Tricampeão em Paralimpíadas, recordista mundial e atleta paralímpico mais rápido do mundo: todos esses títulos são válidos para se referir ao paraibano Petrúcio Ferreira. Porém, a expressão que melhor define o homem que desembarcou na tarde de ontem, no Aeroporto Internacional de João Pessoa, é a de “manteiga derretida”. O velocista, campeão dos 100 m rasos T47 em Paris, chorou ao rever a família, os colegas de treinamento e os amigos, que prepararam uma recepção calorosa para ele e para seu treinador, Pedro Almeida, que retornou da capital francesa no mesmo voo.
“Eu estou na minha terceira Paralimpíada e volto para casa com a sensação de dever completo. Isso para mim é muito gratificante. Estar longe de casa não é fácil e dá saudade, mas, quando você chega e vê todo mundo reunido, não tem como segurar a lágrima. Porque isso é uma paixão que eu tenho hoje, o esporte me move. E voltar para casa e ver o sorriso de toda a família não tem preço. É a conquista maior, além da medalha”, declarou o atleta.
A esposa de Petrúcio, Marta Barros, estava na comitiva que recebeu o velocista. Antes da chegada do atleta, a expectativa era alta pelo reencontro, após semanas conversando apenas por chamadas de vídeo. “É um orgulho muito grande recebê-lo em casa pela terceira vez, campeão pela terceira Paralimpíada seguida, e nós vamos festejar os feitos dele. Só tenho gratidão”, afirmou.
Superação
A conquista do terceiro ouro consecutivo veio depois de um período difícil. Petrúcio se classificou à final da classe T47, para atletas com amputação nos membros superiores, apenas com o sétimo melhor tempo das semifinais, mas superou seu próprio desempenho para se tornar campeão. “Nesse ano, eu me peguei me cobrando muito, não era uma cobrança do treinador nem da família. Eu passei por várias lesões e, como falo sempre, o atleta tem muitas dúvidas no seu dia a dia e enfrenta muitos medos. E um dos maiores medos é de trabalhar, mas, na hora, não dar certo. Mas, graças a Deus, deu certo”, comemorou.
Deu tão certo que ele já planeja brigar pelo ouro nas Paralimpíadas de Los Angeles, em 2028. Petrúcio terá folga nos próximos dias, mas, quando retornar, ele e Pedro Almeida — ou Pedrinho, como é mais conhecido — definirão as estratégias para o próximo ciclo. O velocista já adiantou, contudo, que pretende se dedicar melhor à disputa dos 400 m rasos nos próximos Jogos, prova em que não foi finalista em Paris. “Essa é uma prova que eu dificilmente treino e normalmente só corro em Paralimpíadas. Agora, eu participei, mas não estava 100% e não consegui dar uma boa sequência de treino para ela. Mas, quem sabe, para 2028, Petrúcio comece a trabalhar mais a ideia de correr os 400 m”, adiantou.
Formação vitoriosa
Petrúcio não foi o único paraibano treinado por Pedrinho que conquistou medalhas em Paris. Além dele, Cícero Nobre foi bronze no lançamento de dardo F57, para competidores que usam cadeiras de rodas; e Joeferson Marinho tornou-se medalhista de prata nos 100 m rasos T12, para velocistas com baixa visão. Joeferson, aliás, havia terminado a final em terceiro, mas subiu de posição após a desclassificação do campeão, decisão confirmada quatro dias depois da realização da prova. Contudo, como o atleta voltou para o Brasil mais cedo, coube a seu treinador trazer a medalha prateada. O peso a mais na mala, porém, não chega perto do orgulho sentido por Pedrinho.
“A gente tinha uma expectativa, pelo desempenho que vinham obtendo nos treinos, de que os três viessem com o ouro. Mas a prata de Joeferson e o bronze de Cícero nos honram tanto quanto o ouro, porque foi muito desprendimento da minha parte e da parte deles. O sonho de todo mundo é estar no pódio, e esse sonho a gente realizou”, celebrou o treinador.
Quem também sonha com um futuro de conquistas é o velocista Rickelme Oliveira, colega de treinamento de Petrúcio e corredor dos 100 e 200 m olímpicos. Ele estava na comitiva que recebeu o atleta no aeroporto. “É uma sensação incrível estar ao lado de um campeão paralímpico e mundial. A gente fica muito feliz em ver como é a rotina dele, e eu sempre falo que ele é uma inspiração para mim. Eu o vejo treinando todos os dias e me dá vontade de treinar mais e mais”, contou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 11 de setembro de 2024.