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OUSE CRIAR

Empreendedorismo na educação

publicado: 02/06/2024 15h27, última modificação: 02/06/2024 22h32
Programa estimula cultura de criatividade e inovação nos ensinos Fundamental e Médio na Paraíba
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O projeto Blocon, em Pedras de Fogo, desenvolveu um negócio com peças pré-moldadas de concreto utilizando garrafas pet e resíduos da construção civil | Foto: Rizemberg Felipe/Colaboração
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Foto: Rizemberg Felipe/Colaboração
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Aplicativo Adote-me foi criado para ajudar os gatos abandonados | Imagem: Reprodução/App Adote-me
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Iniciativa Code trabalha o pensamento computacional com os alunos | Foto: Roberto Guedes
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por Sara Gomes*

O pedagogo Paulo Freire dizia que a educação verdadeira acontece para além dos muros da escola, na interação com o mundo e na prática da cidadania. Inspirado nesse pensamento, o Governo da Paraíba, por meio do Programa Ouse Criar vinculado à Secretaria de Estado da Educação (SEE-PB), tem capacitado seus alunos, do Litoral ao Sertão, no desenvolvimento de habilidades requeridas no mercado como trabalho em equipe, criatividade, inovação e empreendedorismo. Muitas dessas iniciativas se tornaram modelos de negócio. Atualmente, o programa conta com dois editais vigentes que totalizam 150 estudantes ativos.

A empresa Blocon, localizada em Pedras de Fogo, desenvolveu um negócio com peças pré-moldadas de concreto utilizando garrafas PET e resíduos da construção civil. Fruto do Ouse Criar, o Blocon foi idealizado por Jonathan da Silva, engenheiro civil e professor do curso técnico de Edificações da Escola Cidadã Integral Técnica João Úrsulo; com o apoio de cinco ex-alunos: Iago Henrique, Isaac Sales, Luís Manoel, Tiago Ruan e Maria Eduarda. Ano passado, a Blocon foi selecionada entre mais de 800 empresas inscritas na Expo Favela 2023, ficando entre as 50 melhores startups do Brasil.

Ao constatar que as indústrias não destinavam materiais recicláveis e resíduos da construção civil adequadamente, o engenheiro civil aplicou sua experiência com concreto reciclado. “Os entulhos geram zonas mortas no meio ambiente, como também são transmissores de doenças. Ao inserir plástico de garrafa PET no pré-moldado de concreto, aumenta a resistência à mecânica das peças. Além de reduzir o impacto ambiental, economiza matéria-prima”, explicou.

Atualmente, a empresa busca parcerias e investimentos. A Blocon, a médio prazo, tem como meta produzir peças ou fornecer tecnologia para que outras empresas reproduzam essa ideia em qualquer lugar do Brasil. Embora seja inovadora, Jonathan revela que a empresa tem enfrentado desafios na inclusão dessas peças no mercado. “Precisamos quebrar paradigmas, comprovando que as peças reutilizadas são tão resistentes quanto as convencionais. Hoje, a Blocon é conhecida por várias empresas na construção civil, mas ainda não possui estrutura suficiente para produção das próprias peças como também no manejo de materiais recicláveis”, pontoou.

O ex-aluno Iago Henrique de Oliveira, de 18 anos, relembra que o curso de aceleração de startups, oferecido pelo Sebrae-PB, foi um divisor de águas que impulsionou o projeto, transformando seu olhar para o empreendedorismo. “Essa experiência foi tão impactante que mudei meu projeto de vida. Antes, tinha como objetivo me formar em biologia, mas por conta da Blocon e do Ouse Criar, atuo na startup como técnico em edificações registrado no Conselho Regional dos Técnicos Industriais da 3a região e, atualmente, sou estudante de Engenharia Civil na Universidade Federal da Paraíba (UFPB)”, declarou.

Quando se fala de inovação e empreendedorismo, logo pensamos em abertura de novos negócios, mas o coordenador do programa, Remo Peixoto, destaca que essa temática vai muito além. O Ouse Criar estimula a criação das startups e pequenas empresas se baseando em estratégias criativas, implementação de novas metodologias como também adoção de tecnologias condizentes com a realidade local, além de implementar práticas sustentáveis nas empresas, promovendo o desenvolvimento econômico e social”, disse.

Força feminina

A Fridas Corporation é uma startup feminina, localizada em Sousa, com o propósito de incluir mulheres em vulnerabilidade social no mercado de trabalho. A professora Leyla Maria da Costa, da Escola Cidadã Integral Técnica (ECIT) Mestre Júlio Sarmento, abordou três Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em sala de aula: igualdade de gênero, desigualdades sociais e emprego digno e crescimento econômico. A partir dessa reflexão, propôs um mapeamento de mulheres pretas desempregadas, entre 17 e 24 anos, na comunidade Sousa I. “Muitas mulheres foram eliminadas de entrevistas de emprego por morarem em comunidades, outras, foram mães muito jovens, por isso estavam fora do mercado de trabalho. Essas mulheres estão em idade economicamente ativa, só precisam de oportunidades”, contextualizou.

Uma das ações da startup é dialogar com as empresas de cursos profissionalizantes, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial ( Senai) e Sebrae-PB para qualificá-las para o mercado de trabalho. “Estamos em contato com as empresas, conscientizando sobre a importância de empregar essas mulheres. Quando elas se tornam parceiras, ganham o selo de empresa apoiadora da igualdade de gênero, como também a possibilidade de redução de impostos”, destacou.

Em 2022, a Fridas ganhou o prêmio Demoday de melhor apresentação, realizado pelo Sebrae-PB no curso para aceleração de startups, passando para a terceira fase. Desde 2023, Fridas recebe mentorias por meio do Ecossistema de Inovação do Sebrae-PB, o Dino Varlley“. Estamos desenvolvendo um aplicativo que conecta as duas partes interessadas, os contratantes e as mulheres que buscam trabalho, a partir da qualificação.Em setembro, vamos apresentar o projeto finalizado para o Parque Tecnológico”, disse.

Por fim, Leyla enfatiza a importância da empresa para o empoderamento feminino, trazendo diversidade para o mercado de trabalho. “A mulher preta que vive em comunidade periférica muitas vezes é excluída do processo.Defendemos que a habilidade e competência no trabalho deve estar acima da cor, religião e gênero, tornando-a protagonista de sua vida”, frisou.

No final do Ensino Médio, a equipe do Parque Tecnológico Horizontes de Inovação seleciona os 10 melhores projetos, continuando a mentoria por 10 meses. Conforme a coordenadora Francilene Garcia, uma das missões do parque é assegurar que os melhores projetos possam ter condições de se transformar em um negócio. “Os colaboradores do Parque tecnológico acompanham os melhores negócios através de mentorias, orientando sobre formalização de empresas, planos de negócio e desenvolve parcerias a fim de viabilizar protótipos de produtos ou serviços do negócio para que tenham chance de dar certo”, disse.

Programando

Iniciativa Code trabalha o pensamento computacional com os alunos | Foto: Roberto Guedes

A Iniciativa Code (codificar para desenvolver) é um projeto que desenvolve habilidades utilizando o pensamento computacional, voltado a alunos do 6o ao 9o ano do Ensino Fundamental.Ele é realizado pelas Secretarias de Educação e Cultura (Sedec) e Ciência e Tecnologia (Secitec) em parceria com a Fundação de Educação Tecnológica e Cultural da Paraíba (Funetec-PB).

A segunda edição da Iniciativa Code já está com cinco mil inscritos, sendo oferecidas 11 mil vagas no total. Os alunos assistem aula uma vez por semana, no contraturno, com duração de duas horas. Mais de 140 estudantes (tutores) da UFPB e Instituto Federal da Paraíba (IFPB) atuam diretamente no projeto, sob a coordenação de professores mestres e doutores da área de computação, das duas instituições de ensino. Os tutores orientam 473 alunos monitores das 61 escolas municipais envolvidas. Cada monitor é responsável por um grupo de 10 alunos.

O diretor de Formação, Promoção e Robótica da Secretaria de Educação de João Pessoa, Elisson Dutra, explica que a Iniciativa Code trabalha com vários alunos o pensamento computacional, a exemplo de desenvolvimento de aplicativos e maratonas de programação (hackathon).

Em outubro de 2023, foi lançado o edital do Festival de Aplicativos, cuja premiação foram R$ 5 mil para cada equipe vencedora. “Foram desenvolvidos aplicativos interessantes como sustentabilidade do lixo, incentivo à leitura e adoção de animais. Essas iniciativas estimulam de maneira lúdica o exercício da cidadania e empreendedorismo atrelado ao pensamento computacional dentro da escola”, declarou.

Foto: Arquivo PessoaA aluna Laura Araújo, de 15 anos, do 9o ano da Escola Municipal Índio Piragibe, localizada em Mangabeira IV, criou o aplicativo Adote-me com o intuito de ajudar os gatos abandonados que moravam na escola. “Inicialmente, a ideia era conseguir um lar para os quatro gatos cadastrados no aplicativo. No entanto, desenvolvi abas com curiosidades sobre gatos, lugares Pet Friendly e até indicação de clínicas veterinárias. A ideia deu certo e os gatos conseguiram um lar”, garantiu.

De acordo com Laura, aprender sobre programação ampliou seus horizontes. Ao ficar em segundo lugar no Festival de Aplicativos, usou o dinheiro do prêmio para comprar seu notebook. “Foi uma experiência inspiradora, pois a tecnologia me permitiu ajudar os animais e também transformar minha realidade por meio da educação”, comemorou.

Aluna do 9o ano, Jamily Cardoso, de 15 anos, sempre gostou muito de livros, mas observa que, cada vez mais, os jovens têm preferido ficar por horas nas redes sociais. “Toda vez que eu ia pegar algum livro na biblioteca, me incomodava ver os alunos utilizando o espaço da biblioteca para jogar no celular”, reclamou. A partir dessa inquietação, criou o aplicativo “Leia-me”, baseado no acervo literário da Índio Piragibe. O aplicativo mostra os livros disponíveis como também algumas sinopses. Além disso, é possível fazer comentários sobre as experiências de leitura.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 01 de junho de 2024.