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Acidentes de TRÂNSITO

Trauma da capital recebe mais de 2,8 mil vítimas

publicado: 20/05/2024 08h53, última modificação: 20/05/2024 08h53
Número de pacientes cresceu 2,09% entre os primeiros trimestres de 2023 e 2024
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Usuários de motos lideram ranking de vítimas de acidentes | Foto: Leonardo Ariel

por Daniel Abath*

Dados do Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena sobre acidentes de trânsito apontam para um cenário alarmante nos primeiros meses do ano, em João Pessoa. Somente em março foram atendidas 788 vítimas de acidentes envolvendo moto; 63 vítimas de acidentes com carro; 77 de bicicleta; e 58 de atropelamentos, totalizando 986 pacientes. Em março do ano passado, foram 911 vítimas. Ou seja, houve aumento de 8,23%.

O comparativo entre os meses de março de 2023 e 2024 mostra que houve redução no número de vítimas de atropelamentos — de 85 para 58 (31,77%). Por outro lado, subiram os números de vítimas de acidentes com motos — de 705 para 788 (11,77%) — e bicicletas — de 58 para 77 (32,75%). Tanto em março de 2023 quanto em março de 2024, o Trauma de João Pessoa atendeu a 63 vítimas de acidentes envolvendo carros.

 Balanço trimestral

Ainda segundo os dados do Hospital de Emergência e Trauma da capital, houve aumento de 2,09% no número de atendimentos no primeiro trimestre de 2024 — quando 2.831 vítimas deram entrada na unidade — em comparação com o mesmo período do ano passado — quando foram registradas 2.773.

A situação foi impulsionada pelo crescimento no número de vítimas de ocorrências envolvendo motocicletas, de 2.114 para 2.248, e bicicletas, de 183 para 222. Em contrapartida, houve redução no número de vítimas de atropelamentos — de 215 para 162 (24,66%) — e de acidentes envolvendo carros — de 261 para 199 (23,76%).

 Trânsito agitado

Carla Andréa Batista, enfermeira socorrista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) afirma, por sua observação diária, que o trânsito da capital está muito tenso e agitado, com índices de acidente que tendem a aumentar a cada dia. Ela considera que isso se deve, principalmente, à imprudência. Para ela, a direção perigosa está relacionada, geralmente, ao excesso de autoconfiança dos condutores.

“Quando se perde o medo, acaba a cautela. Estamos com uma demanda muito grande por colisões. A prevenção é fundamental; é preciso que haja um trabalho de conscientização para a educação no trânsito”, opina.

Campanha conscientiza condutores na capital

Na tentativa de diminuir essas ocorrências, a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob-JP) vem promovendo ações de conscientização para o trânsito em João Pessoa, dentro da programação do Maio Amarelo, movimento internacional voltado à conscientização em prol da redução do número de sinistros e vítimas no trânsito.

Na última terça-feira (14), a Semob-JP promoveu em sua sede, no bairro do Cristo, uma tarde de aprendizado para motogirls, mulheres que trabalham utilizando motocicletas para realizar entregas e/ou deslocamento de passageiros. O curso básico de pilotagem segura foi uma ação incluída na programação do Maio Amarelo.

Segundo dados fornecidos pelo órgão, com base no balanço do Comitê de Estudos e Monitoramento dos Acidentes de Trânsito de João Pessoa (Cemat-JP), em 2023 o Samu registrou 4.829 sinistros de trânsito na capital, entre os quais 1.168 envolveram mulheres e motocicletas, tanto como condutoras quanto como passageiras.

Daniele Celestino, de 32 anos, participou do curso e contou que, há cinco anos, pilota motocicleta para trabalhar. Ela avalia que ainda há falta de respeito dos condutores em relação às mulheres no trânsito. “Acho que não somos respeitadas e acredito que essa realidade só mudará a partir da educação de todos”, diz.

A enfermeira Carla Andréa confirma que o índice de acidentes envolvendo mulheres motociclistas aumentou bastante. “O número de mulheres que usam moto aumentou muito, pelo fato de ser um transporte rápido. Colisões de moto com moto, coisa que antigamente a gente não via muito, agora têm acontecido constantemente. Em um plantão de 12 horas, é comum ter três ou quatro atendimentos por viatura”.

Ciclistas reclamam de má sinalização e imprudência

O técnico em Informática e estudante da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Leonardo Silva usa bicicleta há mais de 10 anos, para ir ao trabalho e às aulas. Como ciclista, ele considera precária a sinalização de trânsito nas vias da capital e classifica como imprudente o comportamento dos motoristas da cidade.

“Acho que carece um pouco de consciência dos motoristas em relação aos ciclistas. Falta sinalização onde tem ciclovias, principalmente. Tem lugares em que elas estão sinalizadas e dá para ver, mas tem lugares que quase não dá para ver que tem uma ciclovia”, reclama.

O estudante afirma que já se envolveu em alguns acidentes de trânsito enquanto pedalava em direção à universidade. Leonardo aponta que há uma situação recorrente e propícia a acidentes em locais onde os motoristas deveriam dar preferência aos ciclistas.

“Às vezes, tem a sinalização e fica aquele impasse: a minha via está liberada e para o outro está dizendo ‘pare’, só que aí eu vou avançar, e a pessoa que está no outro sentido do trânsito avança também. Acontece muito isso. Há uns dois anos, um carro amassou um pouco o pneu da minha bicicleta e eu tive uma escoriação na perna. Em Cabedelo, já passei por uma situação parecida, também pela falta de sinalização adequada e de conscientização por parte dos motoristas”, conta Leonardo.

História positiva

Na contramão das estatísticas alarmantes, o sorveteiro José Amilton da Silva faz uso de motocicleta como meio de transporte há mais de 20 anos e nunca sofreu qualquer acidente no trânsito. Seguindo as recomendações do Maio Amarelo, ele diz que costuma ter prudência na hora de pilotar a sua moto, prezando por uma atitude preventiva em relação aos demais condutores.

“O importante é a gente andar atento. Às vezes, você pega uma complicação de repente, alguém atravessa na frente e você tem que ter atenção, andar devagar, com cuidado. Graças a Deus, nunca sofri nenhum acidente de moto, por andar devagar”, diz José. por viatura”.

Saiba Mais

Como agir ao presenciar acidente

O Samu recomenda que a primeira coisa a se fazer é ter a consciência de prestar o atendimento, observando se a cena está segura para não causar outro acidente. Além disso, deve-se analisar se a vítima está consciente e orientada.
“Às vezes, quando o cidadão cai, há escoriações, há suspeita de fratura, mas o paciente está consciente e pode verbalizar. Então, o nível de consciência é extremamente importante. E não remover a vítima, porque às vezes isso causa outras lesões”, alerta a enfermeira Carla Andréa.
A curiosidade dos condutores não envolvidos no sinistro também deve ser evitada, pois, além de aumentar o congestionamento no entorno do acidente, também dificulta o acesso das ambulâncias e dos profissionais de saúde ao local para prestarem os primeiros socorros às vítimas.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de maio de 2024.