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FRUTÍFERA

Árvore em casa propicia bem-estar

publicado: 01/07/2024 09h34, última modificação: 01/07/2024 09h34
Cultivo permite o consumo de frutas livres de defensivos agrícolas e contribui com a manutenção dos ecossistemas locais

por Samantha Pimentel*

Casa de Marcelina Moraes tem pés de pitanga, pinha, banana, amora e graviola | Fotos: Leonardo Ariel

Cultivar plantas no espaço doméstico é uma escolha que proporciona muitos benefícios. Muitos adpetos optam pelo plantio das suculentas, já que as plantas compõem a decoração de ambientes, são resistes e exigem menos cuidados diários. No entanto, plantas frutíferas estão ganhando cada vez mais espaço em casas. Além de melhorarem o astral dos ambientes, elas se destacam pela produção de alimentos e por terem boa adaptação em espaços reduzidos.

Muitas espécies frutíferas podem ser plantadas em vasos, o que torna essa escolha atrativa, inclusive, para quem mora em apartamento. Variedades como magueiras, jabuticabeiras, pintagueiras são alguns exemplos de opções que se adaptam, a depender de fatores como clima, luminosidade e insolação.

A produtora cultural, Marcelina Moraes, mora no bairro Altiplano, na capital paraibana, em uma casa muito arborizada. Ela cultiva, entre outras espécies, cinco árvores frutíferas: pitanga, pinha, banana, amora e graviola. As frutas foram escolhidas de acordo com a preferência dela e da família.

Marcelina conta que morar num espaço com várias plantas lhe traz muitos benefícios, um deles é a sensação térmica no local. “É impressionante a questão climática dessa casa. Aqui nessa rua mora a mãe do meu companheiro, e lá só tem uma palmeirinha e umas plantinhas pequenininhas, e quando eu estou lá eu sinto muito calor. É muito quente, e aqui não. E estamos falando da mesma rua”, afirmou.

Ela também cita outros benefícios, como a qualidade de vida, e a qualidade do ar. “É outro ar que a gente respira aqui. Muitas vezes, quando eu saio de casa, já fico querendo voltar”, afirmou.

Além disso, a produtora cultural comenta o fato de poder ter frutas frescas e de qualidade em casa. “Quando plantei não pensei nisso, mas hoje com a quantidade de agrotóxicos que foram liberados recentemente, isso é um benefício também. Quando tirei minha primeira pinha, pensei: Tô comendo a pinha do quintal da minha casa. É incrível você ter frutas que você gosta na sua casa, e são poucas casas que tem pé de fruta”, destacou.

A bióloga Juliana Coutinho explica que as árvores frutíferas presentes em ruas, jardins e quintais, fazem parte da arborização urbana e que contribuem para os ecossistemas locais. “Esse é um termo utilizado para se referir ao plantio de árvores na zona urbana dos municípios, então podem ser árvores plantadas em vias públicas, parques, praças, florestas urbanas, canteiros e a vegetação das casas das pessoas, que também fazem parte da arborização urbana. Essas árvores desempenham um papel na manutenção dos ecossistemas locais”, explicou.

Arborização diminui impacto de gases poluentes e melhora sensação térmica

A assessora virtual, Cristiane Siqueira Rodrigues, está em processo de mudança de um apartamento para uma casa ampla, com um terreno para plantar, e fez essa escolha em busca de mais qualidade de vida. “Eu e minha amiga, que moramos juntas, decidimos mudar e dessa vez buscar uma casa. A gente queria ter uma casa com grama com terra, e plantar árvores”, afirmou.

Cristiane também comenta que ela e a amiga são muito ligadas à natureza, e cresceram em espaços mais verdes, com plantas como acerola e maracujá. “A gente acha que para a saúde mental faz muito bem ter contato com terra, com sol, com árvores. Não achamos natural os seres humanos viverem em apartamentos, apesar da gente ter naturalizado isso, mas nós somos animais e precisamos ter contato com a natureza”, destacou.

A bióloga Juliana Coutinho explica que o plantio de árvores em casa pode trazer diversos benefícios. “A melhoria do microclima, maior umidade, isolamento térmico e acústico também, as árvores também são capazes de absorver boa parte dos gases poluentes e vão atuar principalmente no estoque e no sequestro de carbono”, afima.

A bióloga também explica que outra questão muito importante é a regulação do fluxo de água, que aumenta a infiltração de água no solo e diminui o risco de enchentes e de erosão. “As espécies frutíferas, também oferecem uma fonte de alimento, tanto para nós seres humanos, mas também para a fauna, para os animais silvestres”, afirmou.

Quanto às frutíferas, Juliana Coutinho também explica quais as espécies nativas da região que seriam mais indicadas para plantar em calçadas ou jardins. “Algumas infelizmente as pessoas não conhecem, mas é importante a gente valorizar as nossas espécies nativas, a exemplo do Cajazeiro, uma espécie de grande porte, indicada para quintais. Tem o Araçá também, uma espécie de médio porte, Pitanga, uma espécie nativa, de pequeno porte. Tem Mangaba, Pitomba, Caju, Jabuticabeira, entre outros”, afirmou.

Antes de plantar alguma espécie é preciso conhecer as suas características, se a planta é de pequeno, médio ou grande porte, para escolher o melhor lugar para cultivá-las, e, no caso de plantar em calçadas, é importante observar questões como a altura de fiações elétricas, para evitar incidentes.

Aumento do contato com a natureza motiva o plantio

A produtora cultural Marcelina Moraes conta que a visita de pássaros e outros animais é comum em sua casa, por causa da quantidade de plantas no local. “Outro dia estava assistindo a um filme com meu filho e entraram sete passarinhos de uma vez, e todo dia tem beija-flor, aparecem sapos também”, afirmou.

Ela também comenta que seu filho, que tem dois anos, vem criando essa relação com a natureza: “Ele não é aquela criança que tem medo das coisas, dos bichos, uma criança, como eu digo, que seja muito higienizada. Ele tem esse contato com a terra, de brincar, de falar com os bichos, é outra forma de existir. Ele tem esse contato e respeito com a vida para além do ser humano”, destacou.

As árvores no ambiente urbano também oferecem uma oferta de abrigo para os animais, o que auxilia na preservação das espécies, além de contribuírem com a polinização. Ter áreas arborizadas nas cidades também impacta na qualidade de vida das pessoas, favorecendo a prática de atividades físicas ao ar livre, por exemplo, além da valorização imobiliária, já que construções próximas a espaços verdes podem ser mais procuradas e ter preços mais elevados, segundo explica a bióloga Juliana Coutinho.

Relações afetivas

Marcelina Moraes ainda fala que as plantas que hoje ela possui em sua casa, a maior parte foram fruto de mudas doadas por alguém ou presentes de amigos, e que isso também cria laços e relações afetivas.

A produtora cultural ainda acrescenta que entende que a vida hoje está cada vez mais corrida, e por isso muitas pessoas não têm a disponibilidade de cultivar as plantas, um problema que ela mesma enfrenta, já que trabalha em home office (em português, escritório em casa) e tem que se organizar com as atividades de casa, das plantas, o cuidado com o filho e o trabalho.

“É uma luta diária, ou eu escolho fazer a manutenção das plantas, ou escolho me sentar para trabalhar. Então eu fico também dividida”, destacou.

Porém, mesmo com as demandas do cultivo das plantas e árvores frutíferas, Marcelina diz que não se vê morando em apartamento ou outro espaço sem uma área verde.

“Eu não me vejo sem planta. Eu cheguei a morar em apartamento um ano, mas era sufocante. E tinha as vezes que eu acordava chorando. Porque em Manaíra, em frente tinha um lava-jato, aí já acordava às sete horas da manhã com o barulho, eu disse não, isso não é vida não. Não aguento mais. Aí voltei, vim morar aqui”, afirmou.

Ela ainda acrescenta: “Eu penso às vezes em vender a casa, morar num lugar menor, porque a vida vai tendo outra dinâmica, você vai envelhecendo, mas, ao mesmo tempo, aqui é outra qualidade de vida, não tem como. Sair daqui e ir para um apartamento, eu não me vejo numa gaiola”, conclui.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de junho de 2024.