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Doença tem cura

PB registra 420 casos de hanseníase em 2023

publicado: 02/01/2024 13h48, última modificação: 02/01/2024 13h48
Números, segundo a SES, revelam que as pessoas procuram tratamento
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Doença atinge geralmente a pele e os nervos periféricos

por Alinne Simões*

De acordo com a chefe do Núcleo de Doenças Crônicas e Negligenciadas da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Anna Stella, a Paraíba registrou de janeiro a novembro de 2023, 420 casos de hanseníase. Para ela, mesmo sendo números mais altos do que os notificados em 2022, que foi de 387 casos, o resultado foi positivo, pois mostra que as pessoas estão procurando mais o tratamento.

“A gente desenvolveu um trabalho de muitas qualificações neste ano e com isso foram detectadas em torno de 420 pessoas, o que consideramos um resultado muito bom, porque durante a pandemia esse número caiu muito. Para você ter uma média, em 2019 a gente tinha detectado 611 pessoas e aí quando veio a pandemia esse número caiu pela metade”, destaca.

Ela revela que recebe uma orientação do Ministério da Saúde, de que quando essa queda é muito grande, acaba sendo preocupante porque revela que as pessoas estão deixando de procurar atendimento. “Esse resultado, mostra uma detecção mais precoce e esse entendimento de que as equipes de saúde estão buscando mais, estão encontrando mais, então o ideal é justamente que você encontre essas pessoas, que você trate essas pessoas para quebrar a cadeia de transmissão”, enfatiza Anna.

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica causada pelo bacilo Mycobacterium leprae. E sua transmissão é realizada por meio das vias aéreas (secreções nasais, gotículas da fala, tosse, espirro) de pessoas que não estão em tratamento. Durante muitos anos a doença foi vista com bastante preconceito, as pessoas eram conhecidas como “leprosas” e deviam ser isoladas da sociedade, sendo enviadas para tratamento em leprosários. 

Até a década de 40, o tratamento desses pacientes ainda era realizado nesses estabelecimentos onde recebiam um medicamento fitoterápico natural da Índia, o óleo de Chaulmoogra. Hoje a doença tem cura e o tratamento é oferecido de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Brasil. Além disso, se tratada de forma precoce a pessoa pode viver normalmente sem desenvolver nenhuma sequela.

A hanseníase atinge geralmente a pele e os nervos periféricos podendo causar lesões neurais devido ao seu alto poder incapacitante. Para fins de tratamento, ela pode ser classificada em: Paucibacilar, ou seja, quando a carga bacilar é menor, com até cinco lesões na pele e Multibacilar, quando a pessoa apresenta mais de cinco lesões.

 “O ideal é que as pessoas   procurem a unidade de saúde do seu bairro, enquanto as lesões estão no estágio Paucibacilar, que é quando ela ainda tem uma carga muito baixa”, ressalta Anna.

De acordo com Francilidia Helena, médica dermatologista, o principal sintoma é o aparecimento de manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas, em qualquer parte do corpo, com perda ou alteração da sensibilidade. O diagnóstico pode ser feito através de um exame clínico ou laboratorial. “A a gente faz desde o diagnóstico clínico, que a gente avalia o paciente, depois a gente faz a variação da lesão através da estesiometria. Então, se o paciente não sente essa mancha, já é um grande indício”. A partir disso, ela conta que é feita uma baciloscopia, que é um exame que vai investigar se o paciente acusa para baciloscopia positiva ou negativa.

“Existem três fatores que diagnosticam um paciente com hanseníase. Ele tem que ter ou não a baciloscopia positiva, ou uma lesão que seja realmente anestésica. Ou seja, se o paciente tem uma lesão de pele com uma lesão de hanseníase, ou se ele, na verdade, tem a necessidade de fazer uma poliquimioterapia. Mas o diagnóstico a gente faz clínico junto com a baciloscopia. Existem, na verdade, alguns casos que a gente precisa lançar mão de biópsia, mas é raro. Com a clínica e a baciloscopia a gente consegue diagnosticar 95% dos casos”, afirma a médica.

A médica explica que após confirmado o diagnóstico, o tratamento é feito de acordo com a análise clínica do paciente, bem como, dos resultados dos exames laboratoriais, especialmente a baciloscopia. “Então o paciente que tem a baciloscopia positiva e tem várias lesões no corpo, a gente faz o tratamento durante um ano. E pacientes que têm a baciloscopia negativa, poucas lesões, a gente faz o tratamento durante seis meses”.

Para tratar o paciente, é feita uma associação de três antibióticos (rifampicina, dapsona e clofazimina), usados de forma padronizada e orientada por um médico.

SUS oferece atendimento totalmente gratuito

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O tratamento da hanseníase pode ser feito de forma gratuita através do SUS. Para isso, é necessário que a pessoa que está com suspeita procure a Unidade Básica de Saúde (UBS) do seu bairro para iniciar o acompanhamento. E caso não consiga atendimento na UBS, o paciente deve procurar a rede hospitalar referenciada. Em João Pessoa, o Complexo Hospitalar Clementino Fraga é referência no atendimento a esse tipo de doença.

“O ideal é que esse paciente procure a Unidade Básica de Saúde, o postinho, ele não precisa procurar o Clementino Fraga. Embora ele seja o hospital de referência, o ideal é que lá sejam atendidos somente os casos com maior necessidade, ou seja, aqueles que a Unidade Básica de Saúde não conseguiu resolver. Como o diagnóstico da hanseníase é clínico, ele pode ser feito na UBS. O médico vai fazer a avaliação daquela manchinha onde está com diminuição de sensibilidade, a partir desse teste ele faz o diagnóstico e faz a solicitação do tratamento à sua secretaria municipal e notifica o caso. Com isso, a secretaria municipal faz essa solicitação ao Estado. É garantido esse tratamento até o final do tempo previsto”, informa Anna Stella.

Por ser um tratamento um pouco longo, muitas vezes, as pessoas acabam desistindo ou abandonando a terapia. Por isso é extremamente importante fazer o acompanhamento do paciente. Anna Stella explica que o Estado realiza um serviço de busca ativa desses pacientes, onde eles são acompanhados por profissionais de saúde, que o incentivam a manter o tratamento.

“Como em média o tratamento dura de seis a doze meses, aquela pessoa precisa ser acompanhada mensalmente pela equipe da Unidade Básica de Saúde para garantir que esse paciente chegue à cura. A gente sabe que num tratamento muito prolongado e às vezes é comum esquecer de tomar a medicação, então a equipe de saúde, estando mais próxima desse paciente, tem a possibilidade de garantir que ele tome diariamente seu medicamento e possa chegar à cura”.

Pacientes participam de grupo de autocuidados

Segundo Lidiane Gonçalves, assessora de comunicação do Clementino Fraga, os pacientes que são encaminhados para o hospital, geralmente aqueles considerados casos mais complicados - que precisam de um cuidado mais delicado ou que tenha algum tipo de alergia ou alguma contra-indicação ao tipo de medicação -, são acompanhados por uma equipe multidisciplinar. Bem como, participam de um grupo de autocuidados onde dividem suas experiências com pessoas que também estão passando pelo mesmo problema.

“Quem está fazendo o tratamento volta uma vez por mês para pegar a medicação e passar pela consulta com a enfermagem, porque pode ser que tenha alguma complicação. Além disso, eles participam de um grupo de autocuidados, onde eles se reúnem uma vez por mês, sempre na primeira quarta-feira do mês, para falar sobre suas experiências, sobre os autocuidados mesmo e as experiências que eles têm com pessoas que tiveram hanseníase”.

Outra coisa que o hospital tem disponível para esse público é uma oficina de calçados, onde são confeccionados calçados especiais para quem está fazendo o tratamento ou com sequelas da doença. Lidiane lembra ainda que a doença não pega pelo contato ou usando os mesmos objetos. E que após iniciado o tratamento com a administração da primeira dose do medicamento, a transmissão já é bloqueada.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 31 de de dezembro de 2023.