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Os erros de Moro

publicado: 20/04/2016 17h24, última modificação: 21/04/2016 09h06
Publicado na edição de 06.04.2016


Joana Belarmino

Há que se ter paciência, capacidade de pesquisa e persistência para que se possa compreender a complexidade da operação Lava Jato e a difícil situação econômico financeira à qual vem submetendo o país nos últimos dois anos. Não se pode entender a profundidade da operação por via do noticiário factual espetacular, tampouco a partir da guerrilha de narrativas deflagrada diariamente nas redes sociais, a qual demoniza ou santifica o magistrado de primeira instância do Paraná, Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato.

Os blogs de esquerda têm dado um contributo importante às denúncias que cercam a operação. Jânio de Freitas, prestigiado colunista da Folha de São Paulo, tem denunciado com veemência o caráter eminentemente político da Lava Jato, ocupada em criminalizar o Partido dos Trabalhadores, escudada na ideia do combate à corrupção instalada no país a partir do primeiro governo Lula.

Surpreendentemente, a Folha de São Paulo do último domingo, em longa reportagem multimidiática, com diversos materiais paralelos, denuncia fatos que vinham sendo apresentados por advogados de defesa: A Lava Jato foi construída, desde a sua origem, sob os alicerces da ilegalidade. A sanha investigativa do juiz Moro desconsidera preceitos constitucionais, ignora hierarquias processuais e incorre em desrespeito a direitos humanos fundamentais, na busca por delações premiadas e constituição de provas para a tese defendida: A quadrilha petista e a necessidade do seu extermínio.

Li a matéria a partir do blog Tijolaço, em http://www.tijolaco.com.br/blog/lava-jato-ilegal-desde-origem-materia-devastadora-do-uol/e pensei em pelo menos duas questões a serem discutidas a partir da publicação: A esperteza do juiz Moro, e o seu açodamento, duas condutas inconciliáveis, e que poderão decretar a morte da Lava Jato.

O juiz Moro foi esperto, tomou sob sua responsabilidade, um crime aparentemente comum, ocorrido em Londrina, que, a partir de grampos ilegais, revelou relações explícitas e ilícitas entre dois grandes personagens da investigação, o político do PP, José Janene, já falecido, e o doleiro Albert Youssef. Conforme denuncia a reportagem da Folha, “Documentos obtidos pelo UOL apontam indícios da existência de uma prova ilegal no embrião da operação, manobras para manter a competência na 13ª Vara Federal de Curitiba, do juiz Sérgio Moro, e até pressão sobre prisioneiros”.

O plano de Moro é simples e previsível. Escudado pelo mote do combate à corrupção, e tendo como forte aliado a mídia comercial privada, o juiz lança mão de expedientes conhecidos: Conduções coercitivas, prisões preventivas renovadas de acordo com a conveniência do juiz, e o fim desejado, as delações premiadas. O vazamento seletivo é o pivô do sucesso da operação que já se prolonga por mais de oito anos.

O novo herói das elites parece ter pressa e seguidamente age com açodamento, veja-se o caso da divulgação dos grampos telefônicos envolvendo a presidente Dilma e o presidente Lula. A árvore de Moro pode ruir, e sua queda poderá se dar pela forte dose de veneno que ele próprio emprega, a fim de fazer valer a sua tese, cimentada em provas frágeis, cercadas de ilegalidade.

A mão firme de Moro, sua determinação em cometer ilegalidades, parece sugerir algo ainda mais devastador. Moro pode ser somente um dos agentes do capital internacional, interferindo na geopolítica em que o polo dos Brics venha a ser desestabilizado. Mas esse é tema para uma próxima coluna.