Notícias

Desconfiança

Medo do metanol reduz consumo de destilados

publicado: 22/10/2025 12h12, última modificação: 22/10/2025 12h12
Vendas de bares e restaurantes diminuíram 7% no estado, em setembro
2025.10.21 Redução do consumo de bebidas © Leonardo Ariel (5).JPG

Clientes substituíram bebidas como cachaça e uísque por cerveja, relatam comerciantes | Foto: Leonardo Ariel

por Emerson da Cunha*

A redução nas vendas de destilados marcou o início da temporada primavera-verão para parte dos bares e restaurantes da Paraíba. Apesar de o movimento geral ter se mantido estável, em muitos estabelecimentos, comerciantes perceberam uma queda específica no consumo de bebidas como cachaça, vodka e uísque — reflexo direto da desconfiança provocada pelos recentes casos de intoxicação por metanol no país. Em contrapartida, produtos como cerveja ganharam mais espaço no pedido dos consumidores.

O Índice Abrasel-Stone, divulgado na última segunda-feira (20), que registra mensalmente a movimentação do setor de alimentação fora de casa, indicou que a Paraíba teve um decréscimo de 7% nas vendas do setor de bares e restaurantes em relação ao mês anterior, agosto. O Brasil, como um todo, apresentou um recuo de 4,9% no faturamento do setor. Na comparação anual, ou seja, em relação a 2024, a queda foi de 3,9%.

De acordo com o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci, o resultado do nono mês do ano é consequência de uma combinação de fatores econômicos e sanitários. Para ele, a inflação alta e os casos de bebidas alcoólicas adulteradas registrados no país têm pressionado o consumo fora de casa. “O impacto dos casos de intoxicação por metanol espalhou pânico entre os consumidores e provocou uma queda na movimentação de alguns estabelecimentos”, constata.

O impacto e a mudança no comportamento do consumidor foram percebidos por alguns empreendedores da capital paraibana. De acordo com Silvio Bernardo, gerente de um quiosque à beira-mar do Cabo Branco, é comum haver uma redução nas vendas em setembro, por não ser um mês de férias. No entanto, ele avalia que o consumo de bebidas diminuiu mais do que o habitual. “A procura caiu bastante sobre isso, principalmente de destilados. Geralmente, o correto é a população ficar com medo mesmo, diante do ocorrido”, afirma. “A gente só compra bebida em empresa credenciada, com nota fiscal, tudo certinho”, reforça.

Para Joilton Barbosa, gerente de restaurante, o decréscimo só aconteceu de fato em relação aos destilados, sendo que o restante dos produtos teve saídas positivas. “A queda foi sobre essa bebida que o pessoal falsificava. Mas, sobre outras coisas, está tudo bem, até melhorou. Setembro já começa o verão, outubro está sendo bom também”.
Nesse sentido, para lidar com a desconfiança do cliente sobre o metanol nas bebidas, o gerente criou estratégias. “Quando o cliente chegava aqui e ficava meio cismado, a gente falava que comprava nossa bebida diretamente de empresas legalizadas”.

Cenários mais positivos
Em outros casos, a elevação do consumo de determinados produtos compensou a queda de outros, como é o caso do restaurante onde trabalha como gerente Leonardo Luna. “Pelos meus cálculos, até o momento, não teve queda, mas teve uma alteração de vendas, caiu a venda de destilados e teve um aumento de cerveja. O pessoal se sentiu mais seguro tomando cerveja que destilado por conta desse acontecimento dos últimos dias”.

Luna é otimista e acredita que o cenário deve melhorar nos próximos meses. “Setembro é início de alta temporada ainda, a gente vem saindo de uma baixa que é agosto, e começando a dar uma subida no movimento aqui em João Pessoa. A tendência é ter um aumento de vendas nos próximos meses”, prevê.

Há comerciantes que não perceberam nenhum sinal de descida nos rendimentos. Segundo Misterlânia Morais, gerente de quiosque, também no Cabo Branco, as vendas em setembro aumentaram gradativamente. “Pelo contrário, nosso movimento vem aumentando e é bem expressivo”, destaca. A crise do metanol não chegou a atingir o estabelecimento. “Nossos clientes têm uma confiança tão grande na gente, por saber que não trabalhamos com material errado, por saber que só trabalhamos com parceiros que têm um nome a zelar. Raramente, alguém questionou a bebida”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 22 de outubro de 2025.