Um projeto que vem sendo desenvolvido há dois anos e tem promovido inclusão de crianças com autismo terá a última edição do ano no próximo dia 17 de dezembro, às 14h, no Centro Cultural de Mangabeira. O Tardezinha Inclusiva, que integra o programa “Somos Capazes” iniciativa da parceria da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) da Prefeitura de João Pessoa com a Associação Paraibana de Autismo e com a Fundação Centro Integrado de Apoio à Pessoa com Deficiência (Funad), estimula o desenvolvimento cognitivo e social de crianças autistas por meio da arte, manifestado pela dança e pela música.
A musicista Nik Fernandes, que também é autista e mãe de uma criança autista, coordenadora do projeto, que integra o calendário cultural da capital paraibana, explica que o projeto além de levar inclusão, permitindo o desenvolvimento e a apresentação de arte por pessoas com autismo, também presta apoio por meio de suporte nas áreas jurídica e de psicopedagogia para as famílias.
“Muitas dessas crianças os próprios pais não acreditavam [no desenvolvimento] na participação do projeto, e hoje essas crianças estão no palco, se apresentando, cantando, dançando balé, fazendo arte. Uma mãe disse uma vez, durante a apresentação, que a filha não iria conseguir subir no palco. Cantamos uma música de Roberto Carlos, que foi ensaiada, e essa criança tirou o abafador do ouvido e subiu no palco comigo porque eu sempre acreditei que era capaz. Muitas vezes o preconceito vem de dentro da família”, disse Nik.
Ainda de acordo com a coordenadora do projeto, esse preconceito vindo de dentro de casa, às vezes, vem de um cuidado excessivo que a mãe ou o pai tem com relação ao filho atípico. “A gente tem que saber lidar, tratar de uma forma mais real, deixar desembrulhar o pirulito, deixar arranhar o joelho, para que eles possam vivenciar as dores e as delícias que a vida tem”, completou.
As apresentações acontecem desde 2021, sempre no último domingo de cada mês, com exceção dos meses de junho e dezembro, por conta dos festejos de São João e do Natal. Nik Fernandes relembrou que as crianças atípicas não tinham nada para fazer até a criação do projeto, uma luta que ela mantinha há mais de 30 anos para encontrar apoio.
“Vinha batalhando por apoio gestão por gestão e, graças a Deus, a gestão atual, ela é uma gestão humanizada em termos de socialização, de humanização, de ter um olhar diferenciado. A gente tem uma grande parceira que é a Prefeitura de João Pessoa, que acredita e aposta muito nesse projeto, que é lindo demais”, finalizou.
João Pessoa é a única cidade do estado que apoia um projeto mensal de suporte às crianças com autismo ou atraso cognitivo por meio da arte, uma forma de terapia por meio da cultura, permitindo que a realidade seja desenvolvida pela criança, promovendo desta forma a independência dos terapeutizados.
“A gente que tem um filho com deficiência tem que segurar na mão da cultura e puxar porque a cultura realmente consegue ser uma aliada maravilhosa. Eu, como mãe de autista, mesmo sendo mãe atípica, um dia vou embora. A gente não é eterna. Então temos que criar os nossos filhos realmente para a realidade, para não ficar encapsulando, prepará-los para a maravilha da vida”, concluiu Nik Fernandes.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 23 de novembro de 2023.