Quac! Quem diria que aquele pato estourado, vestido de marinheiro, que aparecia num show para órfãos, em 1934, na aba do Mickey Mouse, se tornaria um dos grandes fenômenos culturais já vistos? Pois, o Pato Donald chegou aos 90 anos este ano como um dos maiores personagens já criados nos desenhos animados.
Certo, o personagem surgiu mesmo foi no curta A Galinha Sábia, de 1934, da série Silly Symphonies. Mas, apesar da roupa de marinheiro e da voz de taquara rachada (feita por Clarence Nash), ainda não era o Donald para valer. Era só um pato preguiçoso que morava em um barco velho e se esquivava de ajudar a pobre galinha a plantar e colher seu milho.
Vale lembrar que o nome Donald Duck já havia sido usado, em 1931 e 1932, para patos bem diferentes e meramente citados em livros ilustrados da Disney. Apenas protótipos para nosso irascível herói, que surgiria em 1934.
A segunda aparição do pato nos desenhos animados é o verdadeiro nascimento do Donald. O personagem que surgiu em A Galinha Sábia entrava em cena junto do grande astro Mickey Mouse no curta Em Benefício dos Órfãos, ainda em 1934. Em preto-e-branco, com pés e pernas pretos e mais baixinho que o camundongo, ele tentava recitar um versinho numa apresentação, mas as crianças da plateia o azucrinavam até que perdesse a paciência.
Pronto: estava aí a personalidade que o marcaria pelas nove décadas seguintes.
Donald passou a formar um trio com Mickey e Pateta em curtas que hoje são clássicos absolutos, como Relojoeiros das Alturas (1937), Feriado Havaiano (1937) e O Trailer do Mickey (1938), ao mesmo tempo em que começou a protagonizar sua própria série desde 1936. Com 128 curtas de sua série, o pato é o personagem Disney com mais curtas (mais que o Mickey, inclusive, de quem roubou a cena).
Sua estreia nos quadrinhos foi também em 1934, com a adaptação de A Galinha Sábia para uma tira dominical de jornal. Nos diários, o desenhista Al Taliaferro foi o grande artista a desenvolver o pato, trabalhando no personagem até sua morte, em 1969.
Nos gibis, Donald ganhou histórias novas a partir de 1942 e uma gama de artistas de vários países desenharam o pato, com destaque para a Itália. Mas, nessa seara, o grande artista, que ficaria conhecido como “o homem dos patos” foi o americano Carl Barks, que o transformou em um aventureiro e o colocou uma infinidade de empregos nos quais seu temperamento era constantemente testado.
Donald é um personagem que foi enriquecido por esses criadores de maneira assombrosa. Pense só: grandes personagens, muitas vezes já estreiam com alguma coisa de seu universo criado junto, mesmo que aumente depois. Quando o Super-Homem estreou, surgiram com ele Lois Lane, o planeta que explodiu, o jornal em que Clark Kent trabalha. O Donald era só ele.
Depois, em torno dele, surgiram a Margarida, os sobrinhos trigêmeos, o Tio Patinhas (e, com ele, a caixa-forte, os Metralhas, o professor Pardal, a Maga Patalógica, etc.), a cidade de Patópolis, Gastão, Peninha, a série Duck Tales, o Zé Carioca, o professor Ludovico e por aí vai.
Nada disso existia quando surgiu o Donald, que era só um pato grasnando numa roupa de marinheiro...
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 04 de dezembro de 2024.