acesso que incorporei aos meus cuidados desde a campanha que comoveu o Brasil com o mártir ainda na cruz, nas últimas doses de fel da doença.

 Eu dava meus primeiros passos, jovem recém-chegado a João Pessoa, enfileirando-me à campanha da qual o repórter--fotográfico Rafael Mororó, meu colega de A União, era um baluarte. A cidade comovida, tangida pelo rádio e pela sua Câmara de Vereadores, saía em procissões a exigir do governo e de todas as classes a conversão em hospital da flama viva do grande combatente Napoleão Laureano. Sandoval Caju — quem se lembra? —, locutor da Tabajara, conduzindo em tom dramático a campanha. Malaquias Batista Filho, estudante de Medicina, editorialista de A União, mantendo assiduamente o noticiário local e da campanha do Rio, deflagrada por Assis Chateaubriand para a adesão do país.

Doze anos depois, internado no hospital vizinho, o Clementino Fraga, sou levado ao Laureano para o benefício de uma tomografia, serviço de que o hospital dos tuberculosos ainda não dispunha. Isolado a um canto, para não contaminar, aparece-me Telê, não sei se estagiário, que abrevia meu atendimento. Mais jovem do que eu, conhecemo-
-nos no mesmo barco, ele repórter esportivo. Irmana-se aí uma relação solidária que não conheceu recesso, seguida de sua participação nos destinos do Laureano. Do êxito do consultório médico, é levado à entidade, uma fundação liderada pelo deputado Janduhy Carneiro e que encontra em Simões um abnegado, sob o testemunho de duas gerações de funcionários e de beneficiários. Mais de quarenta anos como servidor em tempo integral de um hospital que a demanda obriga a crescer, ao lado dos fundadores, representados pelo incansável Carneiro Arnaud.

Agora, com o olhar a medir os degraus e as passadas, chego inseguro para ver Simões pela última vez, desta feita rendido entre cravos brancos de cheiro morno, as mãos inermes a contrastar com o vinco voluntarioso mantido pelo queixo, uns restos de vida ativa nos lábios contraídos.

Quantas vezes, a seu lado, percorri aquelas salas repletas de pacientes a exigir espaço e cura? De uma delas, levei um tio do meu coração que temia perder o que julgava principal para um homem, mais do que a vida, pai de 23 filhos, e que foi devolvido por Julet, grande urologista, sem o menor prejuízo.

Nas minhas visitas, Telê não municiava apenas as minhas obrigações de jornalista com a instituição. Numa delas fez-me sentir homem público, adiantando-me em primeira mão a quebra do acelerador linear, aparelho de radioterapia para destruir tumores e células. Eu tinha acesso fácil ao governador Burity e sabia de suas prontas decisões. Corri a ele, já no fim do expediente, e fui imediatamente autorizado a voltar a Simões para a reunião com o governador na manhã seguinte. Resultado: para minha vaidade, ganhei meu nome entre os merecedores de uma placa numa das salas do Laureano. O hospital cresceu muito e já não sei onde se encontra esse testemunho de minha parte numa grande ação. 

*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 21 de setembro de 2025.