Alteração de humor, agressividade, introspecção, vergonha excessiva, medo ou pânico são alguns dos comportamentos que alertam que as crianças possam estar passando por um caso de abuso infantil. Com isso, para marcar o Maio Laranja, uma iniciativa que visa dar visibilidade e repreender esses crimes, a Defensoria Pública da Paraíba (DPE-PB), juntamente com o Núcleo Especial de Proteção à Infância e da Juventude (Nepij), realizou, na tarde de ontem, atividades educativas para os alunos da 5a série da Escola Municipal Cônego Mathias Freire, no bairro da Torre, em João Pessoa.
A pedagoga Simone Calisto da Silva, responsável pela turma do 5o ano, com 24 alunos, destacou que é importante trabalhar essa temática nas escolas, principalmente nas turmas do 4o e do 5o ano. “São justamente quando as crianças estão maiores, que surgem dúvidas sobre os seus corpos, do que é permitido e o que não, se pode denunciar ou não. Geralmente, quando ocorre algum caso, a criança fica logo apática, triste, introspectiva, ela sempre emite sinais. Aqui na escola sempre trabalhamos essa temática com as assistentes sociais e psicólogas”, ressaltou.
"Geralmente, quando ocorre algum caso, a criança fica logo apática, triste, introspectiva, ela sempre emite sinais"
- Simone Calisto da Silva
A professora relatou, ainda, um caso que ocorreu em 2019, quando uma de suas alunas da 5a série foi perseguida durante uma semana por um homem: ele chegou a oferecer dinheiro para ela tocar nas suas partes íntimas, mas ela se recusou. “A primeira coisa que ela fez foi pedir ajuda, como já tínhamos ensinado aqui na escola. A polícia foi acionada e o homem foi detido. Na hora do desespero, ela chorava muito e logo pediu para ligar para mim. Eu senti que ela teve essa segurança em fazer isso, pois sabia que eu e a escola estávamos para ajudar, a tia dela estava ali”. A psicóloga do Núcleo Especial de Proteção à Infância e da Juventude, Ingryd Steffany Trindade, explicou que dinâmicas e atividades lúdicas que envolvessem o assunto foram pensadas. “A gente criou isso para que eles também fossem agentes de promoção, então trouxemos brincadeiras com bexigas para criar uma alusão que eles têm uma rede de proteção, além de que eles podem ser essa rede de proteção uns para os outros. Passamos um vídeo explicando onde pode e não pode ter o corpo tocado, sinalizando com a cor vermelha, amarela e verde. Depois disso, pedimos para que eles criassem uma campanha com cartolinas para eles dizerem às outras crianças como se prevenir”.
Ingryd Steffany Trindade contou que o principal ponto dessa ação é exatamente as crianças se atentarem para os sinais de abusos e, além de dizer “não”, denunciar o caso. “Fazemos essa campanha para eles se informarem e saberem de fato o que é um Maio Laranja e o motivo. Os alunos saem daqui entendendo as coisas, saindo do lugar do estigma e do tabu. Eles chegam em casa, informam os seus pais, entregam as cartilhas, alertam os amigos do bairro como se proteger, se prevenir de possíveis situações de vulnerabilidade e de algum possível abuso sexual, exploração ou de violação dos direitos”.
A delegada seccional de João Pessoa, Andrea Melo de Lima, ressaltou a importância de levar a temática do abuso sexual para as escolas, porque é um ambiente onde todas as crianças, ao passarem por alguma situação, vão saber procurar ajuda. “No momento que estamos fazendo essa atividade aqui, alguma criança pode se identificar com o que foi exposto e procurar ajuda, por exemplo. A criança pode apresentar sinais físicos, comportamentais, até doenças venéreas, que são as sexualmente transmissíveis. Então tudo isso são jeitos que devem chamar a atenção. Se a criança não tinha aquele comportamento anterior e passa a ter, realmente, algo a se tomar cuidado”.
Andrea Melo de Lima alertou, também, que as denúncias podem ser feitas tanto pela vítima quanto por terceiros, onde pode haver a identificação ou anonimato, mas o importante é denunciar o caso e não silenciar. Quem estiver passando por uma situação de abuso infantil ou presenciar deve contatar o Disque 100, canal oficial do Ministério da Justiça, que funciona 24 horas por dia, 197 da Polícia Civil, que também fica ativo 24 horas por dia, ou o 155 da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Humano da Paraíba. Todas as ligações são gratuitas.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 17 de maio de 2024.