Pensando nas pessoas que se preparam para concursos públicos e o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), os empreendedores paraibanos identificaram uma oportunidade de investimento. Alguns empresários estão apostando nos aluguéis de cabines de estudos e obtêm faturamento anual entre R$ 30 mil e R$ 180 mil, em João Pessoa. Outros optaram por investir em cursos preparatórios e faturam entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão.
A engenheira civil e proprietária da cabine Cérebro, Raniely Leite, tinha um dinheiro guardado e após muita pesquisa de mercado decidiu investir em uma cabine de estudos. Para garantir que o investimento de R$ 200 mil seria bem aplicado, contratou uma equipe de design de interiores para o projeto, como também instalou um sistema de energia solar para diminuir os custos.
“Eu visitei várias empresas na época para identificar as necessidades dos estudantes. Um dos diferenciais da minha empresa é a oferta de mesas de estudo com um metro de comprimento, proporcionando mais conforto aos usuários. Além disso, a cabine conta com uma sala de estudos em grupo e um ambiente destinado à socialização”, disse Raniely.
Atualmente, existem mais de 15 empresas que oferecem ambientes de estudos em João Pessoa. Na avaliação da empresária, este segmento tem mercado devido ao perfil do paraibano. “Quando fiz a minha pesquisa em 2020, constatei que a capital paraibana é uma das cidades do Nordeste que mais possuem ambientes de estudo, pois o paraibano busca estabilidade profissional e financeira”, analisou.
Na cabine Cérebro é possível encontrar pacotes que variam entre R$ 135 e R$ 370 mas no momento não há mais vagas disponíveis. “Entre fevereiro e abril, é o período de maior procura. E a ocupação só começa a esvaziar após a prova do Enem”, disse.
A cabine Atitude se encontra com 90% de ocupação do total de 85 cabines disponíveis, distribuídas nas unidades Tambaú e Manaíra. O bancário e proprietário da Atitude, Rodrigo Octávio Lima, investiu nesta área para complementar a renda. Segundo ele, não é possível faturar muito dinheiro, pois é preciso manter um padrão de qualidade devido à limitação de espaço.
“Muitos estudantes contrataram a cabine em período integral, que é menos rentável que uma academia, por exemplo, pois não tem rotatividade”, analisou. Em seu estabelecimento é possível encontrar vagas apenas no turno da noite ou no fim de semana, os pacotes variam entre R$ 120 e R$ 320.
Localizada em Tambauzinho, a cabine de estudos 3F possui 40 cabines, mas apenas 12 disponíveis para aluguel. O professor de Química e proprietário, Angeolino Pontes, afirma que o diferencial do seu negócio são os preços acessíveis. “No pacote por fim de semana semestral, o aluno paga R$ 100. Já na opção mais completa (três turnos, mais o fim de semana), R$ 270”, revelou.
A maioria das empresas de cabines de estudos oferece comodidades como, armários individuais com chave, acesso por biometria, monitoramento eletrônico de segurança, espaço de leitura, ambiente climatizado, banheiros, cadeiras ergonômicas, cozinha e isolamento acústico. O serviço de cabines de estudo oferece pacotes que variam de mensal a semestral, permitindo que os estudantes escolham os horários que melhor se adequem à sua rotina, incluindo opções para o fim de semana. É possível encontrar estes espaços nos bairros: Bancários, Tambauzinho, Jardim Oceania, Aeroclube Manaíra, Tambaú, Altiplano, Jardim Luna e Miramar.
A procura por cursos preparatórios aumentou consideravelmente no segundo semestre de 2024. As áreas de maior interesse dos candidatos são segurança pública, como também administrativa e área jurídica.
Em 2024, diversos editais foram publicados e cada área de atuação trabalha com conteúdos específicos. Na percepção da diretora do curso Everest, Paula Miguel, a preparação de forma direcionada é fundamental para alcançar a aprovação. “O preparatório transmite o conteúdo de forma objetiva, resumida e com foco total na banca examinadora”, destacou a diretora.
Investir em local de estudo traz resultados
A maioria dos estudantes que procuram cabines de estudo são concurseiros, mas há também aqueles que vão fazer Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), residência médica e Enem para medicina. O advogado José Vale desde 2019 se dedica quase exclusivamente aos estudos para concursos. No início, estudava em casa, mas seu rendimento era insuficiente para os cargos que almeja passar. Por isso, optou pelo pacote semestral no Cérebro, que dá direito a utilização nos três turnos, incluindo fins de semana. “São concursos que a vaga aparece a longo prazo, como magistratura, Defensoria Pública e Ministério Público. É muita renúncia com a família e esposa, mas como ela está na residência médica, estamos no mesmo ritmo de vida”, explicou.
"Só de cabine gasto R$ 4.200 por ano, já estes cursos específicos variam até R$ 3 mil"
- José Vale
Por ser um concurso concorrido, José investiu em diversos livros, Vade Mecum e cursos preparatórios para o magistério que não possuem assinatura vitalícia. “Só de cabine, gasto R$ 4.200 por ano, já estes cursos específicos variam até R$ 3 mil. Faço também assinatura de programas que oferecem questões para serem respondidas. Tenho um material de estudo diversificado”, contou.
Já a estudante Taynara Duarte cursa o terceiro ano do Ensino Médio em uma escola no bairro dos Bancários. No início do ano letivo pediu aos pais para estudar em uma cabine de estudos no turno da tarde, pois pretende ingressar no curso de Medicina. “Eu deixo meu notebook e material de estudo aqui. Meu rendimento aumentou bastante pois aqui não tem distrações”, contou.
Além da escola, os pais de Taynara pagam R$ 400 em um curso on-line com todas as disciplinas para quem deseja passar para o curso de Medicina. “Este curso disponibiliza um plano de estudos para você assistir aulas por módulos, resolução de exercícios e redação durante toda a semana. O apoio pedagógico da escola também tem sido fundamental”, contou.
Gabriel Coelho estuda para o Enem na cabine 3F. Para o candidato, a cabine potencializa os estudos pois é um ambiente livre de distrações. “Na cabine você não tem desculpas para procrastinar: é você e os estudos. Uma atividade em casa eu faria em duas horas, na cabine eu consigo executar em 50 minutos”, comparou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 1º de setembro de 2024.