Já era esperando que os fãs dos filmes capitaneados por Zack Synder no seu finado universo de filmes dos super-heróis da DC Comics fosse cair no chão esperneando quando Superman (2025) chegasse aos cinemas. Desde o começo ficou claro que o novo filme seria um contraponto à visão do herói nos cinemas que estava em vigor desde 2013. O que eu não esperava é que a chiadeira chegasse ao ponto de uma completa fuga da realidade.
Talvez seja o algarismo do Threads me enchendo a paciência, mas a verdade é que as viúvas de Zack Snyder ficaram em polvorosa com o filme de James Gunn. Com David Corenswet no papel principal, o novo filme volta à premissa básica e consagrada do personagem: ele é, na base, um bom homem que só quer usar seus poderes para ajudar quem precisa. E gosta do que faz.
As reclamações começam com um fetiche suspeito pelo poder absoluto. “Esse Superman só apanha”, dizem os posts. Poderia ser só maluquice de redes sociais, mas a manchete oportunista de um artigo de Thiago Stivaletti na Folha diz: “Como admirar um Superman que apanha mais do que bate?”. O subtítulo ainda faz um raso paralelo político: “Retrato dos EUA em decadência, novo Homem de Aço depende até do cachorro para se salvar”.
Essa é totalmente a lógica dos filmes de Zack Snyder com os heróis da DC. A coisa se resume a apanhar e bater. Salvar pessoas, para Zack Snyder, era claramente um estorvo, uma perda de tempo.
Um exemplo claro sobre isso está nas duas versões de Liga da Justiça. Na versão não finalizada por Snyder (e, sim, por Joss Whedon), Superman adia o combate com o supervilão para, antes, salvar as pessoas da área. Na versão de Snyder, nem há quem salvar: a região vira uma área despovoada, para nada atrapalhar o quebra-pau.
Salvar é um ponto capital no novo Superman e parece que isso tem irritado demais essa turma. O fato de que ele tem que lutar se preocupando em salvar todo mundo não é levado em conta. Salvar gente parece que simplesmente não importa para esse pessoal, não é caso de admiração.
O Superman enfrenta um monstro gigante no meio da cidade em determinada cena do filme, mas não o esmurra sem parar destruindo os prédios ao redor (como em — cof, cof — O Homem de Aço). Ele toma cuidado até para que animaizinhos não sejam feridos no processo.
O Superman de O Homem de Aço, Batman vs. Superman e a versão Synder de Liga da Justiça fez mal a uma geração inteira que pensa que aquele é o personagem “verdadeiro”. Li posts chamando essa versão de “Superman raiz”, no mínimo um flagrante desconhecimento da longa trajetória do personagem, que não tem nada a ver com aquilo.
E piora. Teve gente dizendo que a versão de Snyder era o Superman da série Injustice — como um elogio! Considere que, nessa história alternativa, o personagem é o ditador do mundo.
Da mesma forma, outro posta uma cena da ótima série Superman — The Animated Series em que o Super perde a paciência e frita Lex Luthor com sua visão de calor, dizendo que este é o verdadeiro Superman. Ignorando que este episódio é uma realidade alternativa em que o herói vira, sim, um vilão.
Para ser justo, o Superman de Zack Snyder nem é um vilão, como o de Injustice, diferente do que acha o bobo da internet. É só carrancudo, tem seu lado alienígena ressaltado (em vez do lado humano) e o filme fez questão de fazê-lo matar alguém.
O novo Superman se dedica a mostrar que ser bom e gentil é legal. Imagine só ter problemas com isso! Quem quiser, pode gostar do outro: mas, sendo claro, a versão Snyder foi feita por quem não gosta do Superman para quem não gosta do Superman.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de julho de 2025.