Após dois anos de retração, o setor de beleza na Paraíba mostra sinais de recuperação. Dados da Receita Federal, compilados pelo Sebrae, mostram uma inversão na tendência de fechamento de empresas. Em 2024, o estado registrou um saldo negativo, com 3.204 empresas fechando as portas contra 2.826 aberturas. Esse cenário alterou-se nos primeiros nove meses deste ano, quando foram contabilizadas 2.263 aberturas frente a 1.448 fechamentos. O número representa uma queda de 55% no número de encerramentos em relação ao ano anterior, indicando um reaquecimento do mercado.
Para Raquel Santos, analista do Sebrae, esse comportamento acompanha um movimento de formalização dos empreendedores do setor. “O que a gente percebe é que os salões e profissionais começaram a se enxergar mais como empresários. Muitos antes achavam que bastava saber cortar cabelo e abrir um espaço em casa, mas hoje existe uma exigência maior de capacitação, de gestão e de entendimento do negócio. Isso vem estimulando novas aberturas”, avaliou.
O mercado movimenta- se também em torno da 17ª Feira Paraibana da Beleza, que será realizada do dia 28 a 30 de setembro, no Centro de Convenções de João Pessoa. O evento deve reunir cabeleireiros, barbeiros, maquiadores, manicures e esteticistas de várias partes do estado e de outros centros. Com mais de 100 marcas expositoras, a feira contará com workshops, lançamentos e demonstrações ao vivo, além da presença de profissionais reconhecidos nacional e internacionalmente.
De acordo com Raquel Santos, a feira cumpre um papel estratégico nesse cenário de retomada de fôlego do setor. “É um evento que abrange todas as linhas da beleza. Não se trata apenas de conhecer lançamentos, mas de investir em qualificação, networking e novos negócios. É uma oportunidade para os profissionais ampliarem sua visão de mercado”, disse.
Na ponta desse movimento estão profissionais como Leninha Bandeira, cabeleireira há 17 anos e dona de um salão no bairro dos Bancários, em João Pessoa. Ela formalizou-se como microempreendedora individual (MEI) e hoje administra o negócio sozinha, com parte do espaço do salão também alugado para estética. Ao falar sobre o impacto da feira no setor, ela expõe um ponto de tensão: “A Feira da Beleza é aberta ao público. Isso significa que os clientes compram os mesmos produtos que a gente usa, muitas vezes, com facilidade, e levam para casa. Isso reduziu muito o lucro de muitos cabeleireiros. Hoje, a gente precisa estar sempre inovando, fazendo promoção, porque senão não consegue competir”.
O perfil dos negócios ajuda a explicar essa realidade. O estudo do Sebrae mostra que 80% das empresas de beleza, no estado, estão enquadradas como MEI, 75% atuam em serviços e 54% são salões de cabeleireiros. Para Raquel, isso reforça a predominância da atividade de prestação de serviços em detrimento do comércio de cosméticos. “O setor de beleza é essencialmente de serviços. O salão trabalha com a autoestima das pessoas, e isso acaba impulsionando também a venda de produtos profissionais. Mas a base da atividade continua sendo o atendimento”, contatou.
A programação da feira reflete essa vocação. Serão mais de 170 estandes, palestras e apresentações de nomes como Paulo Pensil, Cláudio Germano e Maurício Brunetto. Haverá ainda a feira “Elas no Comando” e uma ação social inédita com exames gratuitos de ultrassom de mama, em parceria com a mastologista Joana Barros. O evento também deve impactar a economia local, com caravanas vindas de outras cidades e movimentação em hotéis e restaurantes.
Para a analista do Sebrae, a feira é um catalisador para o fortalecimento do setor. “Estamos falando de um encontro que coloca a Paraíba no calendário nacional da beleza. Os profissionais encontram atualização, as empresas fazem negócios e a cidade recebe visitantes que movimentam outros setores da economia. É um ciclo que fortalece toda a cadeia”, conclui Raquel.
.*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 24 de setembro de 2025.