A Paraíba registrou, em 2024, o quinto ano consecutivo de crescimento no valor da produção agrícola. Segundo a Pesquisa Agrícola Municipal (PAM), do IBGE, divulgada ontem, o estado avançou 17,2%, passando de R$ 2,58 bilhões para R$ 3,03 bilhões. O resultado contrasta com a queda de 3,9% na média nacional e supera a alta no Nordeste de 7,6%. Entre os fatores que explicam a resiliência da agricultura paraibana estão o clima mais equilibrado, principalmente no Litoral, o maior acesso ao crédito e a adoção de tecnologia no campo.
“As chuvas vêm se distribuindo por um período maior, permitindo produção contínua. Além disso, irrigação, sementes híbridas e crédito ampliado ajudam o agricultor a alcançar volumes maiores”, explica Flávio Müller Borghezan, da Gerência Operacional de Produção Agropecuária e Social da Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer).
Os dados mostram que a valorização foi mais intensa que o aumento da quantidade produzida. Isso se deve, de acordo com Borghezan, tanto à inflação que elevou o valor dos produtos nas feiras e supermercados, quanto à melhora da qualidade dos produtos. “Quando se produz com melhor aparência e maior qualidade, o agricultor consegue agregar valor ao alimento”, complementa o especialista.
Entre os itens da cesta de produtos que garantiram os números positivos para o estado está o abacaxi, que voltou a colocar a Paraíba na liderança nacional. Com 300,9 milhões de frutos colhidos, o estado passou à frente do Pará. Mesmo com recuo de 1,3% no volume, o valor da produção cresceu 42,4%, alcançando R$ 671,8 milhões. “O abacaxi paraibano hoje é referência pela doçura e tamanho, fornecido para todas as regiões do Brasil e também exportado. Essa valorização vem da abertura de novos mercados e da qualidade da fruta”, diz Borghezan.
A fruta tem sido responsável por movimentar economias locais no Brejo e no Agreste, regiões que concentram a produção. Pequenos agricultores familiares lideram esse segmento, o que faz com que a renda seja distribuída e permaneça nos municípios produtores. No último ano, os municípios paraibanos que lideraram a produção de abacaxi foram Pedras de Fogo, com 68,4 milhões de frutos; Itapororoca (60 milhões); Araçagi (48 milhões); Santa Rita (31,5 milhões); e Lagoa de Dentro (12 milhões).
Monocultura da cana
Apesar do avanço de outras culturas, a cana-de-açúcar segue predominante, com 40,2% do valor total da produção agrícola estadual, o que equivale a R$ 1,22 bilhão em 2024, alta de 6,4%. No entanto, perdeu espaço frente ao ano anterior, quando representava 44,3%. Para o presidente-executivo do Sindalcool-PB, Edmundo Barbosa, o movimento reflete ganhos de produtividade em menor área. “A produção de cana tem crescido com irrigação por gotejamento, uso de drones e técnicas regenerativas. Onde antes se colhiam 50 toneladas por hectare, hoje já se chegam a 100 toneladas”, afirma.
O estado produziu cerca de 7,18 milhões de toneladas de cana, o que mostra um crescimento de 1,6% frente ao ano anterior, quando a quantidade produzida foi de 7,07 milhões de toneladas. A produção da Paraíba no ano passado foi a 9a maior do Brasil e a 3a maior do Nordeste. Entre os municípios paraibanos, em 2024, as maiores quantidades produzidas de cana-de-açúcar foram constatadas em Pedras de Fogo (1,14 milhão de toneladas); Santa Rita (955,5 mil t); Sapé (663 mil t); Rio Tinto (637 mil t) e Mamanguape (633,8 mil t).
Apesar da força da monocultura canavieira, existe um movimento de diversificação que se expressa no avanço dos grãos. Feijão e milho cresceram simultaneamente em valor, quantidade e área. “Sementes adaptadas ao Semiárido, irrigação e assistência técnica vêm permitindo que agricultores familiares obtenham resultados mais consistentes”, avalia Borghezan.
Além desses, a fava e o coco-da-baía reforçam a posição do estado em produções tradicionais. A Paraíba manteve-se como segundo maior produtor nacional de fava pelo oitavo ano consecutivo, enquanto o coco registrou sua maior colheita desde 2005, com 83,5 milhões de frutos. Para sustentar esse ritmo, o setor ainda precisa superar gargalos. O principal, segundo Borghezan, é ampliar a assistência técnica. “Um agricultor orientado produz até cinco vezes mais e tem acesso facilitado a políticas públicas. Hoje, a limitação no número de extensionistas impede que todos os produtores sejam atendidos”, concluiu.
Varejo mantém terceiro maior crescimento
Apesar da manutenção do juro da Selic em nível elevado e a desaceleração das vendas do comércio, o varejo da Paraíba manteve o terceiro maior de crescimento do país no acumulado dos sete meses do ano, conforme dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo a pesquisa, o volume de vendas no acumulado de janeiro a julho, deste ano, cresceu 5,7% sobre o mesmo período do ano passado, alcançando a terceira maior alta do país junto com Amapá (7,9%) e de Santa Catarina (6,3%), enquanto o país registra alta de 1,7% no ano.
Em julho, a taxa de crescimento apresentou alta de 2,9% na Paraíba sobre o mesmo mês do ano passado. Foi o sétimo mês consecutivo do ano que o estado apresentou alta no varejo.
Comércio ampliado
No indicador do comércio varejista ampliado —, que inclui atividades de veículos, motos, partes e peças, material de construção e atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo — a Paraíba manteve a segunda maior taxa de crescimento no acumulado dos sete meses do ano com 5,6%, enquanto o país registra queda de 0,2%. Em julho, a Paraíba cresceu 2,9% sobre o mesmo mês do ano passado, enquanto o País amargou queda de 2,5%.
Principais segmentos
Na comparação com julho do ano anterior, seis das oito atividades tiveram resultados positivos. São elas: Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, livros, jornais, revistas e papelaria; Móveis e eletrodomésticos; Outros artigos de uso pessoal e doméstico; Combustíveis e lubrificantes; e Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo. Já as duas atividades em queda, nesta comparação, foram Tecidos, vestuário e calçados, e Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação.
O secretário de Estado da Fazenda (Sefaz-PB), Marialvo Laureano, destaca que o Governo do Estado atua com medidas importantes para melhorar o fluxo de caixa do varejo neste período de manutenção de alta da taxa de juro da Selic como, por exemplo, o Refis de ICMS realizado nos meses de julho e agosto, que teve desconto de até 99% nas multas e nos juros, o que se configurou o maior desconto de sua história da Fazenda Estadual. A gestão estadual também garantiu apoio neste ano ao “Liquida Campina Grande” e ao “Liquida João Pessoa e Região Metropolitana”, com o parcelamento do ICMS do mês das vendas em duas vezes.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 12 de setembro de 2025.