O Controle de Prevenção e Doenças (CDC), principal referência mundial a respeito da prevalência de autismo, constatou que no ano de 2023 a população de autistas cresceu em 2,8%, saindo de 1 em 44 pessoas para 1 em 36, diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Apenas no Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas têm o transtorno, mas esses números não se convertem em ações destinadas à inclusão social, com adaptação dos espaços de lazer às necessidades neuroatípicas.
Algumas iniciativas vêm surgindo na busca por espaços inclusivos para pessoas com TEA em todo o país, mas ainda são bastante tímidas. Na Paraíba, por exemplo, essas ações, que se tem notícia, acontecem apenas em João Pessoa, capital paraibana, onde um projeto que vem sendo desenvolvido há cerca de dois anos vem ganhando corpo e aos poucos contando com um grande número de participantes. Trata-se, segundo a presidente da Associação Paraibana de Autismo (APA), Hosana Carneiro, da “Tardezinha Inclusiva”, projeto da associação que ela preside que conta com o total apoio da Prefeitura de João Pessoa e de outros colaboradores.
“A gente tem feito um trabalho legal, com uma estrutura pensada para os autistas. Acolhemos muitas outras deficiências intelectuais, mas o ambiente é pensado para o autista. As pessoas gostam bastante. Temos dois anos de projeto e realizamos o evento mensalmente, mas eu não vi ainda nenhuma cidade fazer um evento similar, nem nas festas comemorativas, como o Dia das Crianças, por exemplo, que seriam festas mais adaptadas para eles. As cidades ainda não levaram essa ideia para eles”, lamenta a presidente da APA.
Hosana explica que quando se fala em socialização, nas estruturas para os autistas, não se pode agradar todo mundo ao mesmo tempo. “Muitas vezes as pessoas falam, ah, mas esse ambiente aqui é inclusivo para autistas, mas não está atendendo a todos. Não tem como, porque é um espectro muito amplo, as pessoas têm comportamentos diversos, uns adoram barulho, outros detestam. Então, assim, até mesmo dentro dos ambientes inclusivos, como a Tardezinha Inclusiva, a gente tem lá, às vezes, algumas mães que falam que precisa ainda reestruturar o som e tal. Mas é porque, por mais que a gente organize a parte inclusiva, temos ali pessoas que precisam de mais adaptações. Então, a gente tem que pensar na inclusão social para os autistas de suporte. 3, os autistas de suporte 2 e 1 a gente faz a inclusão com mais facilidade, mas todos precisam ali de uma compreensão, de um espaço mais adaptado”, esclarece Hosana Carneiro.
Piquenique e sessão de cinema inclusivos
O projeto também aproveita as habilidades das pessoas com TEA com música, oficinas, e robótica inclusiva. “A gente aproveita esse espaço de lazer para entregar terapias. Tem as oficinas das escolas que são parceiras, tem as oficinas das nutricionistas, as oficinas de arte e pintura, as oficinas de dança, de música, então, assim, é um lazer agregando terapias importantes para o mercado de trabalho, para o bem-estar autista e sua família”, acrescentou a presidente da APA.
A APA também fechou uma parceria com um cinema de João Pessoa, no Mag Shopping, onde uma vez ao mês tem uma sessão adaptada para o autista. “Mas mesmo sendo uma sessão adaptada para eles, ainda sentimos a necessidade de algumas mudanças com relação à entrada, que termina fazendo fila, porque a mãe precisa fazer a sua inscrição e entrar. A gente tem também o piquenique inclusivo, que é uma ação inclusiva que a gente vem promovendo também com apoio da prefeitura de João Pessoa e que também vem agradando bastante”, finalizou Hosana Carneiro.
Folia inclusiva
Este ano uma turminha se sentiu realmente incluída. Crianças e adultos, autistas, T21, cadeirantes párticiparmm do Tardezinha na Folia, que estreou no Carnaval 2024, na Via Folia, em uma ação conjunta da Associação Paraibana de Autismo, Funjope, Agitada Gang e Turma Tá Blz, a partir das experiências da Tardezinha Inclusiva.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 18 de fevereiro de 2024.