O Brasil tem 29,3 milhões de pessoas donas do próprio negócio. Deste total, 51,8% (15.220.480) se autoclassificam como pretos e pardos (negros). Na Paraíba são 64% dos empreendedores nesse perfil, conforme pesquisa divulgada, ontem, pelo Sebrae. O objetivo é identificar o perfil dos donos de negócio por raça-cor, com foco no segmento das pessoas que se autodeclaram pretas e pardas (raça-cor negra), a partir dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
O levantamento “Empreendedorismo por raça-cor: foco no segmento dos que se autodeclaram pretos e pardos (raça-cor negra)” revela um perfil e as desigualdades dos empreendedores e empreendedoras que têm essa identidade. Em todo o país, 77,6% dos donos de negócios que se autodeclaram pretos e pardos ganham até dois salários mínimos, 9,6% ganham de dois a três salários mínimos, 8,5% de três a cinco salários mínimos e 4,3% ganham cinco salários mínimos ou mais.
Outro recorte da pesquisa é considerando os empreendedores por faixa de renda e sexo. Enquanto o maior percentual de homens brancos (30%) ganha de um a dois salários mínimos, o maior percentual de homens negros (44%) ganha até um salário mínimo. No caso das mulheres, o maior percentual das mulheres brancas (34,5%) ganham até um salário mínimo. Já as mulheres negras (59,4%) ganham até um salário mínimo.
Empreender para a mulher é complicado e é ainda mais para a mulher negra. No contexto profissional, vemos posturas silenciosas de racismo - Mércia Silveira
Esses números revelam na prática que ainda há muito a avançar e melhorar na sociedade, sobretudo com relação ao racismo. A psicóloga Mércia Silveira empreende com a sublocação de salas para outros profissionais de saúde. Ela conta que, com relação aos pacientes, nunca sofreu racismo ou descriminação por ser uma mulher preta. No entanto, dentro do universo profissional já passou por situações de preconceito e racismo velado. “Empreender para a mulher é complicado e para a mulher negra é mais ainda. No contexto profissional como um todo, vemos movimentos de preconceito, posturas silenciosas de racismo. Os desafios e desigualdades são muitos. Mas não podemos deixar isso nos abalar, porque podemos ter o nosso negócio, como qualquer pessoa, independente da cor e gênero”, completou.
Reavaliando a caminhada no empreendedorismo, que começou em 2019, agora a psicóloga está buscando consolidar mais o nome no mercado. “Em tudo que busquei fazer sempre procurei me capacitar. Inclusive, foi após palestras e orientações do Sebrae que definir melhor como poderia começar a empreender. Agora, estou me reinventando no empreendedorismo novamente”, falou.
Mais dados
Entre os donos do negócio pretos e pardos é menor o nível de escolaridade. De acordo com a pesquisa do Sebrae, cerca de 45,1% têm até Ensino Fundamental, 41,7% têm até Ensino Médio e apenas 13,2% têm nível superior, incompleto ou mais. Já com relação ao setor de atuação dos empreendimentos, a maior parte dos empreendedores pretos está no setor de serviços (40%), 21% no comércio e 15% na construção.
“Os números mostram ainda uma realidade adversa para os empreendedores pretos. Apesar de representarem um expressivo percentual de donos de negócios, são aqueles que ainda possuem as menores rendas se comparadas aos brancos. Além disso, quando olhamos os números que tratam de escolaridade, a desigualdade se torna ainda mais evidente. É uma realidade que precisa ser equalizada com o avanço das políticas públicas de igualdade racial. Há muitos espaços a serem conquistados, apesar do racismo estrutural ainda muito presente nos diversos setores da sociedade”, explicou o analista técnico do Sebrae/PB, Ismael Nóbrega.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 21 de novembro de 2023.