Joana Belarmino
Ontem pela manhã, fui à Reitoria da UFPB, em missão pedagógica do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo, na companhia do meu colega professor Pedro Nunes. Ali chegados, constatamos que não poderíamos levar a cabo a nossa missão. Todos os gabinetes da Reitoria estavam fechados, e, na entrada principal, achavam-se reunidos dezenas de estudantes, professores, representantes dos Direitos Humanos e diretores de centros.
O processo, que já poderia ter se encaminhado para uma solução pacífica, tende a radicalizar-se. Era o sétimo dia da greve de fome de quatro estudantes, acorrentados em defesa de moradia e alimentação para os estudantes do interior, além de outras reivindicações. A ocupação do prédio da Reitoria era ao mesmo tempo, um gesto de solidariedade, de manutenção de uma vigília permanente ao lado dos estudantes em greve de fome. Era também uma tentativa para acelerar uma solução vitoriosa para as suas reivindicações.
Diria que estamos vivendo uma das semanas mais longas de tensão dentro da universidade, e que pode ter consequências nefastas, caso fracasse o estatuto do diálogo, da negociação, caso seja inviabilizada, pela prerrogativa da judicialização, a instância do entendimento, tão indispensável nos dias que correm.
A luta estudantil sempre foi uma constante no âmbito da academia. Os movimentos estudantis participaram vivamente da luta contra a ditadura militar, em favor das eleições diretas, assim como pelo impedimento do ex-presidente Collor de Melo. Internamente, em cada universidade, estudantes organizam-se por melhores condições de ensino, ou mesmo em defesa de outras causas, legítimas, no círculo do debate universitário.
Aqueles que decidem pela greve de fome, nunca estão brincando. Apostam no gesto como um último grito de alerta, a fim de que suas reivindicações sejam ouvidas. É um modo dramático de se fazer avançar o relógio das negociações, de se apressar a chegada do último minuto, aquele primeiro minuto de um fim pacífico, aquele minuto em que se recomeça de novo, com diálogo e com providências para que se recupere a normalidade, os dias de aulas, os dias de trabalho nas instâncias de gestão.
A expansão universitária levada a cabo no país, nos últimos dez anos, calcada sobretudo na criação de novos cursos, e consequentemente na ampliação das vagas, tem colocado a nu, as perversas condições do gerenciamento de um cotidiano formado por uma superpopulação universitária, com orçamentos cada vez mais minguados. Os problemas explodem na qualidade das salas de aulas, dos laboratórios, e, no caso particular, na assistência estudantil, sobretudo para os estudantes vindos do interior do Estado e de outras regiões.
A ocupação da Reitoria da UFPB, não deve ser tratada como um ato de rebeldia, ou mesmo como um ato de disputa política. Essa ocupação envolve problemas reais, que devem agora estar na agenda de toda a comunidade universitária, problemas que pedem aos gestores, pressa numa solução fundada no diálogo e em prol da harmonia dentro do campus 1.
Para além das reivindicações, temos estudantes muito debilitados, entregando seu sacrifício para que haja vitória em favor de todos. Que os leitores da coluna possam dizer, ao final da mesma, que esta notícia é velha, que a semana mais longa da UFPB já chegou ao seu término.