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A ferro e fogo

publicado: 20/11/2015 14h48, última modificação: 20/11/2015 14h48
Editorial do jornal A União publicado em 20.11.2015

tags: editorial , racismo , consciência negra

por Editorial

Brasileiros negros e de baixo poder aquisitivo são aviltados, diariamente, e de diversas maneiras, no país. Suas vidas, aliás, alimentam a estatística da guerra civil “não declarada” em que o país está mergulhado. Brasileiros negros ricos, grosso modo, são tolerados. Quando vitimados pelo preconceito, a mídia os eleva à condição de “heróis da resistência”, e as mãos pesadas do aparato policial do Estado, normalmente, alcançam os inescrupulosos.

A jornalista Maria Júlia, da Rede Globo, projetou-se, recentemente, tanto pelo talento que, efetivamente, possui, como também pelos ataques que sofreu, pelas redes sociais, em função da cor de sua pele. O mesmo aconteceu com a atriz Taís Araújo. Há muitos mais casos dessa natureza. Aliás, a história brasileira está repleta deles. Mas a dimensão exata do problema ainda está longe de ser conhecida. A miudeza cretina do racismo ainda permanece impune.

Não deveria ser assim nem com ricos nem com pobres, sejam brancos, pretos, amarelos ou de qualquer outra tonalidade que a natureza escolheu para colorir a pele da raça humana, pluralizando-a em etnias, para o milagre da cultura, que, provavelmente, não teria a beleza (no mais profundo sentido da palavra) como uma de suas células essenciais, caso a população mundial fosse monocromática e espiritual e intelectualmente hegemônica.

O cidadão consciente da importância do Estado democrático de direito, como garantia de vida civilizada, não deve se omitir diante de atos de intolerância racial, ocasionalmente praticados por semelhante, ou o próximo, como reza a Bíblia. O racismo só vai recuar, até o limite de sua extinção, com a adesão crescente da população à luta contra o preconceito em todas as suas manifestações. Porque os preconceitos têm códigos genéticos muito parecidos.

Há pouco mais de três séculos, um homem ousou rebelar-se contra a forma mais radical de racismo: a escravidão. Zumbi, o último dos líderes do Quilombo dos Palmares, legou ao povo negro do Brasil um exemplo de luta - obstinada, incondicional -, aquela que o libertou do jugo dos brancos que dominavam a sociedade de sua época. Sobreviveu ao assalto de Domingos Jorge Velho, mas não a uma velha conhecida da história da humanidade: a traição.

O exemplo é o diamante da vida. Com ele se ergue a fortaleza inexpugnável do homem: o caráter, que forja a coragem. O Brasil comemora hoje o Dia Nacional da Consciência Negra. A data é dedicada à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. Mais que isso. Celebra o dia da morte de Zumbi de Palmares. Um ato político nacional, em memória daquele que o ferro e o fogo feriram de morte, mas deixaram tatuada na pele a palavra... Liberdade.