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Festas retomam ritmo na Paraíba

publicado: 31/07/2023 15h03, última modificação: 31/07/2023 15h03
Setor, que é responsável por 4% do PIB brasileiro, adota mudanças e celebra a volta de clientes no estado
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Demanda por festas voltou a crescer nos últimos meses e profissionais celebram retorno de atividades maiores - Foto: Divulgação

por Carol Cassoli*

Amplamente afetado pela pandemia de Covid-19, o setor de eventos foi um dos últimos a retomar suas atividades quando o distanciamento social deixou de ser obrigatório. Neste período, o setor, que junto com outras ramificações do mercado de entretenimento, é responsável por aproximadamente 4% do Produto Interno Bruto brasileiro, sofreu grandes mudanças. Hoje, com as atividades completamente restauradas, os profissionais da área veem o fluxo de clientes voltar ao normal e comemoram o movimento na Paraíba.

As opções de eventos são muitas e para cada uma delas há mais de uma possibilidade. Entre chá de bebê, de fraldas ou de revelação, mesversário, batizado, aniversário, primeira comunhão, festa de debutante, formatura, noivado, casamento, bodas, etc., o cliente sempre precisa decidir entre as inúmeras alternativas de tema e estilo, cardápio, local, horário, tamanho e entretenimento de sua festa.

Da Região Metropolitana de São Paulo, Caroline Estrela veio para João Pessoa para estudar Fonoaudiologia. Mas, mesmo tendo atuado em sua área de formação por algum tempo, Caroline não se sentia completa. Foi quando decidiu abrir mão de tudo para investir em algo que sempre amou: a maquiagem. “Fiz alguns cursos e comecei a atender em casa. Porém, a demanda foi aumentando tão rapidamente que me sentia exausta e, na mesma época, fui convidada para atender em um salão que tinha como público-alvo noivas”, conta.

Caroline permaneceu atuando no salão até a pandemia de Covid-19, que assolou a população e chegou carregada de incertezas, tanto para profissionais quanto para clientes. De acordo com um estudo da Associação Brasileira de Promotores de Eventos (Abrape), realizado com dados do Ministério do Trabalho e Previdência, a pandemia abalou 97% das empresas do setor. Juntos, esses negócios deixaram de faturar, pelo menos, R$ 230 bilhões entre 2020 e 2021. “Não tínhamos a mínima noção de quanto tempo essas restrições continuariam e como seria caso voltasse. Até tentamos vender pacotes com desconto, mas o cenário de grande incerteza fez o público se retrair e preservar gastos. Isso fez o mercado estagnar por completo em todos os setores”, lembra a maquiadora.

Retorno com mudanças

Quando o “novo normal” surgiu o último setor a retornar foi o de eventos, que teve que operar com muitas restrições sanitárias. “A volta mudou radicalmente o mercado”, avalia Caroline Estrela. O fôlego, no entanto, não chegou como o esperado. E o ânimo só veio em formato de mudança; tanto no perfil do cliente, que passou a prezar pela experiência, quanto no perfil das festas, que diminuíram de tamanho, dando espaço aos eventos “mini”, como os chamados mini-wedding.

Caroline conta que se, antes, os casamentos eram grandes produções, com planejamento antecipado e noivos que “não poupavam valores para investir no grande dia”, hoje, o mercado é pautado por clientes que não têm a intenção de gastar tanto.

“Os casamentos, que antes eram realizados no período noturno, começaram a ser realizados durante o dia, com uma proposta mais intimista e minimalista. Hoje sinto que, aos poucos, o mercado está voltando a ser como antes da pandemia. As pessoas estão fazendo casamento para mais convidados com uma proposta mais suntuosa, porém, está muito longe de ser o que era antes da pandemia”, analisa a maquiadora.

Eventos menores e marketing para os clientes

Com o advento das festas no formato “mini”, alguns nichos foram beneficiados. Isso aconteceu, por exemplo, com a empresa de aluguel de peças e decorações MiniFestasJP, que, em João Pessoa, notou seus números crescendo enquanto outros negócios do setor enfrentavam dificuldades para se manter. A responsável pela MiniFestasJP, Tatiana Almeida, explica que, enquanto a população mantinha distanciamento, a procura por decorações menores cresceu vertiginosamente, já que as pessoas organizavam festas remotas ou apenas para o núcleo familiar.

“Na pandemia, nós tínhamos algumas estratégias para driblar a crise. A gente enviava tudo já higienizado para os clientes e quando as peças voltavam, ficavam em uma espécie de quarentena para garantir que nem nós, nem os próximos clientes se contaminariam com a doença. Esse cuidado a mais se tornou um marketing muito forte e fez com que as pessoas se sentissem mais confiantes para contratar nossos serviços”, lembra.

Além dos cuidados com a higienização do material, a loja também ofereceu vouchers para os clientes utilizarem depois que o convívio voltasse ao normal.

Hoje, há sete anos no mercado, a empresa que trouxe de Madri a inspiração para o modelo de negócios, já conta com um público consolidado. Passada a pandemia, o crescimento da empresa foi ainda maior e sua fundadora acredita que isso se deva ao fato de que as pessoas não apenas aderiram às festas intimistas, mas entenderam que esse modelo de evento veio para ficar. Se, durante a pandemia, o crescimento da MiniFestasJP foi de, em média, 50%; após o retorno das atividades, a alta foi ainda maior, chegando aos 73%, de acordo com Tati Almeida. Na prática, isso significa que, atualmente, são realizadas entre 28 e 30 festas mensais.

No setor de eventos, quando um cresce, todos crescem. Ainda que a repercussão dos bons tempos demore um pouco para chegar em todos os nichos, Tati Almeida garante que os envolvidos são, sempre, muitos.

“Na loja, por exemplo, aprendemos a ter pessoas. Tem as pessoas que trabalham pra mim diretamente e as pessoas que trabalham indiretamente; essas são muitas. A gente indica as pessoas que fazem bolo, docinhos, personalizados, barmans, DJs, a floricultura para as flores naturais,a pessoa que trabalha com mesa, cadeira, toalha, pessoal que vende gelo, o pessoal da iluminação. É um mercado que se aquece muito, né? O significado disso é fazer girar mesmo a economia”, comenta a criadora da MiniFestasJP.

Mercado usa criatividade e supera desafios

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Pollyana utiliza o talento em decoração para tornar eventos inesquecíveis - Foto: Edson Matos

Durante a pandemia, Lorena Beltrão, dona de um negócio voltado à elaboração de decorações para festas precisou se adaptar. “Fiz alguns eventos com flores artificiais para algumas clientes. E também trabalho com a produção de porta-guardanapos. Isso sim, me ajudou (e muito) a atravessar a pandemia no que diz respeito ao financeiro”, lembra a decoradora.

Lorena relata que, nos últimos anos, tanto a forma com que os serviços eram oferecidos quanto as tabelas de valores tiveram que ser ajustadas. Hoje, passada a pandemia, a decoradora considera que o nicho em que trabalha se recuperou, embora o retorno tenha acontecido com preços mais altos, já que a maior matéria-prima do negócio são as flores naturais que tiveram aumento considerável.

Mesmo com as dificuldades enfrentadas de 2020 para cá, Lorena não desanimou. É que, para ela, estar inserida na organização de eventos é mais que trabalho. “O mercado de eventos foi onde me encontrei. Encontro paz onde muitos chamam de trabalho! Amo o que faço e me doo 100% quando me comprometo com meus clientes. Amo meu trabalho. Costumo dizer que é divino. E de fato, é!”, garante Lorena, que transformou o prazeroso hobby de receber em fonte de renda.

Novos empreendedores

Há oito anos, Ana Cristina Borba ainda não sabia, mas, ao ter o arrojo de fritar trinta coxinhas e dispô-las em um pote de sorvete para vender, estava se tornando empreendedora. Também sem saber, Ana passou a fazer parte de um mercado que, hoje, é responsável pelo faturamento de R$ 314,2 bilhões anuais, segundo a Abrape. Com a empreitada de Ana Cristina, nascia o Tia Ana Buffet, voltado à preparação de quitutes para festas. Seis anos mais tarde, sua filha, a engenheira Pollyana Borba, também entraria para o agitado mercado de eventos como decoradora.

“Gosto muito de criar. Pego as ideias, as referências que os clientes me mandam e elaboro algo novo. Acredito que isso seja um atrativo para eles. Todas as festas são personalizadas; nenhuma delas se repete. Além disso, como sou engenheira, consigo enviar o planejamento visual da festa para os clientes antecipadamente. Quem não gosta de saber como vai ficar antes mesmo de tudo estar montado?”, comenta Pollyana.

Pela qualidade do serviço oferecido, Ana e Pollyana têm se destacado entre clientes não apenas de João Pessoa, mas de toda a Paraíba. Foi assim que mãe e filha conheceram a empresária Jhessika Thamyres, que, este ano, de cliente se tornou sócia da dupla.

“Eu vi que o salão estava à venda e decidi investir. Mas precisava de sócios e, sem pensar duas vezes, convidei Polly e dona Ana. Começamos no início deste ano. Todo começo é complicado, mas temos notado um crescimento gradativo e considerável. Gostamos de pensar nesses primeiros momentos como o surgimento de um castelinho”, conta Jhessika. Juntas, ela, Pollyana e Ana Cristina são a prova de que, conforme sugere o ditado, o exemplo arrasta: “Gosto de pensar que, se não fosse a garra de dona Ana há oito anos, não estaríamos aqui hoje, com um grupo de empresas voltadas à realização de festas. Três mulheres tocando esse negócio com muita força de vontade e amor”.

Hoje, as sócias oferecem serviços completos para a realização de festas, desde o planejamento e elaboração de decorações ao cardápio do festejo e à recepção no Balloons, um amplo salão com capacidade para 280 pessoas sentadas ou setecentas em pé. Nos preparativos, além das três sócias, estão incluídas outras cinquenta pessoas que, embora não sejam vistas ou notadas, são fundamentais para a realização de cada evento: os colaboradores das três empresas. “É muita responsabilidade. Assumimos um compromisso, não só com os clientes, mas também uma obrigação com nossos funcionários”, afirma Ana Cristina, a mulher que, quando não tinha nada, sonhou em ter e hoje faz parte de um universo que engloba mais de 444 mil pessoas, considerando empregados, empregadores e microempreendedores individuais.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 30 de julho de 2023.