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CAMPINA GRANDE

Programa garante sustento para comerciantes de CG

publicado: 02/06/2024 22h45, última modificação: 10/09/2024 09h17
Ano passado, o São João injetou mais de R$ 500 milhões na economia local
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Flávio “palhaço” conseguiu verba para adquirir mercadoria que venderá no Parque do Povo | Foto: Julio Cezar Peres

por Maria Beatriz Oliveira*

O São João da Rainha da Borborema, que esse ano chega à sua 41a edição, é um dos maiores eventos do Nordeste, tanto em duração como em público. Se estende por mais de 30 dias e recebe mais de dois milhões de visitantes, que chegam para conhecer a festa junina mais famosa do país. É nesse período que Campina Grande se enche de turistas e que muitos pequenos empreendedores aproveitam para tirar boa parte de suas rendas do ano inteiro.

Flávio Rocha, por exemplo, é uma pessoa que talvez defina a palavra empreender. Sua vida inteira é uma empreitada marcada pela sobrevivência por meio da criatividade. Com 54 anos, Flávio passou metade da sua vida no circo, onde aprendeu que a alegria é o que deve vir primeiro em qualquer negócio.

Por isso, quando ele se veste para ir trabalhar no Parque do Povo, ele escolhe a fantasia e a maquiagem de palhaço como uniforme. “Há 15 anos tem sido assim, eu vendo brinquedos, guarda-chuva, capa, sobrinha. O dia de chuva é o melhor para o meu negócio”, conta Flávio.

Como os meses de junho e julho são conhecidos por serem chuvosos na cidade, é com as vendas desse período, que o palhaço precisa lucra o suficiente para se manter o resto do ano. Como empreendedor, além de ser palhaço, artesão e vendedor, Flávio também é agricultor, construtor e músico. Essa versatilidade vem garantindo seu sustento.

São comerciantes como ele que trabalham no Parque do Povo e se apoiam, muitas vezes, na receita proveniente da festa para o sustento da família durante todo o ano.

É no intervalo entre as festas que a história do palhaço se mistura com a do Empreender Paraíba, projeto da Secretaria de Empreendedorismo do Estado que, desde 2019, tem oferecido opções de créditos para comerciantes que atuam na festa junina de Campina Grande.

São empréstimos que vão de R$ 1.500 a R$ 15.000. “Em nossa primeira reunião com eles, já fazemos a orientação de como abrir o Microempreendedor Individual (MEI), quais os benefícios e responsabilidades que terão, mas não é um requisito para conseguir o crédito. O requisito mesmo é apresentar um bom plano de negócios e os documentos válidos”, explica Fabrício Feitosa, secretário de Empreendedorismo na Paraíba.

Os empreendedores que possuem o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) conseguem empréstimos de maiores quantias, podendo chegar até 100 mil reais, apesar de que possuir CNPJ também não ser requisito.

Para o secretário, “o programa é benéfico a todas as partes, tanto os comerciantes conseguem investir no negócio durante o período em que mais lucram, quanto a economia da cidade cresce”. Ano passado, o São João injetou mais de R$ 500 milhões na economia local, de acordo com informações da Arte Produções, empresa que organiza o evento.

Mesmo chegando ao seu quinto ano apoiando os trabalhadores da cidade, nem todo mundo conhece o Empreender. Por isso, a atuação de pessoas como Márcia Medeiros, presidente da Associação dos Ambulantes e Trabalhadores em Geral da Paraíba (Ameg), se torna fundamental.

Flávio, o palhaço, só conseguiu o empréstimo de R$ 9.000 porque Márcia o orientou. “Ela fez a ponte, me indicou para o Empreender, eu apresentei o plano de negócios com a quantidade de guarda-chuvas, de brinquedos, de capas que vendo, e deu certo. Com esse dinheiro vou poder comprar todos os produtos para vender no Parque do Povo e ainda decorar a barraca”, relatou.

Márcia conta que o início do ano é, normalmente, de muita angústia para os comerciantes. “A maioria fica sem receita por muito tempo. Assim, o programa é essencial para eles conseguirem remontar o negócio quando o São João chega novamente.”

Essa foi a primeira vez que Flávio ouviu falar do Empreender, mas outros já sabiam da iniciativa, porém, ainda não haviam precisado recorrer a ela. É o caso de Neusa Lima, dona de uma barraca de espetinhos no Parque do Povo há mais de 40 anos.

Diferente do palhaço, dona Neusa possui seu negócio formalizado. Porém, após a pandemia, a empresária se viu com problemas financeiros. “Ficou muito difícil recomeçar nossa estrutura. Eu precisava de capital para dar o primeiro passo. E aí eu lembrei do Empreender e fiz minha inscrição, consegui um empréstimo de R$ 8.200, com taxa irrisória. Com isso, eu vou conseguir comprar carne, frango, refrigerantes, cerveja, tudo que eu vendo na minha barraca”, conta.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 1º de junho de 2024.