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escala 4x3

Sindicatos avaliam possível mudança

publicado: 02/12/2024 10h02, última modificação: 02/12/2024 10h02
Trabalhadores afirmam que a redução dos dias de trabalho vai melhorar a saúde e a produtividade
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O modelo de trabalho na escala 6x1 tem sido cada vez mais questionado por seus impactos na saúde física e mental dos trabalhadores |
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Excesso de trabalho compromete o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, diz especialista
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por Bárbara Wanderley*

A proposta de redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais, com a eliminação da escala 6x1 (6 dias de trabalho seguidos de 1 dia de descanso), continua dando o que falar. A proposta, que alteraria a Constituição Federal, já conseguiu o número mínimo de assinaturas necessárias para que seja discutida na Câmara dos Deputados, mas, enquanto isso não acontece, muitos sindicatos de trabalhadores têm se adiantado na defesa da ideia.

O presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio da Grande João Pessoa (Sinecom), Rogério Braz, afirmou que a redução na jornada de trabalho já é uma reivindicação antiga entre os trabalhadores. “A gente, como CUT (Central Única dos Trabalhadores), já vem lutando, há muito tempo, pela redução da jornada sem diminuir salários, direitos e benefícios. É importante destacar”, afirmou Braz.

Ele lembrou que, em diversos países desenvolvidos, já se trabalha com uma jornada de trabalho menor e com bons resultados. “Aqui mesmo, no Brasil, a gente tem exemplos de trabalhadores em escala 5x2, como bancários, servidores públicos e trabalhadores da construção civil”, ressaltou.

Para ele, a redução da escala deve resultar em uma melhor qualidade de vida para o trabalhador, assim como uma melhora na saúde e na produtividade. “A pessoa vai ter mais tempo para se cuidar, passar tempo com a família, resolver suas coisas. Um dia só não é suficiente. E uma pessoa saudável trabalha melhor”, argumentou Braz.

Além disso, ele acredita que a mudança geraria mais vagas de emprego, para que as lojas pudessem permanecer abertas com diferentes escalas para os funcionários. “A gente tem pessoas fazendo jornadas exaustivas enquanto outros estão desempregados”, disse.

O presidente do Sinecom admitiu que talvez a proposta não seja aprovada da forma que está, com escala de trabalho 4x3 e 36 horas de trabalho semanais. “Mas vamos lutar para ter, no mínimo, a escala 5x2 e uma jornada de 40h, o ideal seria 36h”.

 Saúde

O modelo de trabalho da escala 6x1 tem sido cada vez mais questionado por seus impactos na saúde física e mental dos trabalhadores. A discussão ganha ainda mais relevância no contexto atual, em que os efeitos do trabalho excessivo sobre a saúde mental são cada vez mais evidentes. Para o professor Diego Burger, especialista em Segurança Psicológica da Human SA, as longas jornadas de trabalho, como a escala 6x1, podem gerar graves consequências para o bem-estar dos trabalhadores.

A gente já vem lutando há muito tempo, pela redução da jornada sem diminuição de salários, de direitos e de benefícios
- Rogério Braz

“A psicologia do trabalho está começando a perceber o impacto de jornadas excessivas sobre a saúde mental. A escala 6x1, por exemplo, é uma das formas mais prejudiciais de organização da carga horária, pois compromete o equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal. O descanso inadequado e a sobrecarga constante criam um ambiente de estresse crônico, o que aumenta significativamente os riscos de problemas psicológicos como ansiedade, depressão e síndrome de burnout”, explicou o professor.

Burger ressalta que a alteração nas jornadas de trabalho não deve ser apenas uma discussão sobre redução de horas, mas também sobre a criação de ambientes de trabalho que priorizem a saúde emocional e psicológica dos colaboradores.

“A redução da carga horária é um avanço, mas deve ser acompanhada de uma transformação no modo como as empresas enxergam o cuidado com a saúde mental. Precisamos entender que o tempo livre de qualidade é essencial para a recuperação emocional e para a produtividade no longo prazo”, afirmou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de novembro de 2024.