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Complexo Eólico

Estrutura terá 108 turbinas na PB

publicado: 26/05/2025 09h13, última modificação: 26/05/2025 09h13
Quando tiver capacidade total, parque atenderá 1,7 milhão de pessoas, cerca de 40% da população paraibana
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Segundo engenheiro da CTG, a Região Nordeste é conhecida como o “celeiro dos ventos”, e a Paraíba apresenta o recurso natural na intensidade ideal | Fotos: Evandro Pereira
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Engenheiro Lucas Sanches apresentou projetos de aproveitamento de água e os planos de também montar uma usina de energia solar
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Transformadores converterão a tensão inicial, de 34,5 quilovolts (kV), em tensão de 500 kV
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Transformadores converterão a tensão inicial, de 34,5 quilovolts (kV), em tensão de 500 kV
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por João Pedro Ramalho*

Nos últimos meses, a passagem de dois transformadores pelas rodovias da Paraíba chamou a atenção dos moradores do estado. O translado deve ter sua conclusão amanhã, dia em que o segundo equipamento chega ao destino final: o Complexo Eólico Serra da Palmeira, localizado nos municípios de Picuí, Nova Palmeira, Pedra Lavrada, São Vicente do Seridó e Baraúna. Construída e operada pela CTG Brasil, estatal chinesa com atuação em território nacional desde 2013, a estrutura prevê a instalação de 108 turbinas, das quais 81 já estão implantadas e 18 encontram-se na fase de testes. Quando todos os aerogeradores estiverem funcionando, etapa prevista para o próximo ano, o parque terá capacidade para produzir 648 megawatts (MW) de energia, suficientes para atender a 1,7 milhão de pessoas — ou o equivalente a 40% da população paraibana.

A construção do complexo teve o investimento de R$ 4,3 bilhões, feito pela estatal chinesa, e já gerou mais de R$ 20 milhões em impostos para os municípios, além de superar R$ 8,5 milhões em tributos recolhidos pelo Estado da Paraíba. Durante o pico das atividades, a obra também criou três mil empregos simultâneos. Esse número, porém, deve ser reduzido quando o parque estiver em funcionamento integral, de acordo com o diretor de Engenharia de Renováveis da CTG Brasil, Lucas Sanchez. “Na fase de operação e manutenção, muita tecnologia é aplicada, inclusive para fazer com que esses aerogeradores operem da maneira mais automatizada possível. Então, a gente vai ter pessoas trabalhando aqui, mas em um contingente menor do que na construção”, explicou.

O empreendimento também destinou R$ 12,7 milhões para ações sociais e educativas, tanto com recursos próprios como por meio de parcerias com as prefeituras. Entre as iniciativas, destacam-se aulas de música, futebol e judô para crianças e jovens, além da capacitação profissional dos moradores, preparando-os para as oportunidades de emprego criadas pela obra e para a condução de seus próprios negócios. Outro projeto, intitulado Fazendo a Diferença, foi voltado para a segurança hídrica. “Em parceria com algumas empreiteiras, a gente desenvolveu vários sistemas de tratamento de água, dando às famílias condição de aproveitar a água, que seria desperdiçada, para plantar e gerar renda a partir disso”, completa Lucas.

Energia limpa

A escolha do Seridó paraibano para a instalação do complexo eólico deu-se pelas características naturais do local. Segundo o diretor de Engenharia de Renováveis, a Região Nordeste já é conhecida como o “celeiro dos ventos” do Brasil — e os municípios da Paraíba apresentaram o recurso natural na intensidade ideal para a produção da energia limpa. “Nessa região, o vento não é exageradamente forte. Você vê notícias, por exemplo, no Sul do Brasil, sobre rajadas que destruíram telhados, e esse tipo de coisa não acontece aqui. Mas, ainda assim, o vento é forte o suficiente e muito constante. Além disso, ele é unidirecional: sempre vem do leste. A gente também tem montanhas que são, no topo, razoavelmente planas. Então, foi muito fácil pensar o layout da usina. E a subestação de Campina Grande 3, onde a gente está conectado, é muito robusta”, comenta.

A oferta de recursos renováveis e a capacidade de produção e transmissão do parque têm levado a estatal chinesa a cogitar a instalação de uma nova modalidade energética. “A gente está estudando a possibilidade de construir um projeto solar, porque o parque eólico gera mais energia durante a noite, quando o vento é mais forte. Durante o dia, portanto, você gera menos energia, tendo uma capacidade ociosa no transformador e na linha de transmissão”, aponta Lucas.

Energia percorre 240 km dos aerogeradores até subestação

A energia fornecida pelo Complexo Eólico Serra da Palmeira será integrada ao Sistema Interligado Nacional (SIN) por meio da subestação da Rainha da Borborema. Para isso, ela percorrerá um caminho que começa ainda nos aerogeradores, estrutura formada pela torre de 120 m, o rotor com três pás de 85,5 m cada, e a nacele, compartimento onde fica o mecanismo de funcionamento da turbina. Quando as pás giram, a energia mecânica é convertida em elétrica, por meio de um gerador presente na nacele, que tem condições de produzir, individualmente, até 6 MW.

Dos aerogeradores, a energia passa por uma rede de média tensão (RMT), com postes e cabos distribuídos por uma extensão de 240 km, até chegar à subestação situada dentro do próprio parque. Nesse local, os transformadores — o primeiro deles já instalado e energizado — converterão a tensão inicial, de 34,5 quilovolts (kV), em tensão de 500 kV, utilizada no SIN. Com isso, o material produzido estará pronto para trilhar os 75 km da linha de transmissão que leva até Campina Grande. Para esse processo, o equipamento que parou as estradas paraibanas recentemente é imprescindível. “Sempre me perguntam para que serve o transformador. Uma forma interessante de pensar é como se aqui, no parque, a gente falasse chinês, e, na rede elétrica brasileira, se falasse português. Aí, a gente precisa de alguém que faça essa tradução, e o transformador tem esse papel”, esclarece Lucas Sanchez.

Preservação

Toda essa cadeia de produção e transmissão está instalada em uma área de 800 hectares ocupada pela CTG Brasil, além de mais de oito mil hectares de terras arrendadas a proprietários locais. De acordo com o diretor da empresa, 65 propriedades da região, pertencentes a cerca de 40 famílias, possuem aerogeradores. Desse espaço, dois mil hectares são destinados à reserva de biodiversidade, seguindo a determinação legal de, pelo menos, 20% de área preservada.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 26 de maio de 2025.