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na Paraíba

Cinco cidades detêm 53,4% do PIB

publicado: 22/12/2025 08h47, última modificação: 22/12/2025 08h47
IBGE revela concentração da riqueza estadual na capital, em Campina Grande, Cabedelo, Santa Rita e Alhandra
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João Pessoa subiu sete posições no ranking nacional, em 2023, figurando entre as 50 cidades mais ricas do Brasil | Foto: Carlos Rodrigo

por Joel Cavalcanti*

Cinco municípios respondem por 53,4% de toda a riqueza produzida na Paraíba, enquanto concentram apenas 37,5% da população do estado. Os dados, referentes a 2023, foram divulgados, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e revelam uma concentração econômica que se mantém alta, com uma pequena redução nos últimos anos: em 2019, essa fatia era de 55,5%.

Os municípios que lideram o Produto Interno Bruto (PIB) paraibano são João Pessoa (R$ 28,4 bilhões), Campina Grande (R$ 12,9 bilhões), Cabedelo (R$ 4,1 bilhões), Santa Rita (R$ 3,2 bilhões) e Alhandra (R$ 3,1 bilhões). Juntos, eles somam um valor de R$ 51,7 bilhões.

O aumento do protagonismo das capitais é uma realidade que se repete em todo o país. Nesse sentido, João Pessoa subiu sete posições no ranking nacional das 100 maiores economias municipais, passando do 56o para o 49o lugar. Esse movimento fez com que a capital recuperasse sua participação no PIB estadual, que agora é de 29,3%, nível próximo ao registrado no primeiro ano da pandemia, em 2020 (29,5%).

Apesar do avanço, entre as capitais nordestinas, João Pessoa ocupa a segunda menor posição em valor do PIB, ficando à frente apenas de Aracaju (R$ 22,3 bilhões). Para Vitor Nayron, economista e pesquisador no Laboratório de Inteligência Artificial e Macroeconomia Computacional, é preciso ponderar que os dados de 2023 ainda refletem um período de recuperação econômica pós- -crise da Covid-19.

“Depois da queda, tivemos um período para recuperar o que se perdeu para, a partir disso, voltar a crescer efetivamente”, contextualiza. Para ele, o crescimento de João Pessoa pode ser explicado com o avanço em setores como o imobiliário e o turismo. “Nos últimos anos a gente passou a ter um boom desses setores na capital. Isso atrai interesse de investidores e também desenvolve uma série de outros, como o de hotelaria, o de serviços, bares e restaurantes”, explica o economista.

Nayron complementa que, historicamente, o Nordeste tem uma dependência do setor público, mas que a capital paraibana apresenta uma diversificação maior. Enquanto poucos municípios concentram a maior parte da riqueza, a Paraíba também se destaca pelo número de cidades entre as mais pobres do país.

Onze municípios paraibanos estão entre os 30 com os menores valores de PIB no Brasil, todos com economias inferiores a R$ 40 milhões. “Tem algumas cidades de regiões do interior que conseguem ter um protagonismo maior mesmo nesse contexto. Isso é um indicativo de que é possível, muitas vezes, desenvolver determinadas regiões e ir além do foco de investimentos exclusivamente na capital”, analisa o economista.

A cidade de Areia de Baraúnas, com PIB de R$ 27,9 milhões, é o segundo menor do país e o menor do estado. Completa a lista Parari (terceiro menor nacional), Quixaba (sexto), Coxixola (sétimo), Curral Velho (11o), Riacho de Santo Antônio (14o), Zabelê (15º), Passagem (16o), São José do Brejo do Cruz (17o), Amparo (19o) e Lastro (20o).

Per capita

O município de Alhandra segue com o maior PIB per capita da Paraíba, de R$ 114.880, mais que o dobro do segundo colocado, Cabedelo (R$ 61.527). O indicador, no entanto, é apenas o resultado da divisão do PIB total pela população e não equivale à renda distribuída entre os habitantes. João Pessoa aparece em sexto no estado, com PIB per capita de R$ 34.106, e Campina Grande em nono, com R$ 30.780.

O economista Vitor Nayron é enfático ao separar o conceito de PIB per capita da qualidade de vida. “Para a qualidade de vida, geralmente a gente utiliza outros indicadores como o IDH. PIB não é a melhor variável para se observar a qualidade de vida”, diz. Ele explica que um PIB per capita alto pode esconder uma forte concentração de renda. “Às vezes, você pode ter uma situação onde essa quantidade de riqueza é concentrada na mão de poucas pessoas”.

Na outra ponta, cinco cidades têm PIB per capita abaixo de R$ 11 mil: Imaculada, Manaíra, São Vicente do Seridó, Serra Redonda e Arara. Nayron vê nisso uma oportunidade de se pensar o desenvolvimento de forma mais ampla. “Não que seja importante você abandonar a capital e olhar só para o interior, mas a ideia é promover um desenvolvimento um pouco mais complexo”, afirma. Para ele, é preciso levar melhoria na qualidade de vida, com acesso à educação e ao mercado de trabalho, para outras regiões.

Os dados municipais complementam o panorama estadual, divulgado pelo IBGE, em novembro, que mostrou um crescimento de 3% do PIB da Paraíba em 2023, desempenho igual à média nacional e superior à do Nordeste (2,9%). Na ocasião, o destaque ficou com o setor agropecuário, que avançou 6% no estado.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 20 de dezembro de 2025.