Martinho Moreira Franco
Não surpreendeu a forma carinhosa com que Patos se despediu, quarta-feira passada, de Múcio Sátyro. Que se poderia esperar da cidade à qual ele dedicou tanto carinho durante a sua vida pública? Eu não vi, mas me contaram: desde o momento em que o esquife com o corpo de Múcio, vindo de João Pessoa, chegou à mansão da família Sátyro, no final da tarde de terça-feira, as manifestações de estima e afeto se sucederam em clima de emoção que permeou a madrugada e se estendeu ao dia seguinte. Manifestações não apenas de familiares, parentes, amigos e conhecidos, mas também de anônimos. Pessoas humildes que se expressavam com palavras de gratidão, tanto no velório como ao logo do cortejo e durante o sepultamento, no cemitério São Miguel:
- Doutor Múcio foi um pai pra mim.
- Se não fosse o deputado, a gente não tinha hoje a casinha onde mora.
- Deixou a política faz vinte anos, mas nunca abandonou Patos.
É verdade. Militante político por vocação inspirada na linhagem familiar, Múcio elegeu-se pela primeira vez deputado estadual, em 1970, com votação consagradora. Vá lá, era sobrinho de Ernani Sátyro, expoente da estirpe patoense e, na época, todo poderoso na Paraíba devido à indicação, pelo regime militar, para governar o Estado. Só que, em vez de aproveitar-se da circunstância, por ser “sobrinho do homem”, para obter possíveis regalias e privilégios, Múcio decidiu que seu mandato se voltaria, prioritariamente, para a defesa dos interesses de Patos. Contou, claro, com o aval conterrâneo e consanguíneo de Ernani. Preservou a decisão por quatro legislaturas consecutivas, sendo inúmeros os benefícios que levou para Patos, não caberia aqui enumerá-los. Mas tanto cumpriu plenamente a decisão que a cidade lhe prestou a impressionante e tocante homenagem no seu último adeus. Com o declarado reconhecimento até dos seus mais ferrenhos adversários políticos.
Da minha parte, peço licença ao leitor para uma menção de cunho bem pessoal: Múcio era meu concunhado e, como tal, nos tornamos tios de sobrinhos que são primos em primeiro grau. Nessa convivência em parentesco, virou bordão a troca de cumprimentos que marcava nossos encontros familiares: eu o chamava de “Careca”; ele me tratava por “Morengueira”, sublinhando o tratamento com a sua característica risada estabanada,
Ah, como aquela risada estabanada do Careca ficará gravada para sempre na memória deste seu amigo Morengueira!