Os casos de feminicídios e violência doméstica vêm crescendo e, consequentemente, as manchetes que noticiam casos de mulheres que foram mortas ou sofreram agressões por parte de seus companheiros têm sido cada vez mais comuns. No entanto, é preciso ter responsabilidade na hora de falar sobre esse assunto. Pensando nisso, está sendo criada, na Paraíba, uma cartilha com a proposta de auxiliar as coberturas jornalísticas envolvendo esse tema.
O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana; o Coletivo Brasil de Comunicação Social (Intervozes); o Observatório Paraibano de Jornalismo; e a Rede Estadual de Atenção às Mulheres, Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência Doméstica e Sexual (Reamcav), estão elaborando um Código de Conduta para a Imprensa paraibana.
A primeira reunião aconteceu ontem, para que o tema fosse discutido inicialmente. A expectativa é que a cartilha seja apresentada à imprensa em março de 2024, em alusão ao Dia Internacional da Mulher, em um seminário.
“A intenção desse seminário mais ampliado com a participação das próprias redes de comunicação e de outros órgãos, é que juntos e juntas possamos dialogar sobre algumas condutas da mídia para que as notícias em relação às violências contra as mulheres e sobre o feminicídio não tragam mais prejuízos para a vítima e para seus familiares”, explicou a secretária de Estado da Mulher e da Diversidade Humana, Lídia Moura.
De acordo com ela, a necessidade da cartilha veio a partir da observação de como os noticiários paraibanos têm informado sobre casos de feminicídios e violência contra a mulher. Muitos deles carregados de sensacionalismo e culpabilização da vítima. “Nós percebemos, a partir da maneira como vem sendo noticiado esses casos, a necessidade de termos alguns condicionantes. Assim como foi feito em relação ao suicídio, que hoje tem maneira própria de se noticiar, a gente quer fazer em relação ao feminicídio”, disse.
Além de deturpar a imagem da vítima, dando a entender que ela fez algo para merecer a agressão, ou até mesmo a morte, quando esse tipo de informação é passada de maneira irresponsável, pode, inclusive, incentivar os agressores. “Estamos querendo aprofundar e estudar um pouco melhor se também há, em relação à violência contra as mulheres, um processo de estímulo, assim como em relação à violência nas escolas, ou em relação ao suicídio. O sujeito acha que aquilo é algo que ele pode fazer também, por isso que nós estamos aprofundando o diálogo e o debate a fim de encontrar caminhos que possibilitem uma proteção à vida das mulheres. Entendemos que até a forma de noticiar faz parte do processo de proteção às mulheres’, ressaltou.
Segundo a jornalista Mabel Dia, representante do Intervozes e do Observatório Paraibano de Jornalismo, a maioria dos casos em que as mulheres são culpabilizadas ou mesmo ridicularizadas acontece em programas policiais. “Colocam as mulheres como culpadas pela violência que sofreram, questionando: ‘mas o que é que ela tava fazendo naquele lugar?’. Uma mulher travesti que ainda é tratada como ‘o travesti’. Então a gente precisa respeitar essa questão da orientação sexual, de identidade de gênero. Além da colocação de mulheres em categorias? ‘mulheres de bem, mulheres de mal’, quando todas nós somos mulheres e sofremos a violência, mesmo que de formas diferentes”.
Ela ressaltou, ainda, que a ideia da cartilha é fazer da mídia uma aliada no movimento de combate à violência contra a mulher. “A gente precisa ter a contribuição da mídia nessa questão para que a gente possa denunciar os casos de violência, denunciar o agressor, fazer com que a mulher possa buscar ajuda e apoio”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 12 de dezembro de 2023.