Algumas coisas que, a meu pensar, poderiam ter bom futuro na Paraíba, os minérios, por exemplo. Fala-se muito do algodão que, com o gado, encontrou na campina extensa que deu nome à grande cidade o maior centro brasileiro de comercialização do produto. Os teares ingleses não viam distância, como os americanos na era da agave.
Mas Campina não só foi isso.
Perto de mim, na mesma carteira escolar, convivi com Paulo Dantas. Era filho ou sobrinho de Silveira Dantas, dos Dantas de Teixeira, grande intermediário dos minérios da Paraíba com o comércio importador.
Vizinha ao colégio, uma placa de metal com letras góticas chamava para Wilson, Sons & Cia. E nas conversas dos cafés, do Beco 31 e da sorveteria associavam a eleição de Plínio Lemos a suas ligações com os coronéis do setor de minérios. E há discursos dele nos anais da Câmara em defesa dos médios e pequenos mineradores.
Onde se esconde, hoje, essa riqueza? Ou nunca houve?
No governo de Ivan Bichara, com planejamento confiado a um seu conterrâneo de Cajazeiras, Francisco Sales Cartaxo Rolim, apostou-se nas possibilidades minerais da Paraíba. De simples departamento, o setor passou a secretaria de estado. Eu mesmo subi a serra do Cuité para ouvir expressões do povo sobre o seu meio de vida principal, o minério extraído a unha. Ivan Bichara visava colocar nessas mãos instrumentos menos torturantes.
E passou. Nunca mais ouvi palavras de ênfase a uma atividade que poderia empregar cinco ou mais vezes os 8 mil garimpeiros dos últimos registros de minha leitura. Salvo o que se diz à boca pequena das incursões misteriosas no estranho reino das turmalinas.
Numa das travessias pelo Seridó, vindo de Caicó, onde eu fora deixar, há anos, o filho Fabiano Gonzaga, nesse tempo aspirante do Exército como dentista, a noite faiscava de raios a iluminarem intensamente a malacacheta da estrada. A meu lado vinha um velho senhor que me corrigiu quando estranhei raio sem chuva nem trovão: “Esse raio aí não vem de graça, nem de nenhuma chuva, meu amigo. Aqui, a pedraria é que atrai o raio. Eles vêm à força da scheelita incrustada no tabuleiro seco”.
- Sua graça, por favor...
- Ildefonso, de Cubati, às suas ordens.
Pé na alpercata, surrado de vestes, o velhinho não aparentava saber tanto. E mais ainda: saber dizer.
Não sei, hoje, como anda essa riqueza potencial do nosso semiárido. Como não falam nem leio até onde prosperou a antiga secretaria. Sei que, num dos gabinetes da antiga Camargo Correia, onde fui entrevistar, no seu tempo, o doutor João Agripino, cravei os olhos num mármore de raias negras no saguão de acesso.
“Não é mármore não, negro, você parece não vir da Paraíba. Isto é granito paraibano, uma das nossas riquezas encobertas”.
Como fui deixado para traz, na linguagem e no instrumental, pelos novos meios de informação, é possível que o sonho de Ivan Bichara tenha prosperado, prossiga cavando fundo, e eu não saiba.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 16 de julho de 2023.