A nova edição da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgada, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) evidencia um movimento que se aprofundou na última década: a organização dos trabalhadores vem perdendo espaço na Paraíba, tanto nos sindicatos quanto nas cooperativas. Mesmo em um ano de pequenos avanços pontuais, os indicadores continuam recuando.
Em 2024, o número de pessoas sindicalizadas na Paraíba subiu de 148 mil para 155 mil, uma alta de 4,7% em relação ao ano anterior. Foi o primeiro crescimento após sucessivas quedas desde 2017, quando o estado registrava 253 mil sindicalizados. Há mais pessoas sindicalizadas, mas elas representam uma fatia menor do universo total de trabalhadores, porque esse universo ficou maior.
Prova disso é que a taxa de sindicalização caiu de 9,5%, em 2023, para 9,3%, em 2024, atingindo o menor nível da série iniciada em 2012. O indicador mantém a trajetória descendente observada desde 2018, quando era de 14,7%. Apesar disso, a Paraíba ainda permanece acima da média nacional, de 8,9%, e registra o quinto maior índice do Nordeste.
A queda nas associações a cooperativas acompanha esse cenário. Em 2024, apenas 3% dos empregadores e trabalhadores por conta própria estavam vinculados a cooperativas de trabalho ou produção na Paraíba, ante 4,9% no ano anterior. É o menor percentual desde 2012. Nesse quesito, o estado aparece abaixo das médias do Nordeste (3,5%) e do Brasil (4,3%), o que indica que o enfraquecimento dessas estruturas coletivas é ainda mais acentuado no contexto paraibano.
A tendência de queda proporcional na sindicalização também aparece em um dos maiores sindicatos da Paraíba, o Sindicato dos Docentes da Universidade Federal da Paraíba (Adufpb), que reúne cerca de dois mil docentes. Embora o número absoluto de associados permaneça estável há anos, o número total de professores da universidade aumentou e, com isso, a taxa de sindicalização encolheu. Segundo Edson Franco, presidente da entidade, esse movimento é influenciado por uma combinação de fatores estruturais e políticos.
“Houve uma campanha muito forte para desacreditar os sindicatos, especialmente nos últimos governos, e a contrarreforma trabalhista foi um ataque direto às entidades. Ela abriu espaço para a saída em massa de trabalhadores, enfraquecendo a capacidade de organização”, afirma. Ele acrescenta que a reforma da Previdência também teve impacto relevante.
“O professor que antes se aposentava com salário integral hoje precisa complementar a renda por meio do fundo previdenciário. Isso leva muitos a focar em estratégias individuais e não coletivas”, defende Franco. Do ponto de vista institucional, ele aponta que parte da categoria perdeu a confiança no papel do sindicato, que é o de acompanhar decisões que afetam as condições de trabalho, defender direitos e atuar nas lutas de classe que moldam o ambiente profissional.
Para o economista Filipe Reis, o enfraquecimento da sindicalização está diretamente ligado à expansão de uma cultura econômica mais individualista. Ele explica que, nas últimas décadas, o discurso do empreendedorismo e da autossuficiência passou a ocupar um espaço central no mercado de trabalho.
“Há uma constante divulgação da ideologia neoliberal, que reduz a consciência da classe trabalhadora sobre sua própria condição”, observa.
As consequências econômicas desse cenário, segundo o especialista, são evidentes na ampliação da precarização e da desigualdade social. Ele menciona especialmente o avanço dos trabalhos por aplicativo, caracterizados por longas jornadas e baixa remuneração. “Muitos precisam trabalhar 12 horas por dia para conseguir uma renda razoável. Isso limita o tempo de convívio social e comunitário, gerando aumento da disparidade salarial e concentração de renda”.
Para o presidente do sindicato, as consequências desse desengajamento recaem diretamente sobre os próprios trabalhadores. “Quando a base é forte, a entidade ganha musculatura para negociar. Se a categoria se afasta, perde representatividade. E aí decisões importantes, como reformas administrativas ou mudanças nas regras de jornada, acabam sendo tomadas sem diálogo. Estar sindicalizado fortalece o coletivo e protege o indivíduo”, conclui.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 20 de novembro de 2025.