O fim de tarde e o dobrar dos sinos anunciaram o ato final das celebrações religiosas da 440a Festa de Nossa Senhora das Neves. Fiéis católicos e religiosos seguiram em procissão pelas ruas do Centro de João Pessoa, logo depois da última missa do dia, na Catedral Basílica de Nossa Senhora das Neves.
A aposentada Lúcia de Fátima da Silva, de 64 anos, foi uma das milhares de pessoas que cantaram ao longo do percurso para manifestar sua fé na padroeira da Paraíba e da capital. Para ela, foi o retorno a um hábito antigo depois de um intervalo de quatro anos. “Meu marido estava doente, então, eu não vinha. Mas, há 30 anos, tava desempregada, há 30 anos, e consegui um trabalho. Só tenho que agradecer”, relatou.
A devota diz que aguenta concluir o caminho sem reclamar. “O que a gente faz para Deus não cansa. A gente não tem como pagar aquilo que Deus e Nossa Senhora dá para a gente. Nem a gente caminhando, a gente não paga”, opinou.
Também há aqueles que foram à última missa do dia, mas não seguiram em procissão, como o mecânico aposentado Antônio Waldir Silva Salgado, de 73 anos. Ele foi acompanhado da esposa, filha e dois netos. A presença na Catedral Basílica no dia 5 de agosto é um hábito antigo. “Eu fiz minha primeira comunhão aqui”, disse como fidelidade à fé cristã.
Ele contou que Nossa Senhora das Neves intercedeu em vários momentos críticos na vida da sua família. “Minha esposa teve que fazer três cirurgias depois de uma queda. Mas com a graça de Deus estamos aqui batalhando e vivendo”, contou ao lado da esposa.
Esperança
O arcebispo metropolitano de João Pessoa, Manoel Delson, avalia que a participação dos católicos deu vida às festividades, bem como o engajamento dos sacerdotes. “Estamos coroando esse momento da Festa das Neves com uma grande participação dos fieis, mas todo novenário foi muito bem participado, muito bem preparado. O pároco, o vigário paroquial, com os pregadores de cada noite, os bispos que se fizeram presentes, trazendo a cada dia uma meditação apropriada para os fieis sobre a esperança”, declarou.
Aliás, a esperança foi a tônica da festa deste ano. Para o líder católico, isso explica a numerosa adesão à programação religiosa, iniciada em 27 de julho. “Neste ano, o tema foi ‘Nossa Senhora: farol seguro de esperança para o povo paraibano’. Então, podemos aproximar essa dimensão tão importante na vida prática e está aí o resultado: a participação, a fluência do povo neste dia tão bonito, que até os céus estão colaborando hoje, sem chuvas”, finalizou.
Arcebispo exalta hospitalidade dos paraibanos
Por: Sara Gomes (Especial para A União)
“É vocação de João Pessoa e do povo paraibano ser lugar de acolhimento das pessoas por meio de sua natureza privilegiada, suas praias abençoadas, seu verde e pôr do sol do jacaré, monumentos históricos e o seu bem mais precioso: as pessoas”. As palavras são do arcebispo metropolitano da Paraíba, dom Manoel Delson, pronunciadas durante a missa celebrada na Catedral Basílica, ontem pela manhã. A cerimônia integrou a programação religiosa da Festa de Nossa Senhora das Neves, padroeira de João Pessoa, e também marcou as comemorações pelos 440 anos de fundação da Paraíba e do aniversário da capital.
“O povo paraibano possui qualidades singulares como hospitalidade, espírito guerreiro e fé que não se deixa abater pelas adversidades”, acrescentou o arcebispo durante a celebração, que reuniu todo o clero da Igreja, representantes das paróquias, centenas de fiéis e autoridades políticas.
A cristã Maria Santana, de 75 anos, frequenta a Paróquia Menino Jesus de Praga, nos Bancários, mas todo o ano assiste missa na Catedral, em comemoração à padroeira da cidade. Ela ouviu atenta todas as palavras de dom Manoel Delson. “Ele falou das belezas e povo acolhedor da nossa cidade, mas também falou de fé, esperança e que tenhamos misericórdia do próximo. Além disso, devemos rezar pelos mais necessitados, mas também fazer a nossa parte”, disse.
Na ocasião, dom Manoel Delson também relembrou o milagre que deu origem à devoção a Nossa Senhora das Neves. “Caiu neve em Roma, em pleno verão. Esse milagre foi o sinal que a mãe de Deus indicou para construírem a primeira igreja dedicada a Nossa Senhora no Ocidente, que é a Basílica de Santa Maria Maior”, relatou. O arcebispo também recordou a relação especial do papa Francisco, que era devoto da Santa e pediu para ser sepultado no local.
A técnica de enfermagem Lúcia da Silva, 50 anos, e outros fiéis da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Jacaraú, viajaram, em caravana, para prestigiar a celebração religiosa na capital paraibana. “É um momento muito importante de comunhão de todas as paróquias e de renovação da fé”, constatou.
Bênção
O arcebispo dom Manoel Delson dirigiu-se à varanda da Basílica, levando consigo a imagem de Nossa Senhora das Neves. Do alto, abençoou a cidade e todo o estado, marcando o início da programação de encerramento da 440a edição da Festa das Neves. A bênção é uma tradição que busca evocar energias positivas para que os paraibanos vivam sob a proteção da padroeira.
O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, reforçou o significado cristão da celebração, mas também de celebrar o crescimento da capital. “João Pessoa vivencia esse momento, mas também devemos fazer de forma sustentável, justo e mais humano”, frisou o gestor.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 06 de agosto de 2025.