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O estigma de um beco

publicado: 20/04/2016 17h46, última modificação: 21/04/2016 09h42
Publicado na edição de 28.02.2016


Martinho Moreira Franco

Pra que danado Ipojuca Pontes, em entrevista à coluna de Goretti Zenaide, foi se referir ao “Beco do Necrotério”? Causou alvoroço entre leitores das novas gerações, desacostumadas a becos e, ainda mais, a necrotérios. A menção consta na edição de domingo retrasado deste jornal (quem perdeu a leitura, não sabe o que perdeu...). Nela, o entrevistado diz que frequentou o endereço em minha companhia. É verdade. Frequentamos, sim, o “Beco do Necrotério”, mais precisamente o salão no qual funcionava o bar e restaurante de Rosa, conforme citado na entrevista. E não apenas eu e Ipojuca. Eram nossos habituais parceiros Noaldo Dantas, Biu Ramos, Frank Ribeiro, Luís Ferreira e outros companheiros da Secretaria de Divulgação e Turismo (atual Secom) e de A União. Ao grupo costumavam se associar os irmãos Amir e Manuel Gaudêncio, muito influentes na vida política do Estado. Os encontros semanais, sempre na hora do almoço, começaram no governo de João Agripino e subsistiram até meados do governo de Ernani Sátyro, quando nos dispersamos.

Devo esclarecer aos alvoroçados que o “beco” ficava entre as Ruas Barão do Abiahy e Miguel Couto, no trecho compreendido entre o Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba e o antigo Hospital Municipal de Pronto Socorro (derrubado para a construção de uma central telefônica). É a rua oficialmente denominada Frutuoso Barbosa (um dos fundadores e primeiro governador da capitania da Paraíba), onde hoje estão instalados bancos e barracas para conserto de sapatos, bolsas e outros objetos de couro, além de um shopping do ramo construído por Ricardo Coutinho quando prefeito da capital. Por uma peça do destino, ali morava, nos tempos do restaurante de Rosa, o jornalista José Viana, vendedor de espaços publicitários conhecido pelo apelido de “Viana Pezão”, alusivo ao número 52 que calçava. Não se estendendo por uns duzentos metros, se tanto, a rua era carinhosamente chamada de “beco”. E por que “do necrotério”?

Bom, a denominação, não tão carinhosa assim, era uma referência à sala, nos fundos do Pronto Socorro, destinada a cadáveres para identificação ou autópsia. Em outras palavras: onde ficava a pedra fria (mesa de mármore na qual se expunha o corpo do morto). Como a porta da sala dava exatamente para a Rua Frutuoso Barbosa, o beco recebeu o estigma com qual se popularizou em rodas boêmias da cidade. Notadamente entre os frequentadores do bar e restaurante de Rosa, cuja especialidade era galinha à cabidela, de tempero irresistível. O prato, aliás, era o predileto do nosso grupo (meu, de Ipojuca & cia), não apenas no “Beco do Necrotério”, mas em outros endereços gastronômicos regionais de João Pessoa, como o da Avenida Juarez Távora, onde era servida a não menos saborosa “galinha do Biu”. Essa segunda parte, por falta de espaço na mesa, fica para domingo que vem.