Notícias

Elo da perpetuidade

publicado: 20/04/2016 18h00, última modificação: 21/04/2016 09h41
Publicado na edição de 13.03.2016


Martinho Moreira Franco

A ideia era dedicar a coluna de quinta-feira passada aos 36 anos da morte de José Américo de Almeida. A data foi lembrada pela fundação que tem o seu nome com uma missa celebrada às 10h da manhã no solar da Avenida Cabo Branco, 3.316. Fiquei em falta comigo mesmo: nem dediquei a coluna (“Subindo por onde se desce”) ao acontecimento, nem compareci ao ofício religioso que reverenciou a memória do Solitário de Tambaú. Mas reverenciar a memória de José Américo não tem data nem hora. Até porque o seu legado à literatura e à política - atividades em que brilhou como paraibano de renome nacional - tem o selo da perpetuidade, expressão que cunhou ao dar asas à Universidade da Paraíba, por ele criada em 1955. Ou não são perpétuas as sentenças que cunhou ao longo da sua vida como homem de pensamento e de ação? Rememoremos algumas neste momento em que um brasileiro da sua estirpe tanta falta faz ao país:

“O Congresso goza de imunidade para ter inciativa e para as críticas. A representação merece esse privilégio. O que repugna é a demagogia, por sua insinceridade e seus venenos.”

“O objetivo da imprensa, como do rádio e da televisão, é informar e comentar esclarecendo. O espírito público equilibra-se nessa corrente de divulgação e poderá atingir a unidade, se não for ludibriado. Sendo controlado, o jornal desorienta, em vez de educar e organizar a opinião. O que se condena é o excesso de linguagem, é a falsidade, é a parcialidade ilícita.”

“O segredo de administrar é não preterir as responsabilidades funcionais para satisfazer amigos; é preferível sacrificar as amizades a sacrificar o interesse público.”

“É preciso estar blindado para o conflito de apetites materiais e das ambições insaciáveis. Administrar é sempre contrariar.”

“Preocupa-me, ante de tudo, o saneamento administrativo. Só se pode construir em terreno limpo”.

“Ocupando posições, nunca aceitei presentes de valor. Só recebi como presente caro um relógio de ouro, deixado em minha casa por um grupo de amigos, dos mais íntimos. Encontrando-se um deles em dificuldade de vida, devolvi-o.”

“Chateaubriand levou muito tempo a oferecer-me um carro, quando me viu, saído do ministério, andando de táxi ou ônibus. Não aceitei”

“Ao deixar o governo do Estado, em 55, tentaram ainda dar-me uma condução, que recusei.”

“A melhor nota dada pela minha primeira professora foi essa: ‘Nunca mentiu’. Saudando-a, numa festa que lhe fizeram, eu lhe disse: ‘Minha querida professora, continue a ter confiança em mim, porque só mentirei quando for necessário. Como os santos”.

“Andar é tudo que faço/ Nesta praia, nesta areia./E depois olhar meu traço/ Até vir a maré cheia./ (Para concluir): Já escrevi minha história/ Já fui trunfo, já fui astro/ E hoje minha trajetória/ É simplesmente esse rastro.”