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Comércio na praia é renda para ambulantes da capital

publicado: 15/01/2024 09h43, última modificação: 15/01/2024 09h43
Período da alta estação leva vendedores às areias da orla de João Pessoa
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Maria das Graças tira o próprio sustento e o da família das vendas que faz nas areias da orla - Foto: Roberto Guedes

por Alinne Simões*

Com a chegada do verão, as praias de João Pessoa estão lotadas, não só de moradores, mas de muitos turistas que veem nas “férias” a oportunidade de conhecer a cidade que é considerada o terceiro melhor destino do Brasil para viajar, segundo o Prêmio Melhores Destinos, edição 2023/2024. Esse também é o período perfeito para as pessoas que comercializam e ganham a vida vendendo produtos na areia das praias.

A comerciante Maria da Graça é natural de Alagoa Grande, mas há 26 anos comercializa produtos nas areia da Praia de Tambaú, ela conta que começou vendendo bebidas como água de coco, refrigerante e cerveja, mas que depois optou por vender canga, chapéu, viseira, bolsa e biquíni, que são os produtos que até hoje dão o sustento dela e da sua família. “Vendia coco e um dia fui para Caruaru e comprei umas mercadorias. Desde então, criei meus filhos e estou por aqui hoje, sobrevivendo”.

A comerciante disse que essa época do verão é muito boa, mas que nem sempre é assim e que já teve dias de não vender absolutamente nada. “Mas é o que eu tenho pra hoje. Se eu não tenho estudo, eu tenho que correr atrás”.

Há quem tenha entrado no ramo mais recentemente, caso de Lucinéia Farias que comercializa roupas e óculos de sol na praia há apenas três anos. Ela conta que começou vendendo água, mas para fugir um pouco do sol, acabou mudando os meios de trabalho. “Eu sempre trabalhei na rua vendendo como ambulante. E aí surgiu essa ideia de vender outros produtos. Para mim, essa época de alta temporada é a melhor do ano para vender porque as praias estão cheias”, comenta, acrescentando que os óculos de sol são os produtos com maior saída.

Edvaldo Cavalcante também vende óculos de sol, mas apenas no período do verão e quando as vendas “esfriam” ele trabalha com outras coisas. Ele está nas praias de João Pessoa há três anos, mas entrou na profissão de ambulante há cerca de 20 anos vendendo redes. “É um pouco sofrido, nesse solzão. Um dia é bom, outro dia é fraco e assim vai indo. Quando esfria mais, diminui as pessoas, eu trabalho com outras coisas, vendo panela, meia. Eu escolhi viver assim”, reconhece.

Turistas aproveitam a venda de produtos

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Aline Sena diz valorizar o esforço dos ambulantes - Foto: Roberto Guedes

Agnolia Dantas é paraibana, mas mora há muitos anos em São Paulo, aproveitou a alta estação e as férias para visitar a terra natal, bem como, trazer a sua filha para conhecer suas origens. Ela estava procurando um produto que remetesse a João Pessoa para levar de “lembracinha” da cidade. “Gostei muito da bolsa, mas estou procurando algo que me identifique, que onde eu chegue as pessoas digam que é de João Pessoa”. Ela contou que adora comprar com o pessoal que vende nas praias porque eles sempre têm produtos interessantes. “Agora mesmo, acabei de comprar uma canga”, revela.

Já Aline Sena estava praticando exercícios com alguns familiares quando avistou um comerciante que vendia roupas. Ela é moradora da cidade, mas estava com familiares do Ceará. “Estou comprando bermuda para meus sobrinhos, para eles aproveitarem a praia com um shortinho bem legal”. Aline disse que sempre que pode compra algo que está precisando pela praia mesmo, com os ambulantes, pois acredita que dessa forma ajuda a valorizar o trabalho deles.

“Eu costumo caminhar aqui na praia, no calçadão e também valorizar as pessoas que, apesar de serem informais, também fazem o seu trabalho dignamente”, avalia Aline.

Trabalho cansativo tem visual como recompensa

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Severino da Silva faz da praia seu escritório ao ar livre - Foto: Roberto Guedes

Quem também escolheu viver caminhando nas areias da praia vendendo produtos foi Severino da Silva. Conhecido por seu alto astral, o ambulante caminha de uma ponta a outra das praias urbanas da capital, vendendo cangas. Severino é paraibano, mas morou muitos anos no Rio de Janeiro, cidade que lhe deu um sotaque bem característico. Há quem pense até hoje que ele é um carioca ganhando a vida em terras pessoense, mas ele garante ter orgulho de ser paraibano.

“Eu morei muito tempo no Rio de Janeiro. Só que eu mudei para cá quando me aposentei, aqui é mais tranquilo, confortável”. Faz pelo menos 15 anos que Severino vende canga na praia, já vendeu chapéu e viseira, mas optou pelo atual produto porque é “mais leve”. “A gente sobrevive com os trocados, aqui não tem que pagar o imposto, não paga o frete. Isso aqui é o meu paraíso, é o meu lugar, é o meu escritório ao ar livre”.

No Rio de Janeiro, ele trabalhava formalmente em uma empresa e nas horas vagas ele ia vender produtos nas praias cariocas. Segundo ele, era uma forma de ganhar um extra. Geralmente, Severino chega na orla por volta das 8h30 e fica até as 13h, porque nesse horário o sol já está “castigando muito”.
“A minha história é essa. Tem pessoas chatas e tem as que nos motivam a continuar trabalhando. Com a vista dessa todos os dias, não tem como se estressar. A gente trabalha de bem com a vida”, reforça.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 14 de janeiro de 2024.