Na baixa estação turística, estabelecimentos de alimentação fora do lar enfrentam dificuldades no desempenho da atividade. Insumos mais caros elevam os preços dos serviços, o que impacta diretamente no bolso do consumidor, que precisa readaptar os hábitos para contê-los no orçamento familiar. Além disso, os danos da pandemia de Covid-19 ainda são uma realidade no caixa das empresas que estão em vias de recuperação.
Pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) indica que apenas 33% das empresas do setor registraram lucro em suas atividades, em fevereiro. As empresas que funcionaram com estabilidade representaram 36% do total, e 31% tiveram prejuízos.
No último grupo, os participantes responderam como motivos para a situação: a queda nas vendas (76%), redução do número de clientes (65%), alta nos insumos (53%) e empréstimos realizados durante a pandemia de Covid-19 (45%). Era possível marcar mais de uma alternativa.
Com a dificuldade no desempenho, cresce o número de empresas endividadas, com impostos atrasados e empréstimos em aberto
Paulo Solmucci
De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação da alimentação fora do domicílio é de 7,99%, no acumulado dos últimos 12 meses terminados em março. No período, o aumento de preços da cerveja foi de 6,7% e o de outras bebidas alcoólicas, de 7,75%.
Segundo o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci, houve uma piora do setor em quase todos os índices medidos. “Com a dificuldade no desempenho, cresce também o número de empresas endividadas, com impostos atrasados e parcelas de empréstimos em aberto”. Para ele, é uma situação limite para muitos empreendedores.
Empresa readequa serviços e consumidor se adapta
Música, cardápio diversificado e muitas opções de bebidas. O Empório Café, em João Pessoa, fica lotado nas noites de sexta-feira e de sábado, mas a casa, que reúne características de bar, café e boate está em constante readequação, após a pandemia de Covid-19. O proprietário, Rodrigo Cabral, aponta que os dois anos de distanciamento social ainda causam danos à gestão da empresa.
“Tivemos uma boa fase, com o fim do período restritivo, mas ainda não retornamos ao que tínhamos na fase pré-pandemia. Ao mesmo tempo que ganhamos novos clientes, com o público que alcançou a maioridade, muita gente ainda se sentiu receosa em sair por muito tempo”, comenta. Segundo ele, apesar do mês de janeiro ter sido bom, o mesmo não ocorreu em fevereiro e março.
Ele cita como fatores de dificuldade a concorrência de novos estabelecimentos e o custo de reinventar os serviços durante o distanciamento social. “Estamos na orla e passamos muito tempo parados. A maresia danificou equipamentos e tivemos o custo com as demissões. Perdemos nossas reservas financeiras durante a pandemia e ainda estamos nos reorganizando”.
Rodrigo Cabral afirma que não é o momento de reajustar preços, embora a inflação dos serviços esteja alta, bem como o custo do financiamento bancário, com a taxa Selic a 13,75%. “Percebi um grande aumento de preços nos eventos de verão, mas como uma casa com programação permanente, não podemos repassar todos os custos aos clientes”.
Mudança de hábitos
Pesquisa da consultoria Bain & Company, feita no fim do ano passado, mostra que 38% dos consumidores passaram a reduzir as idas a restaurantes e cafés. O microempresário Alysson Tomaz está priorizando eventos e momentos específicos ao sair de casa para almoçar e jantar ou frequentar festas e bares.
“Em vista dos aumentos de preços, precisamos escolher aquilo que mais queremos e gostamos. Sair para jantar em restaurantes com frequência, não dá mais. Escolhemos datas específicas. As opções de pratos diminuem e algumas até desaparecem. O que fica maior é o preço”, brinca ele.
Uma das opções para economizar sem deixar de desfrutar dos finais de semana, é receber os amigos em casa, algo que ele gosta de fazer. Ele reclama em ter de pagar R$ 15 numa cerveja de marca popular de tamanho long neck e mais de R$ 30 em um drink, nos bares de João Pessoa. “Muitas vezes, a estrutura do local não condiz com os altos preços do cardápio, sobretudo, quando a gente tem em mente que um salário mínimo custa R$ 1.320 para que o trabalhador arque com todas as despesas”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 5 de maio de 2023.