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Entrevista

Fabrício Feitosa, Secretário-executivo do Empreender PB

publicado: 01/12/2025 08h40, última modificação: 01/12/2025 08h40
Em entrevista, gestor falou da importância do programa para a economia paraibana e também dos seus desafios
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por Pedro Alves*

Criado em 2011, o Empreender PB é uma das políticas públicas mais importantes de fornecimento de crédito para os pequenos empreendedores e para as médias empresas do estado. Integrante da equipe do programa desde 2015 e à frente do Empreender PB desde 2019, Fabrício Feitosa exerce o cargo de secretário-executivo do órgão e é o responsável principal por analisar e liberar recursos para uma gama extensa de negócios que acontecem e que querem acontecer nos municípios paraibanos.

Foi na gestão de Fabrício que todos os 223 municípios tiveram pelo menos uma empresa ou um empreendedor contemplado com créditos oriundos do Empreender PB. Em entrevista concedida ao jornal A União, o auxiliar de governo falou da importância do programa para as vocações da economia paraibana e também dos seus desafios.

A entrevista

Como foi que um dos responsáveis pelo setor de TI do Empreender PB acabou se tornando o secretário do programa?

Sou servidor público há quase 20 anos. Sou de Monteiro e vim para João Pessoa para estudar. Minha formação é em tecnologia da informação (TI). Então, eu era o menino da TI na Secretaria de Educação de João Pessoa, que foi o meu primeiro trabalho no Poder Público. Depois fui convidado para formar o setor de TI que não existia no Empreender PB, em 2015. Nessa função de TI, a gente acaba se envolvendo em todos os processos do programa. Então, tive que aprender do A ao Z do Empreender. Consegui resolver muitas questões do programa, que tinha diversas complexidades. Nisso eu me tornei diretor operacional do programa e em seguida me tornei chefe de gabinete. Até que o governador João Azevêdo assumiu o governo e eu tive a honra de ser convidado para assumir também a gestão do programa, em março de 2019, no primeiro ano ainda da gestão do governador. Estou aqui como secretário até agora.

Como você avalia o impacto do Empreender PB, ao longo dos últimos anos, na geração de renda e de empregos na Paraíba?

Eu fico muito feliz que posso testemunhar a evolução do programa ao longo desses anos, que acontece muito em virtude do trabalho que é feito por essa equipe, que está aqui, em grande parte, há pelo menos 12 anos. Essa equipe consegue fazer esse trabalho, de entender as dificuldades, os problemas, as possibilidade e ir buscando soluções. Por essa questão também de eu trazer essa parte da tecnologia, a gente conseguiu aperfeiçoar muitos processos a partir de soluções tecnológicas. Hoje o programa trabalha todo com processos digitais, inclusive para o nosso cliente, que faz toda a inscrição on-line. É possível também fazer à distância as capacitações e os planos de negócio. Então, isso conseguiu dar uma eficiência muito grande ao programa, no sentido de conseguir fazer planos de negócio com os empreendedores e tentar se aproximar ao máximo da realidade deles, traduzindo isso em uma boa entrega nas concessões de crédito. Temos muitos testemunhos, ao longo dos tempos, de muita gente que teve a história modificada pela atuação do programa, por conta do acesso ao crédito de forma facilitada. A missão do Empreender é justamente trabalhar nessa camada social. A gente não é um banco, a gente é um programa de acesso ao crédito para a geração de emprego e renda. Então, a gente já conseguiu interferir na vida de quem, com um investimento de dois, três mil reais, sentiu a diferença.

Quantos empreendedores foram beneficiados até hoje pelo programa e qual valor investido desde o início?

Nós já concedemos crédito a 49.500 pessoas em todos os 223 municípios paraibanos. Até o fim do ano, devemos chegar a 50 mil. De 2011 para cá, foram R$ 326 milhões liberados em crédito para os empreendedores e empreendedoras. Só na gestão do governador João Azevêdo, de 2019 para cá, 21.400 pessoas foram atendidas e foram R$ 171 milhões investidos. Em 2025, já fizemos concessão de crédito para 3.231 pessoas em negócios em 154 cidades da Paraíba, com investimos da ordem de R$ 29,2 milhões de janeiro até outubro.

Quais foram os principais setores econômicos contemplados?

Vai variar muito. De uns anos para cá, temos tentado entender justamente esses arranjos produtivos de cada região. Por exemplo, em Barra de São Miguel, que é uma das principais cidades atendidas, liberamos crédito para negócios relacionados à costura. Isso porque a cidade faz divisa com Toritama, em Pernambuco, onde tem um circuito têxtil e de venda de roupas importante. Então, praticamente todas as famílias têm um negócio no fundo de casa, uma máquina de costura, esse tipo de empreendimento. Do outro lado do estado, em São Bento, a gente tem uma vocação muito forte lá do pessoal com comércio de redes. Se a gente for para a região, por exemplo, de Cabaceiras, tem os negócios de couro, com atendimento tanto para as cooperativas quanto para os artesãos. Então, cada região vai ter um potencial, que a gente busca, por meio dos atendimentos, compreender.

Como é feita a seleção dos beneficiários e quais as modalidades de linhas de crédito?

O Empreender tem 13 linhas de crédito ao total. Tem uma faixa de linhas que é para a pessoa física e outra que é para a pessoa jurídica. A nossa linha principal é justamente a linha do Empreender Pessoa Física, que atende os mais diversos empreendedores informais, desde a pessoa que é vendedora ambulante, que produz bolinho em casa, que tem um fiteiro na porta até a pessoa que ainda está começando e que ainda não tem um comércio formalizado. E, no campo da pessoa jurídica, a nossa linha atende desde um empreendedor individual até empresas de médio porte com crédito de até R$ 100 mil. Temos ainda outras linhas mais específicas, como o Empreender Artesanato, em que trabalhamos junto com o Programa do Artesanato. Então, a depender desses recortes, a gente vai, a partir da nossa capacidade, atendendo às demandas das cidades.

Existe uma política de acompanhamento e capacitação para os empreendedores?

No próprio fluxo de atendimento do programa existe uma capacitação obrigatória que é feita para todo empreendedor pessoa física, que é a capacitação de gestão empresarial básica, que é feita pelo próprio programa. Nós temos uma Subgerência de Capacitação, que faz esse trabalho com todo mundo. Todos passam por esse curso. A gente tem uma parceria muito forte com o Sebrae, que é quem tem mais expertise nessa área. Em seguida, é realizado um plano de negócio pela nossa equipe também, que é o que vai determinar o quanto é possível emprestar para cada um. Nesse plano de negócio, também são feitas algumas orientações e, em seguida, após a obtenção do crédito, a gente tem uma Gerência de Pós-Crédito e Cobrança, que vai cuidar tanto da parte do controle dos pagamentos de quem está com suas parcelas em andamento como também do acompanhamento para saber como está o empreendimento.

É uma realidade do programa a inadimplência?

A gente não tem como escapar. A inadimplência é uma realidade característica do nosso país. Inclusive temos políticas públicas no âmbito federal que tratam sobre o tema, que auxiliam as pessoas. Hoje a gente trabalha com a inadimplência na casa dos 20%, em função dos créditos mais antigos, que são a parte mais difícil de conseguir recuperar. Recentemente houve uma política do Governo João Azevêdo de colocar à disposição não só dos empreendedores do Empreender, mas de todos os órgãos de governo, um Refis, um refinanciamento lá pela Procuradoria-Geral do Estado, que já são aqueles créditos que estão, de certa forma, judicializados. Os devedores mais antigos tiveram a oportunidade de fazer um Refis, com descontos que chegaram até 95%. Então isso ajudou muito a recuperar crédito. Mas nessa Gerência de Pós-Crédito e Cobrança também tem uma série de rotinas que a gente utiliza para recuperação do crédito, desde o acompanhamento administrativo por ligação telefônica, para em seguida, após a segunda parcela de inadimplência, a inscrição dessas pessoas no SPC, em que são notificadas por carta. Com o esgotamento dessas formas de cobrança, a situação é encaminhada para a Procuradoria para ser inserida na dívida ativa do Estado.

O programa tem alguma atenção especial para grupos vulneráveis da sociedade?

Temos linhas de recortes sociais e econômicos também, como a linha Empreender Mulher, para mulheres em situação de vulnerabilidade, que é justamente essa linha que a gente tem em parceria com a Secretaria da Mulher e da Diversidade Humana. De forma geral, são mulheres atendidas pelo Centro de Referência de Assistência Social Municipal, que têm esse acompanhamento e que são encaminhadas para a Secretaria da Mulher, onde elas fazem uma roda de diálogos e fazem a avaliação das que têm perfil empreendedor, porque a gente também tem que ter essa preocupação. Não adianta simplesmente colocar um dinheiro na mão da pessoa se a pessoa não tiver aptidão para colocar o negócio em prática. Mas essas mulheres são atendidas de forma prioritária pelo programa. Temos o Empreender Juventudes, para quem tem de 18 a 29 anos de idade. Essas linhas têm critérios mais flexibilizados de prazo, de carência, de taxa de juros. Então, sempre recebemos sugestões e atuamos junto a outras secretarias que trabalham com algumas populações específicas para construirmos linhas de crédito para demandas que chegam a partir desses diálogos. Atualmente a gente tem mais demanda por crédito das mulheres paraibanas. São 58% de mulheres atendidas pelo programa e 42% de homens.

Quais regiões do estado recebem mais recursos?

Quando a gente vai estabelecer aqueles critérios que eu te falei de novas inscrições, um deles, por exemplo, é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Naturalmente a gente sempre vai pender, de certa forma, mais para as pequenas cidades, que oferecem menos oportunidades econômicas. Se você for fazer a proporção de oportunidade de crédito, João Pessoa vai estar praticamente no último lugar, mesmo sendo liberado um valor maior para concessões de empreendedores da capital. Na cidade de Barra de São Miguel, a gente abre 30 vagas por cada abertura de inscrição. Para João Pessoa, são 100 ou 200 no máximo. Então, proporcionalmente, Barra de São Miguel está sendo muito mais atendida do que João Pessoa. Então, dá para ver que as cidades menores são mais beneficiadas.

Quais são as metas do Empreender para o futuro?

A gente sempre estipula uma meta anual. Nossa meta para 2025 foi de conseguir liberar R$ 40 milhões. Falta pouco mais de R$ 10 milhões ainda para liberar e estamos trabalhando para conseguir. Tínhamos também uma meta de realizar 12 eventos neste ano e já estamos em 26. O último foi o Beach Games. É um evento que é do governo, mas que tem um pedacinho de Empreender lá dentro. É um galpão que é patrocinado pelo programa e que esses empreendedores não pagam nada para estar lá. A gente teve um rodízio de expositores e 70 participaram. Neste ano tivemos presença no Salão do Artesanato, onde estivemos lá para oferecer crédito e para expor quem já obteve crédito e vai vender os produtos. Teve o Empreendedor Junino em Campina Grande, o Festival da Galinha Caipira em Patos. Muitos dos nossos beneficiários estão lá para comercializar. Mas eu acho que a meta para o futuro é a de conseguir chegar de uma forma mais qualificada ainda nas pessoas, porque acredito que, em questão de volume de recursos, já estamos bem, mas a gente precisa qualificar melhor o atendimento, porque a gente ainda percebe que alguns processos que podem melhorar podem diminuir a inadimplência, por exemplo. É um desafio gigantesco estar nos 223 municípios como estamos.

Há a previsão de novos editais ou linhas de crédito voltadas a setores emergentes, como economia criativa e projetos de tecnologia?

Neste ano a gente deu uma geral nas nossas linhas. Nós tínhamos duas linhas que estavam um pouco defasadas por conta de terem surgido outras políticas públicas que se sobrepuseram a elas. Uma delas era uma linha voltada para a cultura, em que percebemos que as leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo abraçavam bem a demanda. A gente busca, inclusive, junto à Secretaria de Cultura, remodelar essa linha para esse campo emergente, digamos assim, da economia criativa, que vai abranger mais do que os empreendimentos culturais, mas tudo que gira em torno disso — restaurantes, o próprio artesanato, o que alimenta essa economia de uma forma mais abrangente. Da mesma forma, nós tínhamos uma linha chamada Empreender Inovação Tecnológica, que foi criada para dar crédito a empreendimentos de inovação. Porém, ela também foi sobreposta pelas políticas da própria Secretaria de Ciência e Tecnologia. São políticas de fomentos. A gente ficou de sentar novamente para tentar voltar essa atenção justamente mais para as startups. Mas qual é o desafio do programa nesse sentido? As startups são bem mais vulneráveis nesse sentido porque são apostas. Uma startup, em sua essência, é um projeto que ainda não tem comprovação de rendimento. Então, a gente não tem certeza de que aquilo ali vai gerar um recurso que possa ser devolvido, por isso que existe muita política de fomento, de colocar o recurso sem exigir o retorno nesse setor.

Qual mensagem você deixa para quem deseja empreender na Paraíba?

Pode até parecer contraditório, mas o que eu sempre costumo dizer é que quem for em busca do crédito faça isso como sua última providência. Eu acho que quem deseja empreender precisa passar por alguns processos antes de buscar crédito. Isso passa pela capacitação, pelo planejamento, pela realização de um plano de negócio e de entender do mercado que se pretende ingressar. A gente sabe que, no nosso país, empreender acontece muitas vezes por necessidade. Essa realidade é muito mais recorrente do que a ação de empreender por talento ou por habilidade, por exemplo. O Empreender entra, até por ser uma política que tem essa visão mais social, de ter juros subsidiados, bem mais baixos, de ter carências, de ter prazos estendidos, de ter um processo desburocratizado, como uma oportunidade melhor do que as instituições financeiras tradicionais. Às vezes o pessoal chega e diz que não vai conseguir acessar o crédito de Empreender, porque tem uma burocracia e precisa fazer um plano de negócio. Mas, quando a pessoa senta na cadeira para conversar com a nossa equipe, ele vai ver que é uma conversa, às vezes, que parece uma conversa de boteco. O pessoal está conversando ali e vai pescando as informações de acordo com a realidade de cada um. A gente escuta da forma mais humanizada possível, porque a gente entende a característica do nosso público.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de novembro de 2025.