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O grande Sivuca

publicado: 16/10/2023 11h30, última modificação: 16/10/2023 11h30

por Gonzaga Rodrigues*

Vim ver quem era Sivuca na casa de Nathanael Alves. Ele voltara dos Estados Unidos, onde havia experimentado a fama internacional, e viera matar a saudade de sua Itabaiana na casa de Félix Galdino, vizinhos de sítio. Félix era vizinho de Nathanael, aqui em Tambauzinho, e como era lá que nos reuníamos todos os sábados à noite, arrastamos Sivuca para o nosso papo. Um papo que não se repetirá mais neste mundo. Como se vê, eram Nathanael, Ednaldo do Egito, José Souto, ás vezes Durval Leal, e o Félix já citado, todos na comissão de recepção da então última turnê de Sivuca.

Quem também vez por outra estava conosco era Waldemar José Solha. Naquela época, em fins dos anos 1970, Solha já era o mais universal de nossos intelectuais, depois se consagrando o multiartista que tanto nos orgulha, premiado em todo o país.

Mas voltando a Sivuca, foi ali que senti a verdadeira grandeza de Severino Dias, não pelo  acordeão, que todos conhecíamos, mas revelando o grande homem que era ele, aumentado pelos olhos do mundo, mas mantendo-se em seu tamanho original.

"São raras as figuras que suportam esse aumento, que se convertem em celebridade sem ficar besta"
Gonzaga Rodrigues

São raras as figuras que suportam esse aumento, que se convertem em celebridade sem ficar besta. Imaginávamos que ali Sivuca fosse reencenar sua vivência com os grandes palcos do mundo, o modo como dirigiu musicalmente Miriam Makeba ou como se sentiu, a exemplo de Segóvia com o seu violão, converter em clássico um instrumento de tradição folclórica mundialmente popular?!

Não, não foi esse tipo de conversa que ouvimos do genial visitante, mas, isto sim, como pôde ele viver em Nova York sem deixar de matar a sede puxada por uma boa trincha de carne de sol e um bom pedaço de rapadura. Nova York tinha a sua feira, descoberta por ele, com quase as mesmas coisas de Itabaiana. Não saiu perto de nós um só instante. Não fez notar nenhuma diferença ao retornar ao nosso convívio. Nenhuma diferença entre Sivuca parceiro de Makeba, de Chico Buarque, e Sivuca moleque de nove anos com o fereiro Félix Galdino. Nós é que podíamos vê-lo grande, muito grande, sem que ele, necessariamente,  nunca nos visse pequenos. 

É pena que eu não tenha a familiaridade que Solha e Sérgio de Castro Pinto têm com as redes sociais para poder tornar redivivas estas conversas com os poucos que ainda permanecemos por aqui.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 15 de outubro de 2023.