A Paraíba é o estado que possui a maior produtividade do país na criação de camarão, com uma produção de 15 toneladas por hectare. Terceiro maior produtor de camarão do país, ficando atrás apenas de Ceará e Rio Grande do Norte, o estado paraibano produz anualmente entre 30 e 40 mil toneladas, de acordo com o presidente da Associação dos Criadores de Camarão da Paraíba (ACPB), André Jansen.
Recentemente, os produtores conseguiram inserir o camarão no cardápio da merenda escolar dos municípios de Itabaiana, Juripiranga, Mogeiro, Salgado de São Félix e João Pessoa. No ano que vem, o item deve compor também a merenda das escolas estaduais.
Segundo André Jansen, esse grande potencial produtivo ocorre principalmente pela qualidade da água do Rio Paraíba, que é salobra e, por isso, excelente para a criação de camarão marinho. Outro fator importante é a ajuda do Sebrae, que há oito anos desenvolve ações junto aos produtores do Vale do Paraíba.
"Sebraetec permite que os produtores tenham 70% de desconto na obtenção das licenças necessárias para atuar na carcinicultura"
- André Jansen
“Ninguém sabia que existia camarão no Vale do Paraíba”, afirmou o gestor do Sebrae, Pablo Queiroz. Ele contou que, há oito anos, a produção de camarão daquela região foi identificada como uma potencial transformadora por um projeto de desenvolvimento territorial no qual trabalhava. Com isso, o Sebrae passou a ofertar diversos tipos de auxílio aos produtores.
O mais importante deles se deu por meio do Sebraetec, que permite que os produtores tenham 70% de desconto na obtenção das licenças necessárias para atuar na carcinicultura. “O Sebrae é peça fundamental nesse crescimento. Sem o Sebrae, a gente não teria saído do lugar”, comentou André Jansen. Segundo ele, 98% dos associados são microprodutores, ou seja, criam camarão em uma área de até dois hectares, e muitos deles não tinham nenhuma licença.
Ele contou que o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) também tem um programa de assistência ao produtor, e a Agência Estadual de Gestão das Águas (Aesa) também dá apoio, além da Prefeitura de Itabaiana, onde a associação está sediada. Ainda assim, André considera o Sebrae o parceiro mais importante, pois permitiu que muitos produtores saíssem da informalidade e pudessem, assim, comercializar seus produtos com responsabilidade e segurança.
Cursos de capacitação e outros negócios
Além de ajudar na obtenção das licenças, o Sebrae também promove cursos de capacitação para os produtores e a Feira de Negócios do Vale do Paraíba (Fenevale), que neste ano terá sua sétima edição realizada em agosto.
A feira, inclusive, ajudou a aproximar os produtores e a população, na avaliação de Pablo Queiroz. “Havia um pensamento de que criar camarão seria ruim para o rio, mas não é assim, é o contrário, o produtor trata a água. E hoje as pessoas enxergam que a produção gera emprego e renda na região”, explicou.
O gestor revelou que trabalha agora numa estratégia para associar o turismo com a criação, gerando outra fonte de emprego e renda. A ideia é abrir algumas fazendas de camarão para a visitação, de forma semelhante ao que se faz com as fábricas de cachaça em Areia.
“Queremos levar isso para a gastronomia também. O restaurante Cantina do Sabor, que é de Itabaiana, fez uma consultoria com a gente para criar um cardápio só com camarão. Eles não serviam camarão antes”, contou Pablo.
Usina
Apesar dos números expressivos, o estado ainda não conta com uma usina para beneficiamento do camarão, que muitas vezes precisa ser levado para outros estados para isso, antes de retornar aos supermercados locais.
Esse problema, porém, está com os dias contados, graças a uma parceria entre Governo do Estado, Sebrae, Organização de Cooperativas Brasileiras na Paraíba (OCB-PB) e parlamentares.
- Terreno da Cinep, em Itabaiana, vai abrigar usina de beneficiamento com 300 empregos diretos
A Cooperativa dos Criadores de Tilápias e Camarões do Estado da Paraíba, que também é presidida por André Jansen, recebeu da Companhia de Desenvolvimento da Paraíba (Cinep) um terreno em Itabaiana para construir sua própria usina de beneficiamento. O investimento para a construção virá de emendas parlamentares. A expectativa, segundo André Jansen, é de que sejam criados até 300 empregos diretos.
Ele acredita ainda que os produtores terão melhores condições de venda, já que não dependerão mais de atravessadores, uma vez que conseguirão processar os próprios produtos.
Já Pablo Queiroz acredita que os carcinicultores poderão iniciar a exportação dos camarões. “Aumentando a capacidade de produção, é possível. O produto de qualidade eles já têm”, afirmou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 26 de maio de 2024.