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Recordar é viver

publicado: 08/02/2016 20h11, última modificação: 08/02/2016 20h11
Artigo publicado na edição de 07.02.2016


Martinho Moreira Franco

Não fui propriamente um carnavalesco inveterado, embora, de uma forma ou de outra, tenha participado de festejos do carnaval. Socorro, minha irmã mais velha, por exemplo, preserva em seus arquivos uma foto em que, crianças, aparecemos, eu e ela, fantasiados em pose para o fotógrafo Vavá, do Petit Photo, da Rua da República: eu, de cigano; ela, de tirolesa. Devíamos ter vindo de uma matinal na AABB, então sediada na Rua das Trincheiras, imagino Ainda na infância, cheguei a ganhar um Concurso do Frevo, no programa Matinal do Guri, da Rádio Tabajara, mesmo sem direito a receber o prêmio, por calote do patrocinador, já contei essa história, deixa pra lá!

Adolescente, sem carteira de associado ou dependente da AABB, do Astreia ou do Cabo Branco – clubes de elite da cidade -, valia-me de camaradagem com familiares de dirigentes desses clubes para pegar carona em seus bailes de salão. Havia a possibilidade de inscrever-se na categoria de sócio atleta, através da prática de esporte de quadra, mas, no meu caso, fracassei redondamente na primeira tentativa: cheguei a treinar basquete no Cabo Branco, mas, nos moldes do trocadilho, era tão fraquinho de arremesso que lançava a bola para a cesta, mas ela só chegava ao aro no sábado... Outro tipo de sócio atleta era o que pulava o muro do clube, mas esse exercício não combinava com o meu receio de ser flagrado pela vigilância.

A verdade é que brinquei carnaval, sim, em memoráveis matinais da AABB, na sede da Avenida Pedro II, e inesquecíveis bailes noturnos, ora no Astreia, em Tambiá, ora no Cabo Branco, em Miramar, não raro em um mesmo ano. Ah, lembro-me agora que tinha carteira de sócio dependente do Astreia, graças à influência que desfrutava no clube o coronel Ascendino Clementino de Araújo, patriarca dos Melquíades da gloriosa turma da Rua da Palmeira, vocês já me ouviram falar naqueles tempos. Havia, também, as prévias carnavalescas do Vermelho e Branco (nos últimos anos em processo de resgate) e da Festa de Reis no Astreia - não cheguei a frequentar O Carnaval Começa no Iate nem o Verde e Branco do Jangada, soçaites demais para o meu padrão.

Com a decadência dos clubes, motivada em parte pela mudança de usos e costumes da sociedade, o carnaval foi perdendo status no calendário social da cidade, terminando por confinar os foliões em casa ou em rodas improvisadas de amigos para uma batucada ou um fundo de quintal, que ninguém é de ferro. Alguns tomaram o rumo do Recife, de Olinda e Salvador, para sair atrás do trio elétrico, enquanto outros, já agora, se mandaram para o Rio de Janeiro, onde o carnaval de rua ganhou fôlego de dois anos para cá. Eu optei por ficar ouvindo, na varanda do apartamento, Capiba e Nelson Ferreira na voz marcante de Léo Batista, quero dizer, de Claudionr Germano. Isto até o ano passado, bem entendido, pois o Cabo Branco tirou a mim e a meus netos de casa para a matiné infantil do domingo (há outra na terça-feira), um restauro da atual diretoria que caiu no gosto da meninada (e da velha guarda). Adivinhem pra onde vou mais tarde?