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Taxistas passam a atuar como guias de turismo

publicado: 14/10/2024 09h40, última modificação: 14/10/2024 09h40
Ampliação de serviços é resposta à popularização dos aplicativos de transporte
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Edson Neto (à dir.) faz traslado de turistas e os acompanha em passeios pela Grande JP | Foto: Arquivo pessoal
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Aposentado, Josebias segue na atividade para completar renda | Foto: Evandro Pereira
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por Sara Gomes*

Embora existam 1.442 motoristas cadastrados na Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de João Pessoa (Semob-JP), apenas cerca de 800 permanecem em atividade. Essa redução no número de profissionais reflete os desafios enfrentados pela categoria, com a chegada dos motoristas de aplicativos. Para se adaptar a esse novo cenário, cerca de 60% dos profissionais têm investido no segmento de turismo, principalmente em viagens interestaduais.

O programa Táxi Turismo pretende capacitar taxistas do município para fornecer informações aos turistas. A iniciativa foi aprovada na Câmara Municipal de João Pessoa em outubro de 2023 e aguarda regulamentação.

De acordo com o diretor social do Sindicato dos Taxistas da Paraíba (Sindtáxi), Edson Neto, a primeira turma de formação deve ter entre 50 e 100 participantes.

“Nossa categoria teve uma vitória muito grande. Estamos aguardando o prefeito assinar [a regulamentação]. Os motoristas habilitados utilizarão um adesivo identificador no para-brisa, contendo a certificação de que o taxista está apto a fornecer informações turísticas do município”, diz.

Edson Neto, que é proprietário da empresa Táxi Holanda Prime, conta que o foco de seu trabalho já são as viagens executivas e os passeios turísticos. Recentemente, ele acompanhou uma família de mineiros durante um passeio no Litoral Sul. “Eu gostei bastante da experiência, pois, além de ter um taxista à minha disposição, fui acompanhado por um guia de turismo”, relata o turista Jonas Amaral, de 37 anos, que recebeu a indicação do serviço no hotel em que se hospedou.

Perfil dos motoristas

Ainda segundo o representante do Sindtáxi, a nova geração de taxistas possui um pensamento inovador. “Quase 150 taxistas fizeram cursos de guia de turismo. Isso reflete o interesse em investir em capacitação para aprimorar o serviço ofertado”, avaliou.

Um desses exemplos é Daniel Félix, de 30 anos, taxista há oito anos e proprietário da empresa União Táxi. “Iniciei um curso de guia de turismo recentemente e quero fazer um curso de idiomas, tendo em vista que João Pessoa atrai cada vez mais turistas”, observa.

Diferentemente da maioria dos taxistas, que usam a atividade como forma de complementar a renda, Daniel trabalha exclusivamente no segmento. “Meu negócio está crescendo. Faço contratos com pessoas físicas e jurídicas e realizo o traslado de passageiros para diversos aeroportos na Região Nordeste. Hoje em dia, minha renda é de R$ 6 mil a R$ 7 mil por mês”, comemora.

Novas tecnologias

Além disso, os taxistas estão mais flexíveis em relação a descontos no preço da corrida. Essa maior abertura para negociação é destacada pelo diretor social do sindicato que representa a categoria. “Quando a corrida é no taxímetro, o motorista oferta 10% de desconto. Mas, se o cliente pergunta se é possível definir um valor antes de utilizar o serviço, o taxista sugere um valor justo para ambos”, explica Edson Neto.

As empresas de táxis também se reinventaram, ao divulgar seu trabalho nas redes sociais. Muitas delas estão cadastradas nas centrais de táxis, além de contarem com o aplicativo 83 Rádio Táxi. “Essas inovações contribuíram para o aumento no número de corridas”, complementa Edson.

Grupos tradicionais reclamam da demanda

O motorista Josebias Santos, de 77 anos, trabalha em um ponto de táxi localizado na Praça 1817, no Centro de João Pessoa. Na avaliação dele, o rendimento dos taxistas reduziu bastante, comparado ao que era apurado há cinco anos. “Quando a profissão dava dinheiro, eu conseguia ganhar R$ 3 mil por mês”, alega.

"Eu considero desleal a concorrência com os motoristas de aplicativo"
- Manoel Orcino

Natural do Rio de Janeiro, onde trabalhava como feirante, Manoel Orcino, de 64 anos, tornou-se taxista ao se mudar para João Pessoa e, atualmente, compartilha da mesma frustração. “Eu considero desleal a concorrência com os motoristas de aplicativos. Afinal, eles têm menos encargos, por isso, conseguem baratear o serviço. Mas, mesmo na dificuldade, ganho uns R$ 2 mil por mês”, pondera.


Socialização

Aposentado com um salário mínimo pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Josebias Santos segue trabalhando como taxista para complementar a renda e também para amenizar a ociosidade. O mesmo acontece com Reni Carneiro, de 71 anos, que revela continuar exercendo a profissão por dois motivos: a possibilidade de comprar carro novo com desconto e a socialização. “Quando me aposentei, fiquei muito ocioso, então acho bom jogar conversa fora com os amigos. Quem disser que taxista ainda ganha dinheiro está mentindo”, ironiza.

Saiba Mais
A Semob-JP, dispõe, em seu site, informações sobre o Decreto no 3.433/1998, que regulamenta o serviço de táxi. A página reúne informações como taxas e documentações exigidas aos motoristas, além da relação de pontos de táxi em operação na capital paraibana. Confira os dados pelo link.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 13 de outubro de 2024.