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ATAQUE DE FUNGOS

Palmeiras-imperiais em perigo

publicado: 22/07/2024 09h51, última modificação: 22/07/2024 09h51
Levantamento feito pela Semam mostra que 40 árvores da espécie morreram somente neste ano, na capital
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Solo contaminado favorece o alastramento dos patógenos, que penetram nas plantas pela raiz e as fazem definhar | Foto: Roberto Guedes

O paredão de árvores que recepciona quem passa pelo Parque da Lagoa, um dos principais cartões-postais de João Pessoa, está um pouco diferente nas últimas semanas. Em alguns pontos, o verde exuberante perdeu espaço para o acinzentado de caules ressecados, impactando a paisagem e estampando um problema ambiental: a morte de palmeiras-imperiais, da espécie Roystonea oleracea.

Só neste ano, a cidade perdeu 40 exemplares que ornamentavam o Parque da Lagoa, a Avenida Getúlio Vargas e a Avenida Epitácio Pessoa. A causa, segundo o engenheiro agrônomo e diretor de Controle Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente de João Pessoa (Semam), Anderson Fontes, foi o ataque de fungos apodrecedores do sistema radicular, que quebra o pescoço das palmeiras. O fungo penetra em toda a planta pela raiz, impedindo que se alimente da sua seiva, provocando o ressecamento das folhas. “Os primeiros sintomas são as folhas amarelando, depois começam a secar e vão definhando até cair completamente. Por isso que se chama quebra do pescoço. Elas ficam totalmente sem folhas. Nessa fase da doença, infelizmente, não é mais possível salvá-la e ela morre”, explica.

Anderson esclarece, ainda, que o solo contaminado pode facilitar o alastramento desses fungos. Por isso, a Semam tem intensificado o combate às doenças, com aplicação de uma mistura de dois tipos de fungicida (à base de cobre e com tiabenzanol). “Essa aplicação é realizada diretamente no solo, na projeção abaixo da copa da planta, onde se encontra o sistema radicular dela. Molhamos até o raio de um metro e meio da planta adulta, que permaneceu junto às árvores que foram atacadas pelos fungos, para controlar o patógeno que esteja avançando”, destaca.

Além disso, a Divisão de Arborização e Reflorestamento (Divar) da Semam tem trabalhado exclusivamente na monitorização das árvores da cidade, para prevenir e diagnosticar a presença de exemplares com doenças. Composto por técnicos habilitados em fitopatologia e entomologia, o departamento utiliza equipamentos adequados para realizar o diagnóstico ainda no início da doença, quando o tratamento é eficaz. “Nós fazemos um trabalho contínuo em duas frentes: prevenção e controle da doença. A prevenção se dá por meio de podas bem feitas, assepsia, manutenção de adubação em árvore. Quando a planta já está infectada, focamos no combate e no controle, para impedir que se espalhe e que mate a palmeira”, resume Fontes.

Mesmo com as ações preventivas e de combate às doenças, algumas árvores não resistem e morrem, como aconteceu com as 40 palmeiras-imperiais. Nesse caso, a Semam retira a árvore, desinfeta o solo e faz o reflorestamento. “Tratamos o solo e as árvores ao redor, para que possa receber uma nova palmeira saudável. É feito todo um estudo, um preparo da área para colocar a planta certa no local certo”, complementa Anderson.

Considerada uma das palmeiras mais altas do mundo, a palmeira-imperial chega a até 40 m quando adulta e tem um crescimento rápido, podendo atingir 1 m por ano. As folhas também são extensas, entre 3 m e 5 m de comprimento, enquanto o caule é liso, de uma coloração cinza-escuro, e os frutos cilíndrico-alongados, na cor roxa. É uma das mais belas e imponentes espécies de palmeira.

Trazidas no século 19 pela Família Real, árvores marcam a história do Brasil

Foto: Carlos Rodrigo

A palmeira-imperial está entre as árvores que mais marcaram a história e a imagem do Brasil. Vista à frente de grandes casas, fazendas, solares, edifícios públicos e praças, é, até hoje, um importante elemento para o paisagismo. “As palmeiras são fundamentais no paisagismo urbano por sua estética imponente e versatilidade. Elas transformam áreas urbanas em espaços mais atrativos e agradáveis, contribuindo para a qualidade de vida dos moradores. Além disso, possuem importância histórica significativa, sendo símbolos de prosperidade e status”, destaca o arquiteto, paisagista e chefe da Divisão de Licenciamento Ambiental da Semam, Arthur Brasileiro, que também é membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Paraíba (CAU-PB).

Originária das Antilhas, na América Central, foi trazida ao Brasil pela Família Real, no século 19. Por isso, ganhou no nosso país o nome de palmeira-imperial ou palmeira-real. A primeira delas, como explica Arthur Brasileiro, foi plantada em 1809, pelo então príncipe Dom João VI, tornando-se símbolo da aristocracia brasileira. Todas as palmeiras-imperiais cultivadas no país descendem dessa primeira palmeira, que foi batizada de Palma Mater.

De lá para cá, espalhou-se pelo país. Só na capital paraibana, são 1.800 exemplares nas ruas, avenidas, praças e parques. O número é 157% maior que o registrado até junho do ano passado, quando havia 700 exemplares na cidade. “Com sua capacidade de se adaptar a diferentes climas e solos, e de exigir pouca manutenção, são ideais para praças, avenidas e jardins”, atesta o paisagista. Mas é no Parque Solon de Lucena que elas formam o cenário mais marcante de João Pessoa, sendo o maior anel viário interno do Brasil com palmeiras-imperiais originais da época do Império, vindas diretamente do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

João Pessoa também ostenta a maior concentração de palmeiras-imperiais por metro quadrado, no Parque Arruda Câmara (Bica). Em 11 m2, há 13 espécies plantadas. “Não existe nada, desse tipo, em outro local do país. É um número alto por metro quadrado; não seria possível fazer isso hoje”, atesta Anderson Fontes.

Outras espécies catalogadas

Além das palmeiras-imperiais, João Pessoa possui outros 14 tipos de palmeiras catalogadas. Entre elas, a pindoba, plantação totalmente nativa da Mata Atlântica. “Nós temos, também, as palmeiras açaí, coqueiro, macaíba, palmeira buriti, carnaúba, palmeira catolé, palmeira letânea, palmeira areca bambu, as palmeiras de manilha, as palmeiras da China, as palmeiras rabo de peixe, a triangular e as palmeiras mexicana, para fins, principalmente, de paisagismo”, complementa Anderson Fontes. Todas as espécies catalogadas são acompanhadas pela Semam, mesmo em locais privados.

Caso alguém tenha interesse em cadastrar a espécie cultivada em local privado, pode entrar em contato com a Semam, pelo número (83) 3213-7018. “Conversamos sobre doenças, tratamentos e questões nutricionais, por exemplo, para que as plantas sejam conservadas”, finaliza Fontes.

Com valor cultural, plantas precisam ser preservadas

Que o plantio das palmeiras-imperiais embelezam a cidade, não há dúvidas. Mas os benefícios ultrapassam a questão estética, segundo o paisagista Arthur Brasileiro. Elas servem de hábitat e fonte de alimento para várias espécies de fauna urbana, ajudando a equilibrar o meio ambiente, e ainda contribuem para a qualidade do ar, tornando os espaços mais agradáveis.

Por isso, a preservação da vegetação é crucial para a biodiversidade e os benefícios ecológicos que proporcionam. “Sua conservação também tem valor cultural e histórico, muitas vezes associada à identidade e ao patrimônio das cidades. Proteger essas plantas garante que futuras gerações possam desfrutar de seus benefícios e beleza, promovendo um ambiente urbano mais saudável e sustentável”, ressalta o paisagista.

Saiba Mais

Uma palmeira-imperial pode viver mais de 120 anos em ambientes urbanos, mesmo a planta sofrendo interferências provocadas pelo homem, a exemplo da poluição causada pelos automóveis. Para se ter uma ideia da longevidade dessa espécie, a Palma Mater morreu devido a um raio, em 1972, durando 163 anos.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 21 de julho de 2024.