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Abelhas são essenciais para natureza

publicado: 22/04/2024 14h06, última modificação: 22/04/2024 14h06
Processo de polinização e manutenção da biodiversidade depende dos insetos, que correm risco de extinção
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Especialista explica que abelhas são fundamentais para o equilíbrio do meio ambiente | Fotos: Divulgação/Procase
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Procase investiu cerca de R$ 160 mil em processamento de mel
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por Samantha Pimentel*

As abelhas exercem papéis fundamentais na manutenção do meio ambiente, e talvez o mais importante deles seja a polinização, que é a transferência de grãos de pólen da parte masculina (anteras) para a parte feminina de uma planta (estigma). Esse processo garante a produção de frutos e a reprodução de diversas plantas que são essenciais à preservação da biodiversidade.

De acordo com o professor aposentado Patrício Borges Maracajá, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), o equilíbrio da natureza depende da atuação de abelhas. Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Gestão e Sistemas Agroindustriais (PPGGSA), ele aponta que até mesmo os frutos das árvores são mais saudáveis e completos quando há polinização.

“Podemos usar como exemplo o maracujá. Às vezes, você compra um e ele está até bonito por fora, mas, quando você corta, vê que ele exala um cheiro diferente. Isso ocorre porque não houve polinização completa”, diz.

A polinização também é realizada por moscas, borboletas, pássaros e até mesmo pelo vento, porém são as abelhas as principais agentes desse processo, pois elas conseguem espalhar o pólen por grandes áreas.

“As abelhas são fundamentais para sobrevivência do ser humano na terra”, crava Patrício Borges Maracajá.

Diversidade

Em todo o mundo, existem mais de 20 mil espécies de abelhas e cada uma dessas espécies possui hábitos diferentes, além da variedade de cores e tamanhos. Segundo o professor Patrício Borges Maracajá, 16 espécies são comuns na Paraíba. Ele cita como exemplos a jandaíra, presente do Cariri até o Sertão; a urucu-nordestina, cultivada no Brejo; além das abelhas canudo, cupira e jataí.

Conforme o especialista, as abelhas nativas da Paraíba e de toda a América Latina são do tipo melipona, popularmente chamadas de “sem ferrão”. A alcunha, no entanto, não representa as reais características dos insetos.

“O povo diz que são abelhas sem ferrão, mas, na verdade, elas são abelhas com ferrão. Só que o ferrão delas é atrofiado, então elas não ferroam. Ou seja, elas não oferecem risco algum, são abelhas dóceis”, esclarece.

Além das abelhas meliponas, existem na Paraíba abelhas com ferrão de defesa, mas essas são resultados do cruzamento entre espécies.

Pesquisadores fortalecem preservação das espécies

Devido às mudanças climáticas, desmatamento, aumento da monocultura e outros fatores, as abelhas vêm sendo ameaçadas de extinção. Por isso, é preciso que haja ações para salvar os insetos. Desde 2011, pesquisadores do campus de Pombal da UFCG desenvolvem pesquisas e projetos para minimizar os danos às espécies existentes na Paraíba.

“Na área de apicultura, temos trabalhos na área de comportamento de abelhas, alguns no intuito de melhoramento de seleção de abelhas produtivas”, destaca a professora e doutora em Zootecnia, Rosilene Agra, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Gestão e Sistemas Agroindustriais (PPGGSA).

Os pesquisadores da UFCG também realizam ações educativas. “Já fizemos trabalhos na área de toxicidade. Algumas plantas são tóxicas, mas a gente não elimina essas plantas da flora apícola. Pelo contrário, a gente trabalha junto às associações e às comunidades para que essa vegetação nativa seja preservada”, acrescenta Rosilene Agra.

Conscientização

A professora acredita que, aos poucos, a população tem entendido a importância das abelhas para o meio ambiente. Entre os temas tratados no trabalho de conscientização estão os riscos do desmatamento e do uso de agrotóxicos e defensivos agrícolas para as espécies.

“A gente tem percebido que as pessoas estão vendo a criação de abelhas como atividade empreendedora. A universidade mostra para os produtores os trabalhos científicos que está desenvolvendo e explica a relevância de manter as ações em parceria com a comunidade. As pessoas estão ficando mais conscientes da importância das abelhas”, conta.

 Atividade tem alto potencial econômico

Dois projetos executados com recursos do Governo do Estado da Paraíba focam no potencial econômico da criação de abelhas com ferrão de defesa (apicultura) e com ferrão atrofiado (meliponicultura).

O Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Cariri, Seridó e Curimataú (Procase) investiu mais de R$ 160 mil na construção de uma unidade de extração e processamento de mel ligada à Associação dos Apicultores e Meliponicultores de São José dos Cordeiros, no Cariri paraibano.

Já o Projeto Cooperar destinou mais de R$ 1,6 milhão em projetos ligados a cooperativas nos municípios de Catolé do Rocha, Aparecida, Poço José de Moura e Princesa Isabel. O montante foi usado para compra de equipamentos, montagem de laboratórios, aquisição de colméias e veículos, entre outras ações.

O assessor técnico das alianças produtivas do Projeto Cooperar, José Estrela, exalta a capacidade do estado no setor. “A Paraíba produz mais de 600 toneladas de mel. Nós temos que trabalhar muito e lutar para que essas organizações possam ter uma melhor renda, sem depender do atravessador”, pontua.

Retorno financeiro

Ano passado, produzi 170 quilos de mel. Este ano, já consegui colher 350 quilos

Todos os anos, o município de São José dos Cordeiros realiza o Festival do Mel. Reconhecido como o maior evento de apicultura do estado, o festival promove debates com especialistas na área, apresenta pesquisas que podem potencializar o setor e incentiva a comercialização de mel.

Um dos produtores da região, o apicultor Etiene Ferreira, conta que a apicultura depende das condições climáticas. Ele explica que as abelhas precisam de chuva para iniciar o processo de produção de mel. 

“Uma colmeia produz, aproximadamente, dependendo do inverno, até uns 60 quilos de mel. Com duas ‘chuvas boas’, as abelhas começam a produção e, depois de aproximadamente um mês, já temos mel”, afirma. 

Segundo Etiene Ferreira, a cultura de 2024 tem sido melhor que a do ano passado. “Esse ano está até bom, graças a Deus. Já fizemos duas colheitas. Ano passado, produzi 170 quilos de mel. Neste ano, já consegui colher 350 quilos”, celebra.

Além do inverno bom, o trabalho da Associação de Apicultores e Meliponicultores de São José dos Cordeiros também contribuiu para o aumento da produção de Etiene Ferreira. A entidade, fundada em 2007, possui máquinas e equipamentos que potencializam a produção local, além de firmar parcerias para a comercialização de mel em maior escala.

Grande João Pessoa

A produção de mel não é restrita ao Cariri. O apicultor Lynaldo Cavalcante Filho, que trabalha com abelhas italianas no município de Conde, Região Metropolitana de João Pessoa, acredita no potencial econômico da atividade no litoral. Ele ressalta, ainda, a importância da apicultura para o meio ambiente.

“A produção é viável e prazerosa. O retorno financeiro é bom. A nossa região tem muitas flores, tanto de matas como de plantas rasteiras e árvores frutíferas. As abelhas fazem a polinização e aumentam a produtividade de todas as frutíferas”, frisa.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 21 abril de 2024.