O Brasil tem a terceira maior população de animais de estimação do mundo, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). De acordo com dados da entidade referentes ao ano de 2022, são cerca de 160 milhões de pets no país, entre cães, aves, gatos, peixes ornamentais, pequenos répteis e outros pequenos mamíferos. Isso torna o mercado de cuidados médicos e produtos para pets cada vez maior e mais lucrativo.
Esse setor do mercado brasileiro faturou R$ 68,7 bilhões em 2023, aumento de 14% em relação a 2022 e recorde do segmento. De janeiro a dezembro de 2023, o segmento de Alimentos para Animais de Estimação chegou a R$ 38,1 bilhões.
De acordo com dados do Sebrae Paraíba, o estado conta com 1.407 pet shops, sendo 820 deles em João Pessoa. “Nem todo pet shop tem veterinário. Mas temos um número crescente dos negócios, em geral, dessa área. Outros negócios comuns na área veterinária são as clínicas. Temos hoteis para animais, escolas de cursos para especializações veterinárias, laboratórios de diagnósticos, fabricação de produtos veterinários, serviços móveis, reabilitação e fisioterapia animal”, elencou o analista técnico do Sebrae Agência Sul, Lhano Osawa.
A psicóloga Rita Ramalho contou que todos os meses gasta cerca de R$ 500 com alimentação e higiene de Tchocco, um cachorro de seis anos da raça Shih Tzu. “Também tem os gastos com saúde que são previsíveis, como as vacinas, vermífugos e prevenção para carrapatos. A média anual é de R$ 1.000. Tem os gastos não previsíveis, como quando adoece: consulta médica, exames, medicação. No mês passado, tive uma despesa de R$ 1.100. Tem ainda despesas outras, como quando precisamos viajar e não temos como levá-lo. Uma diária num hotelzinho para pets custa em média R$ 80”, lembrou.
Ela afirmou que, por não ser o seu primeiro pet, já estava preparada para essas despesas, tanto que passou um ano planejando a adoção porque antes não estava com condições financeiras favoráveis. “Esse aspecto econômico precisa ser pensado com muita atenção. Muitas pessoas adotam raças que exigem produtos específicos, sem pensar no econômico, e acabam tendo problemas para manter o bichinho ou ele sofrendo com restrições”, destacou.
Ela acredita que a conexão com os animais justifica as despesas. “A companhia e o amor dele mais que compensam o que eu faço por ele. Sim, os gastos são para um ser que amo e respeito. Não é gasto, é investimento. Acho que as pessoas têm descoberto cada dia mais que a companhia dos pets é muito importante para a saúde mental da família”, comentou.
Veterinário diz ainda haver espaço para investir
Ainda há muitas oportunidades para a expansão desse mercado no estado, conforme acredita o médico veterinário Natanael Filho. “Esse mercado cresceu muito nos últimos anos, principalmente durante a pandemia. Teve um boom que João Pessoa não conseguiu acompanhar. Ainda falta muita coisa aqui”, avaliou. Ele decidiu investir na construção de um hospital veterinário na cidade, que deve inaugurar ainda neste ano.
Ele contou que teve a ideia justamente por perceber que era uma demanda não suprida. “Agora mesmo estou com uma paciente que é uma gatinha que nasceu com uma falha anatômica no coração e a tutora dela vai levá-la a Maceió para fazer a cirurgia porque não temos estrutura para isso em João Pessoa, já que o hospital ainda não inaugurou”, contou.
Quando estiver funcionando, o local contará com UTI, hemodiálise, tomografia, fisioterapia, nutrição animal, além de todas as especialidades veterinárias. São diversos serviços que atualmente o tutor de pet em João Pessoa precisa viajar para ter acesso.
“Quando comecei a atuar na área, há nove anos, tinha-se o perfil muito generalista, todo mundo cuidava de tudo. Nos últimos cinco anos, houve, um crescimento nas especialidades”, contou ele, cuja especialidade é nefrologia. O avanço no cuidado ajudou inclusive a aumentar a expectativa de vida deles. “Antes a gente dizia que um cachorro vivia, em média, de 10 anos a 12 anos; agora a gente já fala em 14 anos a 18 anos”, comentou.
Para o profissional, o perfil dos clientes também mudou. “As pessoas não têm mais cachorro, têm filho. Tanto que antes a gente chamava de proprietário e hoje a gente chama de tutor ou até mesmo de pai/mãe de pet. É comum que casais recém-casados iniciem a vida com um cachorro, e eles dizem: ‘A gente está treinando para ver se depois quer uma criança’”.
Para Natanael, essa valorização da companhia animal é maravilhosa, pois motiva os profissionais da área a se aperfeiçoar e buscar um atendimento cada vez melhor. Ele também percebeu que o tíquete médio aumentou e as pessoas não têm medo de gastar com seus bichinhos, seja com atendimento médico, alimentação de qualidade, brinquedos ou acessórios.
Engana-se, inclusive, quem pensa que só pessoas mais ricas estão gastando. “Às vezes as pessoas falam que não têm condições de fazer um determinado exame ou tratamento, mas vão fazer mesmo assim, porque entendem que a saúde do animal é importante. Tem uma senhora que estou atendendo com um animal idoso e com muitos problemas. Ela se planeja para todo mês fazer um atendimento, porque não consegue fazer tudo de uma vez. Acho muito bonito esse amor”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 22 de setembro de 2024.