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Subindo por onde desce

publicado: 20/04/2016 17h54, última modificação: 21/04/2016 09h41
Publicado na edição de 10.03.2016


Martinho Moreira Franco

Vocês viram no que deu prender o marqueteiro João Santana? O homem estava pras bandas da República Dominicana, cuidando da campanha à reeleição do presidente Danilo Medina, quando foi notificado do mandato de prisão temporária decretado contra ele e a sua mulher, Mônica Moura, pela Justiça Federal no Paraná. Não contou conversa: mais depressa que ligeiramente, fez as malas, botou dona Mônica a tiracolo e, em companhia de um advogado, partiu para São Paulo. Como a prisão tinha a ver com a Operação Lava Jato, logo que o casal desembarcou no Aeroporto de Guarulhos já estava na pista um jatinho da Polícia Federal pronto para decolar com destino a Curitiba. Em chegando à capital paranaense, os dois se dirigiram à superintendência da PF para os procedimentos de costume. Ponto. Aliás, dois pontos.

É o seguinte: até a prisão de João Santana, chegou-se a especular, é verdade, sobre uma possível (mas improvável) condução do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para depor a respeito da citação do seu nome em investigações do Ministério Público Federal que apuram denúncias de favorecimentos a ele atribuídos em tratativas imobiliárias (o tríplex em Guarujá, o sítio em Atibaia). Mas eram apenas especulações. Quem diabos imaginaria que Lula pudesse ser conduzido - ainda mais de forma coercitiva - para depor sobre denúncias em fase de apuração, quando ele próprio já havia atendido a convocações para prestar esclarecimentos com a mesma finalidade? (desta vez, nem convocado foi...)

Pois bom. Longe de mim discorrer sobre teorias da conspiração, mas por que cargas d’água a condução coercitiva (inadequada no caso, segundo juristas) de Lula ocorreu exatamente quando João Santana está preso (agora preventivamente) na Polícia Federal? Não tenho nenhum elemento concreto para embasar essa minha particular teoria da conspiração, mas, cá pra nós, que outro gênio da propaganda e do marketing político seria capaz de oferecer a Lula e aos seus seguidores o palanque que lhes estava faltando para reverter a onda então crescente a olhos vistos contra eles? Ainda mais que a “condução coercitiva” passou a receber o tratamento de “sob vara” (ou “debaixo de vara”), outro achado de marketing. E olhem que Lula teria pedido para ser algemado, avaliem a repercussão turbinada pelo procedimento...

Com todo o respeito pelo Ministério Público Federal, pela Justiça Federal e pela Polícia Federal, sei lá como João Santana inspirou o tiro no pé que fez Lula dar um bote como há algum tempo não se via na cena que sabe dominar como poucos! O disparo foi um disparate, sim, mas que serviu para fazer Lula de vítima e reabilitá-lo entre militantes do PT, serviu. Parece até que Mônica Moura estava adivinhando quando abriu aquele sorriso ao desembarcar em Congonhas com o marido.