A produção de ovos na Paraíba cresceu 243% entre os anos de 2004 e 2024. Esse número é maior que o crescimento médio brasileiro (101%) e que o da Região Nordeste (157%) no período. Os dados são da Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Com 74,7 mil dúzias de ovos produzidas em 2024, o estado é o quinto maior produtor da região. Na criação de galináceos (galinhas, frangos, galos, pintainhas e pintos), o crescimento foi de 75% entre 2004 e ano passado. Hoje, a Paraíba é o quarto maior produtor de galináceos do Nordeste e vende carne de aves para o exterior.
Esse quadro da avicultura paraibana tem a contribuição de políticas públicas, condições naturais e um esforço implacável de grandes e pequenos produtores, como Sandra Rodrigues, de 60 anos.
No município de Lagoa Seca, ela já deu muitos voos curtos ao plantar e criar no sítio Pai Domingos. Até que, em 2012, passou por um curso básico de avicultura do Sebrae. “No mesmo ano, botei um lotezinho de frango. Não deu certo, mas deu pra tirar um trocado”, lembrou-se.
Em 2014, entrou para o ramo de produção de ovos com 300 galinhas. Quebrou mais uma vez. A persistência e a correção de trajetória mudaram seu horizonte. Atualmente, Sandra tem 2,9 mil galinhas de postura de ovos caipiras num negócio familiar. “Meu marido era servente de pedreiro em Campina [Grande] e meu filho, que não acreditava que a gente ia pra frente, hoje é diretor comercial da cooperativa”, contou. Além deles, Sandra ainda emprega um jovem.
O objetivo agora é chegar a cinco mil galinhas poedeiras caipiras. “Aqui, os ovos já saem saudáveis. As galinhas botam os ovos cantando. Lá, elas botam chorando”, comparou com a criação tradicional, onde as galinhas passam a vida confinadas.
Caipira
Pioneiro na classificação do sistema caipira de ovos e frangos, o estado da Paraíba produz diariamente 200 mil ovos nesse modelo. “Podendo ser até mais”, disse Erasmo Araújo, coordenador especialista em arranjos produtivos locais do programa Paraíba Produtiva. O dado preliminar faz parte de um levantamento da Secretaria de Estado da Agricultura Familiar e Desenvolvimento do Semiárido (Seafds), junto com instituições parceiras, que ainda está em revisão final.
De acordo com Araújo, a produção caipira é certificada conforme a lei estadual no 11.854, de 2021. “Na Paraíba, o Serviço de Inspeção Estadual já adota essa terminologia na parte de rotulagem do produto quando a sua granja ou entreposto de ovos é submetido a esse serviço”, afirmou.
Na avaliação de Erasmo Araújo, a produção caipira tem uma grande parcela de contribuição no crescimento da produção de ovos. Isso porque é um modelo menos exigente que o industrial, mais barato do que a carne do frango e, ainda assim, é uma proteína de alta qualidade. E, durante a pandemia de Covid-19, essas características alargaram o mercado consumidor.
Para o coordenador do Arranjo Produtivo da Avicultura Caipira da Paraíba (Apac-PB), Wendell Lima, o segmento está alinhado à preocupação do consumidor em adquirir produtos livres de processos industriais e do bem-estar animal.
“O pessoal quer produzir um alimento mais natural, mais próximo daquela galinha de quintal da vovó. A avicultura caipira é uma produção natural, mas um pouco tecnificada para atender todos os requisitos legais”, disse o representante do setor. Entre esses requisitos, estão as seguintes proibições de uso: de antibióticos e medicação contra parasitas de forma preventiva nos animais; de restos dos próprios animais na ração; de corante artificial para dar cor à gema do ovo.
Galinhas livres
Para a postura de ovos caipiras, as galinhas são, no mínimo, criadas livres de gaiolas, mas dentro de um galpão. Ou num regime de mais liberdade, tendo acesso a uma área de pastejo controlada. “Para as aves pastarem um capim bom, tomar banho de terra, tomar banho de sol e não ter acesso a sujidades, esgoto, restos de animais mortos. Então a gente faz uma tela de proteção para não entrar nenhum predador”, explicou Lima.
E, claro, as minhocas estão liberadas na dieta. “Os insetos que passar por ali, ela vai pegar. Inclusive é uma grande fonte protéica”, informou Wendell Lima, que também é membro da Cooperativa Paraibana de Avicultura e Agricultura Familiar (Copaf). À noite, elas retornam a um abrigo.
Nutrir + PB
Com investimento de R$ 4 milhões, o Nutrir Mais PB compra semanalmente duas mil bandejas de ovos, com 30 unidades cada, e doa para famílias pobres de João Pessoa e Campina Grande. O programa ao mesmo tempo impulsiona os pequenos produtores e ajuda a combater a fome.
Além dessa iniciativa inaugurada neste ano, o governo do Estado tem o Programa Estadual de Aquisição de Alimentos e Compras Governamentais da Agricultura Familiar (Procaf) desde 2023. O coordenador da Apac-PB defende que é possível aumentar o fornecimento da produção caipira tanto para o sistema penitenciário quanto para unidades de saúde estaduais por meio do Procaf. Erasmo Araújo disse que a Seafds está em tratativas nesse sentido.
Município de Pocinhos tem mais galináceos do que habitantes
Se a produção de galináceos de Pocinhos fosse distribuída igualmente entre seus moradores, cada um teria o direito a 70 aves. Com uma população estimada em cerca de 18 mil em 2024, o município do Agreste paraibano produziu 1.250.000 cabeças no ano. Isso o coloca no topo do ranking dentro do estado, deixando para trás Pedras de Fogo, que liderava essa corrida desde 2020.
Um dos motivos que explica a produção de Pocinhos é a própria natureza. “Aqui é muito ruim de chuva, mas tem uma coisa que é maravilhosa e que o frango precisa: o clima bom, frio, mas o essencial é a ventilação. É a perfeição”, comentou Carlos Vieira, produtor de frango branco (sistema tradicional de produção).
O ambiente sem ventilação adequada pode matar os frangos confinados por conta da amônia das fezes e urina dos animais. “Só o galpão de pressão negativa consegue fazer o que a natureza deu de graça a Pocinhos”, explicou Vieira.
Água
O preço da água pode comprometer esse lugar mais alto do pódio produtivo. Segundo os produtores, o modelo de cobrança pode inviabilizar a atividade em alguns casos.
De acordo com Vieira, ele conseguiria baixar o preço final em até 8% se a cobrança da água não fosse por hidrômetro. “Na hora que bota um relógio desses [hidrômetro], aí o preço vem dobrado. Fica mais caro que buscar num açude”, argumentou.
Porém, o açude onde os produtores do município compram água na sede do município está quase seco nesse período do ano. “O que ia ajudar muito a atividade seria um ponto para ir lá e comprar essa água, como se faz em Campina [Grande]”, defendeu Hélio Melo, produtor local de frango branco.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de novembro de 2025.

