Investir ainda é um tema que causa receio em muitos brasileiros. A ideia de aplicar suas economias em algo sujeito a tantas variáveis e incertezas faz com que boa parte da população prefira alternativas consideradas mais seguras. Mesmo com o crescimento de 6% no número de investidores em renda variável em 2024, segundo dados da B3, a poupança segue sendo a escolha predominante: 68% dos investidores ainda a consideram a melhor e mais segura forma de guardar dinheiro.
Um outro levantamento, realizado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e pelo Datafolha comprovou que, ao investir, os brasileiros preocupam-se com, sobretudo, dois fatores: o retorno financeiro e a segurança. A facilidade de aplicar o dinheiro, a imagem da marca, o desejo de fazer uma reserva financeira e a baixa burocracia são aspectos deixados em segundo plano.
Segundo Carlos Xavier, doutor em Economia, o hábito do brasileiro de deixar o dinheiro na poupança está mais ligado à cultura do que à rentabilidade. “Há outros tipos de investimento com o mesmo nível de segurança, mas que oferecem retornos superiores. A poupança foi criada na época de Dom Pedro II como uma forma de garantir que os brasileiros pudessem guardar dinheiro com segurança. No entanto, com um pouco de estudo — não é necessário dominar economia ou fórmulas matemáticas — é possível entender o próprio perfil de investidor e seus objetivos. Você é um investidor moderado? Agressivo? Está disposto a correr riscos ou prefere segurança total? Se você não aceita perdas, ainda assim existem opções tão seguras quanto a poupança e que rendem mais”, explicou o economista.
Para quem sempre deixou o dinheiro na poupança e agora pensa em diversificar os investimentos, Carlos Xavier recomenda começar pela renda fixa. “Basicamente, existem dois tipos de investimento: renda fixa e renda variável. A renda fixa inclui opções como títulos públicos, CDB, LCI e LCA. Já a renda variável abrange ações, criptomoedas, mercado de opções — esses exigem mais conhecimento e envolvimento do investidor. O caminho que sempre indico é começar estudando o Tesouro Direto. No próprio site, você pode simular quanto quer investir, por quanto tempo e com qual objetivo, e o sistema sugere as melhores opções.
Mediante uma simulação realizada por Carlos no site do Tesouro Direto, é possível perceber, claramente, as vantagens de investir fora da poupança. “Vamos imaginar uma situação hipotética: você quer juntar R$ 10 mil para resgate em 2031, começando com um aporte inicial de R$ 200 no Tesouro Selic. Nesse caso, seria necessário investir R$ 112 por mês. Já na poupança, para alcançar o mesmo objetivo, o valor mensal precisaria ser de R$ 119. Ou seja, a poupança oferece um rendimento consideravelmente menor”, explicou.
O economista também orienta quem está começando a investir a estudar três fatores fundamentais: a taxa Selic, a inflação no Brasil — que varia constantemente — e o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). “Por exemplo, se a taxa Selic está em 15% ao ano e a inflação é de 5%, o juro real é de 10% — esse seria, de fato, o seu ganho. Agora, se a inflação estiver em 10% e a Selic também for 15%, o juro real cai para 5%. Por isso, é essencial acompanhar esses indicadores”, alertou.
Além disso, é possível usar o celular: a maioria dos aplicativos de bancos tem a função de investimentos. Neles, você pode filtrar conforme suas necessidades. Por exemplo: se quiser um investimento com liquidez imediata — compra hoje, resgata amanhã — ele mostrará as opções. Se preferir liquidez semestral ou anual, com isenção de imposto de renda e retorno em renda fixa, também encontrará sugestões. É um estudo que está, literalmente, na palma da sua mão”, orienta o economista.
Pedro Oliveira conta que aprendeu a investir, exatamente, dessa forma: por meio do celular. Assistindo vídeos no YouTube e lendo sobre na internet. Atualmente, ele considera-se um investidor mais agressivo. “Acredito que meu principal erro no início foi ser conservador demais. Deixei minhas reservas na poupança por muito tempo, com medo de arriscar, de testar outros caminhos e poupança não é investimento, nem para fundo de emergência a poupança serve, na minha opinião, porque não cobre a inflação”, enfatizou Pedro.
Outra lição importante que Pedro aprendeu ao estudar sobre finanças foi a necessidade de diversificar os investimentos. “Tenho aplicações no Tesouro Direto, tanto no Tesouro Selic quanto no IPCA. Também venho avaliando investir em fundos imobiliários, embora os considere um pouco arriscados para o meu perfil. Fora isso, o que mais me atrai são as criptomoedas. De vez em quando, invisto um pouco em bitcoin, algumas shitcoins e memecoins. Já ganhei bastante com isso, mas também já perdi — faz parte, a gente erra e aprende. Acredito que a vida é curta demais para não aproveitar as oportunidades. O segredo é ser agressivo, mas com inteligência”, compartilhou.
Tendências podem apontar caminhos
Sérgio Guedes, CEO da SIR Investimentos, ressalta que um dos pontos mais importantes antes de iniciar qualquer tipo de investimento é a análise do cenário econômico atual.
Existem períodos mais favoráveis, com estabilidade econômica e perspectiva de crescimento, nos quais o investidor pode encontrar boas oportunidades e alcançar rendimentos expressivos. Por outro lado, há momentos de incerteza — como em períodos de crise política, alta da inflação ou recessão econômica — que exigem mais cautela e foco na preservação de capital.
Nesse contexto, Sérgio orienta que certos tipos de investimento devem ser evitados, especialmente por quem está começando ou possui um perfil mais conservador. Entre eles estão os títulos de capitalização, a própria poupança e qualquer aplicação que não esteja compatível com o perfil e os objetivos do investidor. “A poupança, por exemplo, é uma aplicação segura, mas oferece baixa rentabilidade, perdendo poder de compra em contextos de inflação elevada. Já os títulos de capitalização não são tecnicamente investimentos, mas sim produtos financeiros com características mais ligadas a sorteios e sorte do que à construção de patrimônio”, explica.
Além disso, o CEO faz um alerta importante sobre promessas de ganhos rápidos e fáceis. “No mundo dos investimentos, não existe mágica. Sempre que alguém prometer lucros garantidos, especialmente em prazos curtos e com pouco ou nenhum risco, desconfie. Esquemas de pirâmide financeira, apostas esportivas com promessa de retorno fixo, ou jogos como o chamado ‘Jogo do Tigrinho’, são armadilhas comuns e perigosas que podem levar à perda total do dinheiro investido”.
Para aqueles que têm dificuldade em compreender todas as siglas, índices, modalidades de aplicação e dinâmicas do mercado financeiro, Sérgio recomenda, fortemente, contar com o apoio de uma assessoria de investimentos especializada. “Investir por conta própria pode ser um caminho viável para quem tem tempo e dedicação para estudar o mercado, mas, para a grande maioria, ter um assessor qualificado ao lado é essencial. O profissional ajuda o investidor a montar uma carteira de acordo com seu momento de vida, seus objetivos de curto, médio e longo prazo, seu perfil de risco e seu patrimônio disponível. Além disso, o assessor acompanha, continuamente, o desempenho da carteira, faz ajustes quando necessário e identifica oportunidades que, muitas vezes, passariam despercebidas por investidores iniciantes”, destaca.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 10 de agosto de 2025.