O comércio eletrônico brasileiro deve movimentar R$ 13,34 bilhões durante a Black Friday de 2025. O número representa um crescimento de 14,7% em relação ao ano passado, segundo a Associação Brasileira de Inteligência Artificial e E-commerce (Abiacom). A data oficial das vendas com descontos está marcada para 28 de novembro, mas as lojas já se antecipam para iniciar o período promocional a partir do início do próximo mês.
A expectativa é que sejam gerados cerca de 16,5 milhões de pedidos, com um ticket médio de R$ 808,50. Um volume alto, que movimenta a economia e que deixa muitos consumidores com crédito negativado na praça. Diante de um volume tão grande de promoções e anúncios, como o consumidor pode se preparar para não gastar mais do que deve?
O primeiro passo para evitar isso, segundo o economista Cássio Besarria, é controlar a pressão pelo consumo, com o comércio criando desejo de compras com anúncios ostensivos de descontos imperdíveis. “As famílias que fazem esse acompanhamento sabem exatamente o que pretendem comprar. É esperado que haja uma lista de necessidades e que as pessoas acompanhem a evolução dos preços antes da compra”, afirma o presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação em Economia (Anpec).
O hábito, segundo ele, ajuda a fugir das tentações criadas por anúncios cada vez mais persuasivos. Para quem tende a comprar por impulso, Besarria lembra que esse comportamento costuma aparecer nos índices de endividamento e inadimplência. “Há consumidores que entram na Black Friday sem qualquer planejamento. O resultado é a necessidade de renegociar dívidas nos mutirões promovidos por bancos e pelo governo”, observa.
A Paraíba registrou crescimento de 4,95% no número de inadimplentes em agosto de 2025, em comparação com o mesmo mês do ano anterior, segundo dados do SPC Brasil. Cada consumidor deve, em média, R$ 4.770, sendo que 41% das dívidas não ultrapassam R$ 1 mil.
A jornalista Beatriz Viana, de 27 anos, faz parte do grupo que tenta se planejar. Ela conta que já começou a comparar preços de um micro-ondas em marketplaces, uma espécie de “shopping virtual” que reúne produtos de diversos vendedores em uma única plataforma on-line, como Amazon, Mercado Livre ou Magalu. “Salvo os anúncios e o valor de cada um para ver se, na Black Friday, vai ser realmente mais barato ou a mesma coisa”, conta ela, que tem se frustrado com a pesquisa inicial que vem realizando até o momento.
“Já consegui alguns cupons de descontos, mas, quando é calculado o preço final, sempre está diferente do que é anunciado. Se no marketplace o preço está R$ 300, quando você vai no aplicativo da loja em específico, com o valor do frete e dos juros, ao final, fica o preço normal, sem descontos”, conta Viana.
Mesmo com outras dívidas no cartão de crédito, ela planeja parcelar a compra do eletrodoméstico devido à sua necessidade pessoal. “Costumo visitar os sites e ficar enchendo a cesta com os produtos, mas geralmente demoro mais para comprar. Só quando é algo bem necessário mesmo que eu finalizo a compra”, acrescenta.
Com o planejamento inicial realizado, o economista Cássio Besarria recomenda que gastos fixos não ultrapassem 30% da renda familiar. “O ideal é usar recursos próprios para obter um desconto maior. Caso vá se endividar, é preciso verificar se os juros cobrados são menores do que o desconto oferecido. Se não forem, é melhor juntar o dinheiro e comprar em outro momento”, orienta. Mesmo consumidores que pesquisam antes podem cometer erros nessa etapa.
Nos últimos anos, o mercado criou estratégias para estender o período de compras, como o Esquenta Black Friday, a Black Week e até o Black November, com descontos durante todo o mês. O objetivo é diluir o pico de consumo, mas o efeito colateral pode ser o aumento da exposição do consumidor às tentações. “Quem não tem um plano de compras acaba comprando várias vezes, achando que cada oferta é imperdível”, comenta Besarria.
E se, mesmo com cuidado, o consumidor cair em uma fraude? O economista orienta que a primeira reação deve ser interromper o pagamento e procurar o banco. “Se for identificado golpe, é preciso registrar boletim de ocorrência e seguir os trâmites normais para casos de consumidor lesado”, explica. Para Beatriz Viana, a experiência em anos anteriores serve de alerta. “Já vi muita oferta que não era real. Mas também já encontrei descontos bons, especialmente em cosméticos e acessórios. O segredo é não ter pressa e pesquisar”, conclui.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 29 de outubro de 2025.