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Mudar de carreira requer “pés no chão” e preparo

publicado: 11/03/2024 11h12, última modificação: 11/03/2024 11h12
Para fazer transição de forma assertiva é preciso inicialmente autoconhecimento

por Michelle Farias*

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Layse se tornou maquiadora buscando realização pessoal - Foto: Arquivo pessoal

Em 2019, Layse Uchôa se formou no curso de Enfermagem após não conseguir aprovação no vestibular para Odontologia, curso de sua preferência. Por nove anos ela atuou como enfermeira assistencial, até decidir alterar completamente sua vida profissional e se tornar maquiadora. Assim como ela, muitos profissionais mudam de carreira em busca de maiores salários, melhores condições de vida e até mesmo por satisfação pessoal. No entanto, a transição requer planejamento para que seja bem sucedida.

“Ao longo dos anos eu percebi a desvalorização da classe de enfermagem e considerei buscar uma nova profissão onde eu pudesse me sentir valorizada. É importante buscar um caminho que traga realização e reconhecimento, e a busca por uma nova carreira pode ser uma oportunidade para encontrar um ambiente mais adequado às suas expectativas e aspirações”, revelou.

Ao se tornar cada vez mais desafiador conciliar os plantões na enfermagem com os atendimentos, Layse optou por se dedicar exclusivamente à maquiagem. A decisão ousada trouxe medo inicialmente, porém, ela afirma que no processo de transição recebeu o apoio de pessoas próximas. “Às vezes, as nossas verdadeiras vocações nos encontram e nos guiam para os caminhos que realmente nos realizam”, pontuou.

Layse acrescentou que como maquiadora, encontrou a plenitude da felicidade e realização profissional aliada a uma maior qualidade de vida. A liberdade de poder definir o próprio horário de trabalho e a flexibilidade para conciliar as responsabilidades familiares e pessoais são outros pontos positivos apontados por ela.

O psicólogo Elder Rolim orientou que para fazer a transição de carreira de forma assertiva é preciso inicialmente autoconhecimento, uma reflexão sobre valores, habilidades, paixões e saber exatamente o que é essencial para essa nova carreira, finalizando com um planejamento estratégico.

“Esse planejamento é importante para que se possa fazer cursos adicionais necessários, fazer uma poupança caso seja o provedor da família, por exemplo, e precise eventualmente ficar um tempo sem trabalhar. Tudo isso é importante para que seja tranquila essa transição”, explicou.

Ele acrescentou ser comum uma transição às pressas, sem planejamento, quando o trabalho causa sofrimento e o profissional adoece. Quando se encontram nesta situação, muitas vezes não há tempo para fazer algo mais seguro.

De advogada a estudante de Medicina

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Isabela Marinho: “Estou extremamente feliz e realizada” - Foto: Arquivo pessoal

“Me deparei com uma realidade que não tinha nada a ver comigo, não me identifiquei em nenhuma das áreas do Direito”. A declaração é de Isabela Marinho, formada em Direito e atualmente estudante de Medicina. Ela chegou a atuar como advogada por oito meses, mas percebeu que não queria continuar na profissão.

“Escolhi Direito por imaturidade, era um curso promissor em termos de concurso público, e mesmo sem me identificar com a aérea, coloquei na cabeça que iria logo conquistar minha independência financeira. Mas por não ter sonhado com o Direito ou com um cargo na área jurídica, eu não sabia nem para o que estudar”, conta.

Ao desistir da carreira jurídica, ela passou a ajudar a mãe no comércio de joias e semijoias. Fez curso de “furar orelha” e comprou todo o material. Foi o feedback de uma cliente que a fez retomar um sonho antigo de cursar Medicina.

No período da pandemia da Covid-19 ela então se matriculou em um cursinho pré-vestibular e passou a estudar até ser aprovada em Medicina. “Sou extremamente feliz e realizada. Me formo em 2026 e esses quatros anos que já se passaram foram prazerosos e gratificantes. Eu me encontrei na Medicina, me dedico muito”, arrematou.

36% pretendem mudar de área profissional

Pesquisa realizada pela consultoria de recrutamento Robert Half mostrou que, neste ano, 36% dos trabalhadores entrevistados pretendem mudar de área profissional, em busca de melhores salários e mais flexibilidade. As áreas ligadas à tecnologia são as mais buscadas inclusive por profissionais com mestrado e doutorado em ciências humanas e até da saúde.

A psicóloga coidealizadora da Roots Talent, Márcia Peixoto, explicou que é preciso verificar se o profissional tem realmente o perfil para a carreira almejada. O maior risco, segundo ela, é errar o “caminho”, como por exemplo, fazer transição de carreira e não ter aptidão para a nova profissão escolhida.

 “Às vezes é necessário uma nova formação, depende muito da carreira, mas é sempre bom estudar para se atualizar com relação às novidades da carreira escolhida. Importante analisar bem todas as possibilidades desta nova carreira, entender bem o mercado e as inovações; procurar por autoconhecimento para validar se as escolhas estão certas. Ou seja, planejamento”, explicou.

Especialista em Docência Superior e Planejamento Tributário, Danúbia Leite acrescentou que não há uma idade limite definida para fazer uma transição de carreira. Muitas pessoas optam em diferentes estágios da vida, seja no início da carreira ou mais tarde, após acumularem experiência.